- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.
Como era de se imaginar, mas talvez mais rápido do que o esperado, os vislumbres de futuros felizes que o episódio anterior de Mayans nos ofereceu deixando claro que eles nunca seriam concretizados, pelo menos não todos, vieram completamente abaixo em To Fear of Death, I Eat the Stars (título retirado do poema Antidotes to Fear of Death da astrônoma e poetisa Rebecca Elson), talvez o episódio mais sanguinolento da temporada até agora e que ceifou a vida de nada menos do que cinco personagens de graus diferentes de importância (não estou contando com Sirena e os demais executados por Adelita, obviamente). É, definitivamente, o começo do fim de uma série que tem a tragédia em seu DNA.
Quando Adelita fechou a porta de casa levando sua arma e a fotografia de EZ Reyes, cujo assassinato é o preço que ela teria que pagar para Soledad finalmente deixá-la em paz, meu primeiro pensamento, que mencionei na crítica, foi que eu não gostaria que a personagem fosse a razão para um conflito familiar entre Angel e Ezequiel. Seria fácil demais, ainda que apropriadamente pesado. E, pelo visto, Elgin James achou o mesmo, pois a oferta de Soledad serviu para que Adelita adiantasse seu plano contra o cartel, mesmo claramente ciente de que provavelmente não sobreviveria.
Não sei se adorei a relativa facilidade com que ela executou seu plano e também não sei se gostei do plano em si, basicamente roubar o dinheiro do cartel para entregá-lo à Mini, a nova Adelita, que retorna à série pela primeira vez desde a terceira temporada. Por outro lado, gostei do desfecho da sequência de ação, com a reunião de Adelita com Mini que, brutalmente e sem qualquer hesitação, esfaqueia sua mentora repetidas vezes que só tem tempo de mencionar um nome: Maverick. Ainda que a morte de Adelita fosse inevitável e ela mesmo muito claramente não esperava sobreviver, Mini ser sua algoz foi uma escolha corajosa de James que mantém o ciclo da violência girando infinitamente, pois Adelita treinou sua filha postiça para ser justamente o que ela mostrou que é, uma ameaça ao cartel que tanto odeia e, como ela própria trabalhou para o cartel, mesmo tentando fazer o certo, acabou tendo o fim que, se quisermos resumir, ela mesmo determinou que deveria ter.
E essa morte é temperada brilhantemente pela ausência de Adelita na vida de Angel neste mesmo fatídico dia, com o Mayan acordando com seu filho gritando, com febre e depois de vomitar. O desnorteamento de Angel é outro excelente momento de Clayton Cardenas, seja ele pegando o filho no colo, seja achando o dinheiro debaixo do colchão do berço, seja tentando comprar remédio para Maverick, seja, depois, conversando quase que monossilabicamente com seu pai que parece perceber muito claramente o que provavelmente aconteceu. E a tragédia maior é que, diante das circunstâncias do fim de Adelita, é capaz de Angel jamais saber o que aconteceu com ela, algo que repete o que já ocorrera antes quando ela foi capturada pelo Departamento de Justiça dos EUA.
O assassinato de Creeper estava escrito nas estrelas, pois EZ não arriscaria seu desmascaramento, mesmo que, para isso, ele tivesse que aceitar um acordo financeiramente péssimo para os Mayans que o deixasse controlando as gangues de policiais e oficiais prisionais com o objetivo primário de justamente eliminar a ameaça à sua presidência. Apesar de a sequência ser completamente previsível, a tensão de EZ na cabeceira da mesa do Templo era palpável e ele mereceu suar aquele minuto enquanto Hank atendia a ligação de Creeper. Isso, aliás, mostra a fragilidade desse ecossistema que floresceu sob o comando do protagonista. Tudo é resolvido no último segundo e sua própria existência é uma constante movimentação de peças em um tabuleiro sempre em movimentação, com ele tendo que tomar decisões radicais, de vida ou morte, somente para ficar exatamente onde está. Tenho para mim que EZ já ultrapassou todos os limites que permitam um arco de redenção que não termine ou com sua morte ou com seu isolamento completo de tudo e de todos, dependendo do tamanho do banho de sangue que o showrunner planejou para os episódios finais.
Por seu turno, não esperava a execução de Jess. Essa sim me pegou quase que completamente de surpresa, pois, mesmo que ela indiretamente tenha realmente passado informação para os Sons, fato é que não houve qualquer construção anterior que nos permitisse chegar ao ponto de Hank e Nestor terem tramado a execução. Entendi a necessidade de surpresa, mas foi uma surpresa talvez conveniente demais, ocorrendo na noite anterior à saída de Creeper da solitária, em um encadeamento narrativo que esgarça um pouco a verossimilhança.
Mas tem mais. Afinal, vemos Emily matar a Senhora Buksar depois que ela ameaça separá-la de seu filho, levando-a a uma noite de sexo com o marido ou como uma forma de punição ou como o reconhecimento de que ela também não tem mais saída e precisa entregar-se ao lado sombrio. E, finalmente, descobrimos a função de Guero, o Mayan que surgiu do nada na temporada: vingar-se da morte do pai no meio do clube, depois de EZ abraçar um Diaz que entrou ali transtornado por ele ter matado Happy. Novamente, um pouco brusco demais para o meu gosto, ainda que eu tenha rido demais da cara do Bishop ao se levantar e executar Jinx só porque todos os demais ficaram paralisados pelo que aconteceu.
Do lado sem mortes do episódio, Bishop também protagonizou um momento autodestrutivo ao deixar-se pegar no flagra por Maggie e também aprendemos o que Isaac quer de Leti: infiltrá-la nos Broken Saints para que ela provavelmente sabote o laboratório de EZ. Ou seja, não há nada em Mayans que não esteja de pé como em um castelo de cartas, somente esperando a mais leve brisa para desmoronar completamente. Se To Fear of Death, I Eat the Stars é alguma pista, ainda que talvez um pouco bagunçado demais, pouca gente ficará de pé depois que Elgin James terminar sua saga.
Mayans M.C. – 5X07: To Fear of Death, I Eat the Stars (EUA – 28 de junho de 2023)
Showrunner: Elgin James
Direção: Elgin James
Roteiro: Vivian Tse
Elenco: J.D. Pardo, Clayton Cardenas, Michael Irby, Carla Baratta, Danny Pino, Edward James Olmos, Emilio Rivera, Sarah Bolger, Andrew Jacobs, Stella Maeve, Frankie Loyal, Joseph Raymond Lucero, Vincent Vargas, JR Bourne, Emily Tosta, Vanessa Giselle, Augie Duke, Andrea Cortés, Selene Luna, Alex Barone, Caitlin Stasey, Branton Box, Dana Delany, Luis Fernandez-Gil, Ray McKinnon, Melony Ocho
Duração: 63 min.