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Crítica | MaXXXine

O fator de Maxine Minx.

por Felipe Oliveira
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É interessante que, ao mesmo tempo que criou uma trilogia incomum sobre duas personagens distintas buscando o estrelato na arte, Ti West chamou atenção para seu estilo. Enquanto é inevitável reconhecer o talento de Mia Goth em dominar dois papéis de forma fascinante, West oferece um cinema referencial. Se em X – A Marca da Morte ele fazia um exercício de gênero emulando os primeiros filmes de Tobe Hooper, assim como em Pearl, West não pretende fazer de MaXXXine um capítulo baseado em acenos e linguagem e sim contar essa história pelas imagens e teor do visual. Parte disso vem da escolha das referências, que diferente X – que seguia a estrutura raiz do slasher impressa em O Massacre da Serra Elétrica – se inspira no suspense investigativo clássico, nesse caso, Dublê de Corpo, de Brian de Palma.

Assim como Maxine busca por sua ascensão, essa trilogia de terror marca uma fase de confiança e expansão de West ao deixar de lado sua conhecida direção – que reproduzia até mesmo a dinâmica dos filmes que se inspira – para algo mais solto, isolado. Mesmo com traços de O Mágico de Oz, Pearl seguia um caminho independente com um drama psicológico, e MaXXXine pouco quer semelhanças com o melodrama do thriller erótico de Body Double além do plano de fundo da implacável Hollywood e a residência na colina que o claustrofóbico Scully podia desfrutar do voyeurismo, juntando isso a elementos clássicos do giallo (os closes nas luvas de couro, o suspense em torno da identidade do assassino, a investigação nos massacres) mas precisamente, de O Estripador de Nova York, de Fulci.

Se passando sete anos depois do estilístico X – como esquecer da edição inserindo trechos futuros no meio das cenas ? – West mergulha MaXXXine no cenário da década de 80, o que vai desde a trilha sonora, o uso de cores quentes da fotografia, o mundo do show business; mas nada está ali para criar uma substância, e sim ilustrar a realidade que Maxine transita agora como uma estrela de filmes adultos – o breve trecho de uma filmagem é mais um lembrete de X, e de como ela domina o ramo. A cena inicial é apenas uma entrada para o olhar vulnerável que Maxine recebe ao ter sua chance de ser atriz em Hollywood ameaçada; logo, os acenos para The New York Ripper e até o caso real envolvendo o Night Stalker (que compartilha semelhança a onda de mortes que assombram a aspirante a atriz), os protestos religiosos são só recortes de uma época, detalhes que não pretendem fazer parte de alguma reflexão – como o puritanismo em X e Pearl. Nem mesmo os comentários metalinguísticos foram inseridos para se destacar, uma vez que West exalta o terror, seus os subgêneros e o apreço que tem por esse universo – o que fica claro ao mais uma vez falar de Alfred Hitchcock e Psicose.

É bem provável que os comentários sobre mulheres na indústria e os flashes da controversa trilogia A Puritana façam parte do próximo trabalho de West – algo como o trailer falso de Feriado Sangrento de Eli Roth que mais tarde virou longa – mas em MaXXXine, o foco é persona implacável da personagem título a quem Goth interpreta de maneira apaixonante. É ótimo que West tenha se afastado do estilo de prestar alusões e referências a outros estilos e aproveita cada capítulo dessa saga com uma ótica diferente. Nesse sentido, o cenário da calorosa Los Angeles serve para Maxine brilhar. Sequências como a do beco ou a no set de filmagens só foram possíveis nesse universo por conta de sua protagonista, que emana indecência e ambição. O que não deixa esquecer o paralelo que há entre Pearl e Maxine, sendo a primeira o lembrete de um sonho inalcançável e a segunda, a prova de conquista e realização.

Chegando a terceira parte e conclusão de uma franquia, o maior trunfo é saber que cada capítulo funciona de maneira independente, servindo uma visita a episódios isolados da Sétima Arte e as referências do terror que West mais se inspira. Ainda que o neo-noir e o giallo – o que entra também características de Prelúdio Para Matar, de Dario Argento –  sejam a composição estética da vez, o desfecho de MaXXXine foge do clímax do suspense e quase beira um falso documentário de humor caricato – que termina lembrando bastante O Último Sacramento -, contudo, consegue dar um final satisfatório para a estrela e criação queridinha do seu diretor: Maxine Minx. A ironia é que ela jamais será esquecida, e se depender de Goth e West, nunca será demais espiar o que Maxine está fazendo em Hollywood.

MaXXXine (MaXXXine – EUA, 2024)
Direção: Ti West
Roteiro: Ti West
Elenco: Mia Goth, Elizabeth Debicki, Chloe Farnworth, Giancarlo Esposito, Moses Sumney, Halsey, Kevin Bacon, Sophie Thatcher, Michelle Monaghan, Bobby Cannavale, Lily Collins, Charley Rowan McCain, Simon Prast, Deborah Geffner
Duração: 103 min.

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