- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.
I See the Black Light parece jogar luz definitiva sobre o “traidor” no seio dos Mayans, afastando dúvidas sobre um outro além de EZ. Não que não seja possível haver outro, vejam bem, mas era importante, para fins narrativos e dramáticos, que a temporada final da série retornasse com força a esse assunto que, de certa maneira, ficou em banho maria – por vezes vindo à tona com mais relevância, sem dúvida – ao longo de toda a história, servindo como o último prego no caixão do protagonista que, se sobreviver ao plano mirabolante para dar uma rasteira no cartel Lobos New Generation, provavelmente terá que encarar seus irmãos motoqueiros em um acerto de contas.
Para fazer isso, o roteiro de Meredith Danluck retorna à primeira temporada da série e foca no legado de Kevin “KJ” Jimenez, o agente do DEA que controlava EZ e que foi morto por Angel com um tiro na cabeça no potente Cuervo/Tz’ikb’uul, último episódio do ano inaugural. Já houve indicação disso no episódio anterior, graças à investigação que Katie vem fazendo para Creeper, e, ao conversar com a viúva de KJ e ter acesso às fitas dele, ela final e inequivocamente descobre sobre EZ. O que exatamente ela fará com a informação, ou seja, se a levará indiretamente ao clube ou se a utilizará como parte de algo mais oficial diante da agência para que trabalha ainda não está claro, mas é evidente que EZ encontra-se em uma sinuca de bico de que ele dificilmente sairá incólume (porque, se sair, a série dará um tiro no próprio pé).
Falando em tiro no pé, EZ parece um trem desgovernado em sua presidência. Fica evidente que ele está desesperado para fazer com que seu clube dê a volta por cima para poder encarar Isaac e seus demais inimigos de frente com alguma chance de efetivamente ganhar os conflitos e isso afasta o EZ letrado, inteligente (genial?) que a série construiu ao longo de suas temporadas. Não estou reclamando disso, vejam bem, pois a necessidade faz a ocasião (ou o ladrão) como dizem, mas é interessante ver como ele vem agindo de maneira cada vez mais impulsiva e instintiva, sem realmente parar para raciocinar. Ainda que eu não tenha gostado da relativa facilidade com que ele obteve o fentanil para fabricar mais drogas como Cole determinou, pois ficou parecendo uma conveniência de roteiro grande demais especialmente para um iniciante como EZ, os eventos que culminam com a morte do quase figurante Lobo (alguém se lembrava dele?) são muito bem conduzidos pela direção do próprio J.D. Pardo (que, assim como seu colega Danny Pino no episódio anterior, estreia nessa cadeira em I See the Black Light), especialmente o desespero de Sofía para salvar o Mayan, sua vã esperança de que alguém ligaria para a polícia (como disse, o desespero nubla a mente) e o que isso causa pessoalmente para ela em razão da morte de sua filha e, claro, para seu relacionamento com EZ.
O que segue daí é a negociação de EZ com Johnny Panic, líder dos Broken Saints, para permitir que seu laboratório seja realocado para o quartel-general delas, o que custa o restante das armas russas antigas que os Mayans tinham (o grosso foi dado em pagamento pelo fentanil logo antes) e, claro, a colocação do grupo de mulheres motoqueiras na potencial mira também de Isaac, além do Iron War, claro. Interessantemente, uma das membras do clube pergunta à Johnny o que ela acha que a “Mãe” vai dizer sobre isso, o que imediatamente fez minha mente passear até a imagem de Gemma Teller Morrow, somente para que, no segundo seguinte, eu tenha me lembrado que ela já se foi. Seja como for, fiquei curioso para saber quem é essa tal de “Mãe”.
No lado de Miguel Galindo, as coisas caminham de maneira muito interessante. Seu arco narrativo desde o começo da série é um dos mais bem trabalhados e sua calma e relativa passividade na temporada final parece armar uma tempestade de fúria em algum momento do futuro. Afinal, fica evidente que, quando Soledad tenta colocá-lo em seu lugar, sua reação de abaixar-se até a altura dela e mansamente dizer o que pensa é uma daquelas cenas em que lemos o subtexto em letras garrafais vermelhas e nervosas pulando no topo da tela e sua conversa inteligente com o menino que viu o atentado dos Mayans no laboratório de drogas do cartel e que foi capaz de identificar Angels (só pode ser ele, não, de barba e cabelo ensebado?) parece indicar que ele tem suas próprias manobras para resolver seus problemas com um golpe só. Do lado pessoal, foi tenso ver a tentativa de fuga de Emily com seu filho, começando pelo carro que ela acha que EZ deixou para ela do lado de fora do mercado e que eu, muito sinceramente, creio que era um carro qualquer, porque seu ex-namorado simplesmente esqueceu de seu pedido, passando pela quebra da harmonia da cena com a mãe acusando-a de assassina e, depois, em uma bela e fria cena (reparem na iluminação) com ela deprimida na mesa de jantar com o espaguete à bolonhesa que, afinal de contas, ela foi mesmo obrigada a fazer.
I See the Black Light é um daqueles episódios que tem ainda muito mais coisa para abordar, seja Gilly e sua “família adotada”, ou a dolorosa, mas terna sequência de Hank na clínica de idosos onde internou sua mãe ou, claro, a violenta sequência em que vemos Adelita assassinar o líder do cartel que não queria mais fazer acordo com Miguel e Soledad e que parece dar a entender que ela também matou a menina que testemunhou seu ato (será?). Mas não pretendo tomar mais tempo de meus leitores. O que importa é que, por mais complexa que seja a teia de personagens e acontecimentos de Mayans M.C., quer parecer que Elgin James está absolutamente seguro no comando de sua série e todos os caminhos realmente parecem apontar para um fim da mais alta qualidade.
Mayans M.C. – 5X04: I See the Black Light (EUA – 07 de junho de 2023)
Showrunner: Elgin James
Direção: J. D. Pardo
Roteiro: Meredith Danluck
Elenco: J.D. Pardo, Clayton Cardenas, Michael Irby, Carla Baratta, Danny Pino, Edward James Olmos, Emilio Rivera, Sarah Bolger, Andrew Jacobs, Stella Maeve, Frankie Loyal, Joseph Raymond Lucero, Vincent Vargas, JR Bourne, Emily Tosta, Vanessa Giselle, Augie Duke, Andrea Cortés, Selene Luna, Alex Barone, Caitlin Stasey, Branton Box, Dana Delany, Luis Fernandez-Gil
Duração: 54 min.