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Crítica | Mayans M.C. – 4X04: A Crow Flew By

O incompreensível destino de Miguel Galindo.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leia, aqui, as críticas dos demais episódios.

A Crow Flew By, como Self Portrait in a Blue Bathroom, é um episódio que continua a armar o tabuleiro da temporada, algo um tanto quanto frustrante e até enervante, considerando que estamos chegando em sua metade já. A diferença, aqui, é que o relativo “tumulto” do anterior é substituído por um pouco mais de calma, mas uma calma que me pareceu dispersa, como se Elgin James estivesse distraído e pensando em alguma outra coisa, com a direção de Michael D. Olmos, filho de Edward James Olmos, à deriva, incapaz de salvar um roteiro pouco inspirado.

Afinal, depois do cliffhanger surpresa com o contador pedófilo sendo alvejado por Angel no meio do deserto, tudo o que temos é Manny terminando o serviço, o assunto sendo levado para a mesa dos Mayans, com os dois e mais EZ assumindo a culpa como uma simpática trinca de amigos de longa de data, Canche dando ataque de raiva e, depois, contando a história para El Banquero. Foi um tanto quanto burocrático dizia, um pouco de marasmo para um momento tão potencialmente quente quanto ele prometia ser. Não tenho dúvidas de que as consequências práticas do que ocorreu ainda virão, mas todo o desenrolar imediato me pareceu uma oportunidade perdida.

A revelação do paradeiro de Miguel Galindo, talvez o ponto focal do episódio, também me causou espécie porque eu não consegui comprar esse desenvolvimento sequer por um segundo. Quer dizer, então, que o milionário e todo-poderoso chefão do Cartel Galindo fugiu para um convento de freiras cuja Madre Superiora é sua tia e que ele, agora, faz trabalho braçal para compensar sua estadia (e a de seu filho mais velho) e, talvez, pagar seus pecados? Ele não tinha dinheiro guardado em algum lugar secreto e um plano de fuga minimamente decente? Ele precisar virar basicamente um boia fria barbudo chega a ser engraçado de tão improvável. E não ajuda em nada que o pessoal mal-encarado do LNG tem certeza de que ele está escondido ali, mas não tem coragem de encarar uma freira durona e arrastar seu inimigo mortal para fora.

O que Elgin James parece estar preparando é um lento retorno de Miguel em alguma capacidade, fazendo-o começar do ponto mais baixo de sua vida e, aos poucos, ir galgando os degraus da criminalidade mais uma vez. O problema maior é que eu muito sinceramente não sei se há tempo para isso de forma que pelo menos um arco lógico seja estabelecido para ele ainda neste quarta temporada. Haverá algum choque entre Miguel e El Banquero? Onde os Mayans se encaixam nessa equação, considerando a transformação de Nestor em “estagiário” do clube por Álvarez? Seja como for, no entanto, meu problema maior é mesmo ter que aceitar que Miguel, agora, parece personagem de filme do Glauber Rocha

Por outro lado, o esforço do showrunner de abrir mais espaço para os demais Mayans que, durante muito tempo, não foram mais do que figurantes em razão do foco nos Reyes e na relação deles com os Galindos, continua firme e forte em A Crow Flew By. O extra da vez que começa a ser promovido a personagem é Gilberto “Gilly” Lopez, que vai a uma festa do filho pequeno de um casal de amigos com quem lutou no exército, o que imediatamente lhe dá um passado, ainda que toda a situação criada pelo roteiro de Sara Price tenha me parecido, pelo menos até aqui, bastante artificial e, principalmente, perdido no episódio. Aliás, a demora da série em focar na “família aumentada” de EZ e Angel tem essa consequência, que é uma certa imposição não natural de situações para os personagens que passaram anos sem que sequer soubéssemos os nomes deles direito. Pelo menos no caso de Creep encontraram uma maneira mais orgânica de jogar alguma luz nele e o diálogo todo truncado dele com a mulher que conheceu em seu grupo de ajuda foi inspirado e divertido, mostrando toda a sua inabilidade social, mas de maneira simpática e bem conduzida.

O destaque do episódio ficou mesmo com uma cena curta, mas muito relevante entre EZ e Bishop, com o primeiro tentando reconstruir a conexão entre eles e o segundo se recusando a aceitar qualquer aproximação. Seu veneno contra EZ seria compreensível vindo de alguém mais novo e inexperiente, mas de alguém que foi presidente do clube mostra sua imaturidade total, com a resposta de EZ sendo mais do que perfeita ao socá-lo e exigir respeito com sua posição de vice. Essa linha narrativa – autodestrutiva para Bishop e autoafirmativa para EZ – tem potencial trágico típico da franquia, algo que, claro, deve chegar ao ponto mais alto de ebulição agora que a guerra entre os Sons of Anarchy e os Mayans começará.

No final do dia, como dizem os americanos, A Crow Flew By é uma pequena decepção por lidar de maneira atabalhoada e pouco inspirada com cada aspecto que tenta desenvolver. Entre um cliffhanger desperdiçado, Miguel barbudo e construindo muro em cemitério e Gilly nos explicando que foi soldado, o episódio faz a narrativa geral dar uma freada substancial em um momento da temporada que, muito ao contrário, ela deveria começar a acelerar. Mesmo com a guerra no horizonte, algo que ganha uns 20 segundos ao final, a sensação de que Mayans andou para o lado me parece inescapável.

Mayans M.C. – 4X04: A Crow Flew By (EUA – 03 de maio de 2022)
Showrunner: Elgin James
Direção: Michael D. Olmos
Roteiro: Sara Price
Elenco: J.D. Pardo, Clayton Cardenas, Sarah Bolger, Michael Irby, Richard Cabral, Raoul Trujillo, Danny Pino, Edward James Olmos, Emilio Rivera, Jimmy Gonzales, Greg Vrotsos, Grace Rizzo, Carla Baratta, Joseph Raymond Lucero, Vincent Vargas, Frankie Loyal, Manny Montana, Justina Adorno, Guillermo García, Lex Medlin, Gino Vento
Duração: 48 min.

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