- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.
Não que já não haja mortes suficientes em Mayans M.C., mas, com a série chegando ao seu final, um grande sacrifício era inegavelmente necessário e ele não poderia ser outro que não o de Ignacio Cortina, mais conhecido como Felipe Reyes, patriarca da família Reyes vivido sensacionalmente por Edward James Olmos. Sempre quieto e com palavras sábias originadas de uma vida dura e repleta de violência e arrependimentos que o levaram ao longo caminho da redenção, Felipe morreu da maneira que tinha que morrer, servindo como o último bastião de defesa de seu neto Maverick, em um episódio que vem logo em seguida à sua despedida de seu “filho bastardo” Miguel Galindo.
Com a morte off screen de Packer que foi usada como gatilho (algo que, confesso, não adorei, mas que cumpriu sua função), um Isaac furioso sai para fazer EZ sentir a morte de um irmão, mas, não encontrando Angel, a vítima acaba sendo Felipe depois que o ex-açougueiro (nos dois sentidos) despacha pelo menos dois Sons no processo. Foi uma sequência poderosa que Elgin James trabalhou quase que completamente fazendo uso de fotografia noturna em ambiente fechado e claustrofóbico que funciona não só para mostrar que o patriarca ainda guarda sua eficiência assassina em algum recôndito profundo de seu ser, como também para dar a entender que os Reyes não tem outra saída que não a morte violenta e que Maverick talvez seja a única verdadeira luz no fim desse ciclo vicioso mortal.
Essa tragédia, que se soma à destruição da fábrica de drogas dos Mayans também pelo próprio Isaac, define a explosiva convergência narrativa final que, imagino, será o mote do derradeiro capítulo da série, com as necessárias pitadas do conflito dos representantes da lei Patricia Devlin e Lincoln Potter que finalmente retornam à temporada em rota de colisão, com o último ainda tendo a oportunidade de recrutar uma vingativa Katie para seu lado. Mesmo assim, aquela sensação que eu tive ao final de Her Blacks Crackle and Drag, ou seja, a agonia de imaginar como será difícil para o showrunner amarrar todas as pontas soltas em apenas um episódio, permaneceu aqui e só uma futura análise em retrospecto poderá – para o bem ou para o mal – concluir se a condução da temporada foi o que deveria ter sido.
Afinal, mesmo que o embate entre os clubes centrais seja algo razoavelmente visível, o mesmo não pode ser dito do futuro de Miguel com o acordo que ele faz com Patricia, pois há, ainda, o próprio cartel para ser inserido nessa equação e isso sem contar com Emily e aquela evidente insatisfação que ela ainda sente por estar presa ao seu marido. E o que falar do Padriño, de Taza, de Bishop e até mesmo do Broken Saints e a misteriosa “mãe” que foi aludida em algum episódio anterior? E a traição de EZ, que efeito terá? E como isso afetará Angel e seus colegas de clube?
E o mais angustiante é que, novamente, assim como aconteceu naquele episódio de título longuíssimo, o que vemos em I Must Go in Now For the Fog is Rising (título aliás tirado de Emily Dickinson, ao que parece) é um vislumbre positivo de futuro. Sim, sim, Felipe morreu defendendo o neto, mas é justamente esse ato que é um dos elementos que aponta para um Angel completamente mudado, especialmente depois que uma das últimas palavras que ele ouviu do pai foi uma súplica para ele impedir que Maverick ingresse nesse ciclo infinito. No lado de EZ, seu acidente retornando da sede das Broken Saints que o conecta com ninguém menos do que Wendy Case (Drea de Matteo retornando ao seu papel) tem basicamente o mesmo objetivo, ou seja, funciona como um “serviço de despertador” para que ele não adormeça na vida e perca de vista aquilo que realmente importa, além de deixar bem claro que Wendy está fazendo de tudo para que os filhos de Jax não tenham o mesmo destino do pai.
Se eu gostei da ponta providencial de Wendy no penúltimo episódio da série? Não sei ainda. Por um lado, foi “bonitinho” demais e, ao que tudo indica, conveniente para além da conta, pois não me pareça que seja Wendy a “mãe” das Broken Saints. Se ela for a tal figura materna do clube feminino, a coisa pode ganhar mais contornos. Se ela for mesmo apenas uma boa samaritana que parou para ajudar EZ e, no processo, incutiu no presidente dos Mayans algum tipo de lição valiosa que o salvará da danação eterna, diria que Elgin James pisou na bola. Mas, claro, esse é mais um aspecto de vários que teremos que colocar na pilha do “esperar para ver”, pois julgar em definitivo, agora, parece-me prematuro.
Será que o sacrifício de Felipe significa que não só seu neto, mas também seus filhos escaparão da morte? Será que Angel finalmente abandonará o clube para cuidar daquilo que importa e EZ terá a oportunidade de ter algum tipo de final feliz? Todas as jogadas são possíveis no episódio final, mas eu continuo temeroso de saídas simplificadas para uma série que tem tragédias shakespeareanas como inspiração. Só nos resta esperar uma semana!
Mayans M.C. – 5X09: I Must Go in Now For the Fog is Rising (EUA – 12 de julho de 2023)
Showrunner: Elgin James
Direção: Elgin James
Roteiro: Jenny Lynn
Elenco: J.D. Pardo, Clayton Cardenas, Michael Irby, Danny Pino, Edward James Olmos, Emilio Rivera, Sarah Bolger, Andrew Jacobs, Stella Maeve, Frankie Loyal, Vincent Vargas, JR Bourne, Emily Tosta, Vanessa Giselle, Augie Duke, Andrea Cortés, Selene Luna, Alex Barone, Caitlin Stasey, Branton Box, Dana Delany, Luis Fernandez-Gil, Ray McKinnon, Drea de Matteo
Duração: 47 min.