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Crítica | Menino Maluquinho 2 – A Aventura

A tentativa frustrante de mostrar uma infância “mágica”.

por Arthur Barbosa
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Após o grande sucesso de Menino Maluquinho – O Filme, criou-se uma enorme expectativa em relação a uma possível continuação do longa, a qual ocorreu, em 1998, com o filme Menino Maluquinho 2 – A Aventura. Contudo, infelizmente, esse desdobramento foi frustrante, decepcionante e, de certa forma, irrelevante. Posso até estar sendo um tanto redundante nas palavras, mas o contexto da magia apresentado na história fez com que “o feitiço virasse contra o feiticeiro”, ainda mais após duas grandes mudanças que ocorreram dentro e fora das câmeras. No caso da primeira, destaca-se a saída de Helvécio Ratton (Em Nome da Razão) da direção e a entrada de Fernando Meirelles (reconhecido diretor de Cidade de Deus) e de Fabrizia Pinto (Olhar Indiscreto) — filha do cartunista Ziraldo. Já na segunda mudança, o avô paterno do Maluquinho foi o senhor Tonico, interpretado pelo ator Stênio Garcia, em função de Luiz Carlos Arutin, o primeiro avô (materno, no caso), ter falecido em 1996.

Essas características culminaram em escolhas narrativas nada envolventes, e sim desanimadoras. Ao invés de continuarem a trama nos mesmos moldes do primeiro filme, a produção resolveu ambientar a história nas férias do mês de julho do Maluquinho em um outro interior: na casa do avô Tonico. Inclusive, a maior parte das filmagens ocorreram no pequeno distrito de São José das Três Ilhas, pertencente ao município de Belmiro Braga (MG), na Zona da Mata mineira, com cenas ainda rodadas na Gruta do Maquiné, localizada em Cordisburgo (MG) e nas cidades de Tiradentes (MG) e de Juiz de Fora (MG). O encanto das casas charmosas e coloridas da Rua Congonhas, por exemplo, localizada na capital belo-horizontina, mais especificamente no bairro Santo Antônio, não foi mostrado, sendo uma falta significativa nessa continuação cinematográfica medíocre. 

Entretanto, apesar da tentativa de retratar um certo contexto de mais ação — vide o termo “A Aventura” no subtítulo –, houve a perda da alegria e da pureza infantis exemplarmente retratadas no primeiro filme. Além disso, na nova trama, Maluquinho e seus amigos — Lúcio (Cauã Bernard Souza), Juninho (Samuel Brandão), Nina (Fernanda Guimarães) e, principalmente, o Bocão (João Romeu Filho) — decidem ajudar o Tonico, um senhor metido a inventor, a enfrentar o Prefeito Costa (Nelson Dantas de Policarpo Quaresma, Herói do Brasil), pois ele reluta a liberar verba para a festa de 100 anos da cidade. Ele foi um vilão caricato, sem aquele sentimento despertado nos espectadores de amor e ódio ao personagem.  

Em meio a isso, tivemos outro personagem importante, mas incoerente: o Tatá-Mirim, ou simplesmente, Tatá, uma pequena chama de fogo. Ele ficou perambulando pela cidade e, em meio a isso, também fez uma forte amizade com o Maluquinho.  Todavia, apesar das cenas icônicas da explosão da pipoca e da lona do circo sendo levantada, não consegui identificar qual era o objetivo do Tatá-Mirim ao longo da trama. Seria interessante se ele fosse uma lenda da cidade ou pertencente a uma maldição do centenário da cidade, e não ir embora ao lado de Tatá-Miguel (Antônio Pedro de Um Menino Muito Maluquinho), em função de sua espécie de “energia” estar sendo reduzida ao longo do tempo. Nem o show de fogos de artifício – comandados pelas mãos do Maluquinho – conseguiram encantar a história nas cenas derradeiras, que era para ter sido o ápice do filme: a tão sonhada festa de fogos da cidade.

O longa tentou mostrar uma aventura repleta de magia e de mistério, mas ele tornou-se escuro, sem cores e sem brilho. Em certo momento, pensei que se tratava de um enredo de terror, já que os aspectos infantis exemplarmente retratados no primeiro filme lançado em 1995 não foram desenvolvidos na nova história. Inclusive, pelo fato de ter sido uma continuação, deveria ter ao menos uma menção à história antecessora, mas, além do personagem principal, só tivemos a panela na cabeça dele, a qual estava furada com umas mágicas nada extraordinárias. Ademais, a charmosa e a contagiante canção música-tema na voz do amado Bituca, o cantor Milton Nascimento, não se fez presente; aliás faltou uma canção especial para ser destaque de forma a relembrarmos do filme quando ela embalasse a nossa playlist do Spotify ou a programação de alguma rádio, por exemplo.

Menino Maluquinho 2 – A Aventura foi uma aventura sem sentido, com um roteiro bagunçado, repleto de inconsistências, as quais não estavam presentes no Menino Maluquinho – O Filme. Em vez de o Maluquinho ser o “maluco” da história – justamente por ter sido uma história inventada pelo personagem para encantar as coleguinhas do colégio -, o filme se tornou o “maluco” e, em função disso, a produção pode ser considerada esquecível no catálogo de qualquer serviço de streaming em que ele possa um dia estar disponível. Infelizmente, por mais que “A Aventura” tenha tido a participação do Ziraldo em algumas cenas, interpretando o delegado da cidade, faltou o lúdico, a alegria e a poesia da criança brasileira.

Menino Maluquinho 2 – A Aventura | Brasil, 1998
Diretores: Fernando Meirelles, Fabrizia Pinto
Roteiristas: Fabrizia Pinto, Daniela Thomas
Elenco: Samuel Costa, Stênio Garcia, João Romeu Filho, Cauã Bernard Souza, Fernanda Guimarães, Ziraldo, Martha Overbeck, Fernando Alves Pinto
Duração: 90 minutos (01h30)

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