- Há spoilers. Leia, aqui, as críticas dos demais episódios.
Foram 55 minutos de episódio com apenas alguns segundos para o espectador deixar a tensão esvair um pouco na sequência em que EZ tem uma conversa descontraída a amiga de Leticia no food truck em que trabalha. Por todo o restante, a sensação é a de estar dentro de uma panela de pressão, algo que o roteiro de Kurt Sutter e Elgin James é cirúrgico ao passar para o espectador, com o último episódio ficando reservado para a inevitável explosão que, porém, pode trazer surpresas em sua execução.
Afinal de contas, foi enervante ver Bishop, depois da traição dos Vatos Malditos, hesitar sobre o que fazer. De um lado, o dinheiro do tráfico de armas dos irlandeses e, de outro, a vingança pela quase cegueira de Coco e os graves ferimentos de Riz. O resultado, depois de aconselhamento com El Padriño, é revoltante e completamente contrário ao que poderíamos esperar. Os cifrões falaram mais alto que o sangue e tudo parecia que iria acabar “bem”.
Mas eis que, de forma surpreendente, Taza assassina Riz em seu leito de hospital em um daqueles momentos que, confesso, tive que “rebobinar” para ver novamente antes de ter coragem de continuar o episódio. Afinal, Taza tinha votado a favor do dinheiro e matar Riz só para levar os Mayans à guerra pareceu-me uma atitude extremada, pouco característica de qualquer um do clube, já que seu voto poderia ter decidido a questão de outra maneira. O que exatamente aconteceu ainda não sei. Taza devia algo aos Vatos? Ele quer a guerra para evitar que alguma informação que os Vatos têm sobre ele não apareça? Sabemos pouco demais – quase nada! – do personagem para sequer especular, algo que é um problema crônico na série e que já abordei em minha crítica de Lahun Chan de maneira mais ampla.
E isso me traz ao maior receio que tenho em relação ao finale: a introdução tardia de assunto que contextualize a ação de Taza. Se isso acontecerá, não tenho bola de cristal para saber, mas espero fortemente que não, sob pena de a temporada ter toda uma linha narrativa arruinada. Mesmo hesitante em relação à situação que descrevi, o que fica mesmo é a dor da cena e a promessa efetiva de uma guerra que, se acontecer de verdade, poderá reverberar não só nos Mayas, como nos Sons e até mesmo no cartel dependendo do número de baixas nos motoqueiros.
Mas há outra guerra entrando em ebulição, esta mais pessoal e que envolve diretamente os Reyes e os Galindo. Toda a trama de mistérios envolvendo Felipe, Dita e o assassinato de Marisol por Happy foi desenrolada, com o toque final ficando por conta da memória eidética (e levemente deus ex machina) de EZ que conecta Dita como mandante direta do ataque há 10 anos. A reação de Edward James Olmos no momento da revelação final foi outro momento em que o ator mostra que merece ser laureado com os prêmios máximos da televisão, já que ele sabe imprimir, em segundos, um misto mais do que convincente de emoções para seu personagem que oscila entre a profunda tristeza, um sentimento lancinante de culpa e, claro, uma ardente raiva que o consome.
Devo dizer que essa situação familiar parece-me mais insolúvel do que a vingança dos Mayans contra os Vatos. Como é que a temporada acabará em apenas mais um episódio sem que a série toda não acabe por falta de contingente? E isso sem contar com a pressão de Potter – cuja presença é sentida somente por mensagens cheias de emojis para os irmãos Reyes – para obter as informações sobre a traição de Miguel.
Vou repetir algo parecido ao que disse na medida em que a primeira temporada chegava ao seu fim: a complexidade dessa série é tamanha que é difícil aceitar que seus showrunners encontrarão uma forma de desatar o nó que eles criaram. Por outro lado, tendo me deparado com a resolução anterior, também não tenho muitas dúvidas de que eles conseguirão. O fator que traz um complicador extra para a segunda temporada é mesmo a eventual explicação satisfatória para o que Taza fez.
Do ponto de vista técnico, não consegui entender a escolha de Kevin Dowling em usar câmera levemente tremida para os planos americanos e close-ups, algo que era razoavelmente comum no começo da primeira temporada, mas que, misericordiosamente, havia desaparecido há tempos. Não só não encontrei justificativa para o uso dessa técnica, normalmente conectada à necessidade de se dar tom documental a uma narrativa de ficção, como as tremidas chegaram a ser cansativas para os olhos. Se pelo menos o enfoque todo tivesse sido a partir de Coco, faria algum sentido, mas o episódio não tinha esse ponto-de-vista.
Seja como for, a tensão imperou e Itzam-Ye, mesmo segurando-se na ação, mostrou-se como um mais do que competente episódio em preparação a um final potencialmente destruidor. Some-se a isso a dúvida sobre o futuro da série e pronto, não vai dar para dormir até o encerramento em uma semana…
Mayans M.C. – 2X09: Itzam-Ye (EUA – 29 de outubro de 2019)
Criação: Kurt Sutter, Elgin James
Direção: Kevin Dowling
Roteiro: Kurt Sutter, Elgin James
Elenco: J.D. Pardo, Sarah Bolger, Michael Irby, Carla Baratta, Richard Cabral, Raoul Trujillo, Antonio Jaramillo, Danny Pino, Edward James Olmos, Emilio Rivera, Maurice Compte, Frankie Loyal Delgado, Joseph Raymond Lucero, Clayton Cardenas, Tony Plana, Michael Marisi Ornstein, Ray McKinnon, David Labrava, Melany Ochoa, Efrat Dor, Tommy Flanagan
Duração: 55 min.