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Crítica | “MDNA” – Madonna

por Leonardo Campos
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Quando MDNA surgiu na esteira da música pop em 2012, Madonna estava exausta por conta do envolvimento com a direção/produção do drama W.E – O Romance do Século, espécie de versão feminina do drama que envolveu os mesmos criadores do enfadonho O Discurso do Rei. Na época de lançamento, Madonna afirmou sentir “que as músicas no rádio atualmente têm uma qualidade homogeneizada”, o que a fez se esforçar bastante “para não tentar soar como todo mundo”. Diante da árdua tarefa, será que a divindade pop conseguiu?

Para a trajetória, Madonna reuniu um time de produtores e o resultado foi o polêmico MDNA, controverso já em seu título, tendo em vista a brincadeira com a droga MDMA. O trocadilho na verdade era com o seu nome, mas a mídia e a postagem de alguns artistas nas redes sociais alimentaram as discussões que só fizeram o interesse pelo álbum crescer vertiginosamente. Acompanhado por uma grandiosa e até cansativa agenda publicitária, algo que às vezes prejudica a qualidade artística de muitos trabalhos na cultura pop, MDNA traz Madonna a retomar alguns dos seus temas anteriores, sem o mesmo impacto, mas ainda magnetizante e cheia de energia no auge dos seus 53 anos, uma conquista a ser considerada ao refletirmos sobre a presença de uma mulher na cultura pop.

Com o lançamento em 2012, a crítica especializada se dividiu diante de MDNA, décimo segundo álbum de estúdio, mas o saldo, como em quase todos os trabalhos da artista, foi bastante positivo no que tange aos meandros comerciais. O material não superou Confessions On a Dance Floor, mas era melhor que Hard Candy. Talvez a ideia também não fosse a superação, mas fazer algo “de novo”, “mais uma vez”, continuar relevante e trabalhando, tendo em vista o cenário repleto de novas tendências e concorrentes para todos os lados.

Em seus 51 minutos e 54 segundos (a edição padrão), o álbum possui diversos estilos musicais justapostos ou dispersos pelas doze faixas, com ênfase, entretanto, no pop e no EDM (eletronic disc music), gênero conhecido por sua origem diante da fusão entre a disco music e a dance music dos Estados Unidos, em simbiose com o impactante trabalho do Kraftwork, grupo musical alemão com sonoridade eletrônica repleta de especificidades. Com canções que falam liricamente de amor, desgosto, vingança, traição, arrependimento e outros sentimentos que gravitam em torno da condição humana, o álbum teve produção executiva de Madonna, direção de arte de Giovanni Bianco, produção musical de William Orbit, Martin Solveig, The Demolition Crew, Michael Malih, Benny Benassi, este último, sem fluência em língua inglesa, acompanhado do primo Alle Benassi, que funcionou como tradutor, e por sua vez, também como produtor.

Com sonoridade mista, cuidadosamente guiada por trompas, clarinetes, violoncelos, guitarras, harpas, baixo, percussão e sintetizadores, MDNA teve Klaus Ahlund, The Koz, Nicki Minaj e Lola Leon como vocais de apoio. Girl Gone Wild é a empolgante faixa de abertura, bem parecida com Hung Up, tanto na proposta quanto no gancho musical. A entrada faz uma referência ao excelente tom de Like a Prayer, numa composição liricamente média de Madonna, juntamente com Jenson Vaughan. A faixa flerta com os desejos ardentes de uma garota selvagem, frenética e dona de si. Com sonoridade próxima ao eletropop e ao dance, a canção também traz elementos do ritmo four-on-dance-floor, conhecido por seus tambores que batem para cada nota, bem como pelos tons que ecoam elementos derivados dos estilos house e techno.

Give Me All Your Luvin é uma faixa bem dançante, mas bastante fraca. Talvez tenha sido o momento que Madonna exclamou “quero apenas me divertir, sem nenhuma preocupação a mais que isso”. Composta por Madonna, em parceria com Solveig, Nicki Minaj e Maya Arulprogasam, a faixa traz as participações das rappers Minaj e M.I.A e ecoa elementos do synthpop, subgênero da música new-wave, conhecida pela proeminência dos sintetizadores. Turn Up The Radio é a canção saudosista dos anos 1980. Com ritmo dance-pop, a faixa assinada por Madonna, em parceria com Jade Williams e Michael Tordjman, pede ao ouvinte que entre na dança e se rebele, aumente o volume do rádio e esqueça os seus problemas, mas também traz uma reflexão sofisticada sobre mudanças necessárias na vida de qualquer pessoa. É um single muito bom do álbum.

Masterpiece, no entanto, é a pérola do álbum. Composta por Madonna, em parceria com Julie Frost e Jimmy Harry, a canção liricamente fala sobre a dor de uma pessoa amar alguém tão perfeito quanto uma obra de arte canônica. Com arranjo que nos mergulha numa dimensão musical latina, a faixa é acompanhada por ótima percussão, violões e cordas bem equilibrados e um dos melhores vocais de Madonna nos últimos anos. Ganhadora do Globo de Ouro de Melhor Canção Original na cerimônia realizada em 2012, a música é encantadora e talvez o melhor momento de todo o álbum.

MDNA também tem outros momentos que vão do interessante ao banal. Gang Bang trata de uma mulher vingativa que detona o parceiro com um tiro na cabeça. A faixa teve indireta de Madonna para Tarantino na mídia, quando questionada por um jornalista sobre o conteúdo da canção, aparentemente semelhante aos filmes do cineasta. Ela deixou a proposta em aberto para um videoclipe, mas a faísca não promoveu nenhuma parceria, o que seria bem interessante. Musicalmente desinteressante, a memória auditiva talvez fosse mais grata se tivéssemos uma oferta visual memorável.

Essa é uma daquelas faixas que nós pulamos quando estamos curtindo o álbum de forma seletiva, seguida de outras composições medianas, dentre elas, I’m Addicted, faixa que nos embala com sonoridade próxima ao eurodance; Some Girls traz Madonna a listar diferentes tipos de garotas; Love Spent versa sobre uma mulher que ama o seu marido tal como o próprio dinheiro; I Don’t Give A é razoável e retoma o estilo hip-hop do álbum anterior; Superstar trata de uma namorada que admira bastante seu companheiro e o compara a homens famosos da história, dentre os descritos, Al Capone e John Travolta, tudo isso ao ritmo do dance-pop; I’m a Sinner é uma divertida e irônica faixa adornada por uma atmosfera country, mesclada ao rock and roll, com Madonna a solicitar ajuda de diversos santos em sua trajetória de pecadora; e Falling Free, uma gélida e bela canção sobre a exaltação do amor e a conquista da liberdade.

O material de MDNA começou a ser divulgado numa suntuosa apresentação da cantora no Super Bowl, para alguns meses depois, ser parte da turnê homônima, espetáculo que viajou o mundo em 2012 e teve algumas apresentações no Brasil. Não é o melhor trabalho da artista, mas é fruto de uma cultura saturada de cantoras fabricadas cotidianamente e de uma mulher que durante três décadas, já experimentou bastante coisa, o que torna a tarefa de inovação algo praticamente impossível. Como a cultura pop é ligada diretamente aos conceitos de reciclagem e ciclos repentinos e frenéticos, fica cada vez mais difícil para Madonna manter o seu posto, no entanto, ela ainda consegue. Numa era de “Britneys” e “Arianas”, a rainha do pop ainda é Madonna.

Aumenta: Masterpiece.
Diminui: Gang Bang.

MDNA
Artista: Madonna
País: Estados Unidos.
Elenco: 23 de março de 2012.
Gravadora: Live Nation,  Interscope.
Estilo: Pop e EDM.

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