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Crítica | Mayans M.C. – 5X10: Slow to Bleed Fair Son

Encontro de contas.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

Como tive a oportunidade de afirmar algumas vezes em críticas anteriores, Elgin James vinha deixando muita coisa para ser resolvida nos episódios finais da derradeira temporada de Mayans M.C., mas que era necessário, por uma questão de justiça, esperar Slow to Bleed Fair Son para, em retrospecto, bater o martelo sobre o aparente problema que o showrunner parecia estar criando para si próprio. E, para já resumir a ópera, o capítulo final da saga de EZ Reyes de prospect a presidente do clube de motocicletas de Santo Padre faz o que pode para correr atrás do prejuízo e entrega grandes e inesquecíveis momentos que têm sua qualidade relativizada por uma consideravelmente irritante convergência narrativa – que nem é tão convergente assim, se quisermos ser sinceros – que depende sobremaneira de conveniências de roteiro para funcionar em termos dramáticos. O saldo é positivo como minha avaliação deixa clara, mas tenho para mim que a série teria se beneficiado tremendamente de um equilíbrio maior ao longo da temporada que não encurralasse suas linhas narrativas em alguns poucos minutos, levando a um final mais fluido.

Entendo perfeitamente que o objetivo de James foi o de criar as circunstâncias para que tudo chegasse aos seus momentos climáticos em apenas uma noite, mas eu diria que essa sua ambição foi, também, sua perdição. Afinal, fazer com que Emily executasse seu plano de matar o marido e seu guarda-costas quando Miguel tinha que testemunhar perante uma salivante Patricia Devlin e, por outro lado, entregar de bandeja uma testemunha que permitisse que Lincoln Potter exterminasse os Mayans, tudo em um intervalo curto de horas, esgarçou demais os encaixes narrativos. Fica sem dúvida bonito quando isso é organicamente possível dentro de uma obra audiovisual (o final de O Poderoso Chefão me vem imediatamente à mente quando penso em algo assim), mas é necessário muita categoria para que as mãos e os fios do marionetista não apareçam muito claramente nas cenas, arrancando o espectador do realismo almejado.

E o mais frustrante é que os dois momentos que usei acima como exemplos – há outros, como Letty sendo usada como a suprema conveniência para resgatar a cadela de EZ e pedir abrigo novamente para as mulheres do Broken Saints – são conceitualmente excelentes. O plano de Emily, que ela começa a construir quando percebe que simplesmente sair correndo do supermercado com o filho jamais daria certo, é bem engendrado e bem executado, ainda que ele pudesse ficar ainda melhor se ele tivesse começado mais no início da temporada. E pegar os Mayans pela morte de Jesse é como pegar Al Capone por evasão fiscal, mas também aqui tudo pareceu corrido, sem a preparação necessária para um momento tão importante quanto esse, ainda que, novamente, em termos visuais a execução tenha sido primorosa.

O que ficou de fora do episódio também chateia. Não sou um chato de galochas que exige que todas as linhas narrativas sejam detalhadamente resolvidas ao final de uma série, mas há algumas coisas que Elgin James inseriu na temporada desnecessariamente que ele simplesmente esqueceu de abordar novamente, como é o caso da tal figura materna do Broken Saints. Se não era o objetivo dele trabalhar o assunto, então que sequer o mencionasse. O mesmo vale para Letty e todo o drama dela com Hope que, se olharmos para trás, perceberemos que só serviu para aumentar a minutagem de alguns episódios. Afinal de contas, se a função da personagem era só permitir que Isaac destruísse o laboratório dos Mayans, havia muitas outras maneiras de se alcançar o mesmo objetivo sem usar a personagem para que ela, ao final, acabasse como resgatadora de cachorro. E o que dizer de Wendy Case, que apareceu no episódio anterior para fazer fan service e teve toda sua existência ignorada aqui? Eu até compro que sua função foi criar aquele fio de esperança sobre EZ, mas, do jeito que ela não foi sequer mencionada ou lembrada no final, foi como se ela não existisse.

Mas como então eu dei a nota que dei ao episódio, alguns podem perguntar. E é uma pergunta justa.

E a resposta é simples: mesmo com problemas, é evidente que Elgin James não traiu sua série em momento algum e era muito fácil – muito fácil mesmo – ele escapulir por saídas fáceis e “doces”. Ele pode ter errado em como conduziu a última temporada, mas ele fez o que Mayans M.C. precisava que fosse feito para que a tragédia anunciada não ficasse só no anúncio. Seu primeiro grande acerto foi como ele trabalhou o final da guerra entre os Mayans e os Sons de San Bernardino. Nada de focar nisso. Tudo o que ele fez foi mostrar um discurso motivacional de EZ para seu exército seguido de um plano sequência em terceira pessoa que segue EZ enquanto ele persegue, mata e urina em Isaac. Muita violência, mas de maneira simples e direta, sem que fosse necessário ficar chafurdando nesse lamaçal e sem transformar Isaac em um super-vilão.

Com a guerra encerrada – sim, temos que aceitar que os Sons de outros capítulos não se intrometeram depois da chacina, mas isso não é lá muito difícil, já que eles sabem que Isaac era completamente louco -, o foco volta para o que interessa, que é o fim de EZ Reyes. Sua última conexão com o irmão antecedida pela notícia (apenas para nós, espectadores) de que Sofía estava grávida, é como um beijo da morte da Máfia. Foram nesses momentos que eu finalmente tive a absoluta certeza de que James faria o que tinha que ser feito, ainda que eu não conseguisse imaginar como exatamente ele executaria o protagonista. E a cena em que isso acontece é aterradora em sua queima lenta que acelera bruscamente e faz com que Angel pague um terrível preço pela liberdade e por seu filho, preço esse que ele paga por não ter saída e que cria uma sequência absolutamente lancinante entre irmãos, aí incluídos os de sangue e aqueles que foram escolhidos como tais. Com exceção talvez de Obispo (“você não é o único que lê Shakespeare”…), ninguém ali realmente queria fazer o que tinha que ser feito, mesmo que todos, inclusive Nestor, tivessem concordado fora de tela exatamente como o plano deveria ser executado.

E a cereja no bolo foi o assassinato de Sofía pelo prospect de óculos de fundo de garrafa. Confesso que nem mesmo o assassinato brutal de Tara por Gemma me chocou tanto, pois, aqui, eu realmente não esperava que fossem eliminar a namorada de EZ a ponto de eu ter certeza de que quem havia aberto a porta do trailer era Angel justamente tentando tirá-la dali e não algo pré-planejado. Não houve luta, Sofía demorou alguns segundos para entender o que estava prestes a acontecer e seu pedido por sua vida e a de seu bebê sequer chegou a ser completado, com sua gravidez permanecendo um segredo que só nós sabemos. Diria que foi essa cena que me fez torcer para que Potter acabasse com Obispo e os demais ao final, reestabelecendo seu criminoso equilíbrio de forças em “benefício” de interesses escusos classificados mundana e ingenuamente como “bem comum”. Sim, eu torci por um bandido. Mas Elgin James me obrigou a escolher…

Slow to Bleed Fair Son é, mesmo com seus problemas, um episódio poderoso que não se desvia do que a série precisava em seu fim. Angel e Marcus se safarem por terem escolhido a família biológica é um pequeno e crível consolo em meio à chacina eterna e circular entre criminosos e entre criminosos e governos em um processo perverso e insensível de retroalimentação. Mayans chega a seu fim, portanto, forçando-nos a aceitar ou que a salvação de alguns vale a morte de muitos ou que, em um sistema falido, ninguém tem salvação de verdade. E é preciso coragem para jogar essa escolha em nosso colo, coragem essa que, ainda bem, Elgin James teve.

Mayans M.C. – 5X10: Slow to Bleed Fair Son (EUA – 19 de julho de 2023)
Showrunner: Elgin James
Direção: Elgin James
Roteiro: Elgin James, Sean Varela
Elenco: J.D. Pardo, Clayton Cardenas, Michael Irby, Danny Pino, Edward James Olmos, Emilio Rivera, Sarah Bolger, Andrew Jacobs, Stella Maeve, Frankie Loyal, Vincent Vargas, JR Bourne, Emily Tosta, Vanessa Giselle, Augie Duke, Andrea Cortés, Selene Luna, Alex Barone, Caitlin Stasey, Branton Box, Dana Delany, Luis Fernandez-Gil, Ray McKinnon
Duração: 83 min.

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