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Crítica | Mate ou Morra

por Fernando Campos
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A influência de Feitiço do Tempo veio tardiamente. Estrelada por Bill Murray, a obra-prima do início dos anos 90 recebeu reações mistas na época, mas hoje possui status de cult. Além disso, o longa resultou em diversos filmes com a mesma premissa a partir da década de 2010, como No Limite do Amanhã e A Morte Te Dá Parabéns

A proposta de uma pessoa vivendo o mesmo dia sucessivamente pode servir perfeitamente para estudo de personagem, fazendo o protagonista variar comportamentos para tentar escapar da situação e, assim, conhecendo melhor a si mesmo. Nessa leva de filmes influenciados por Feitiço do Tempo, surgiu Mate ou Morra. Dirigido por Joe Carnahan, o longa acompanha Roy Pulver (Frank Grillo), um ex-agente das forças especiais que se vê forçado a reviver o dia de sua morte inúmeras vezes.. Enquanto luta para chegar ao fim do dia com vida, ele descobre uma mensagem de sua ex-esposa Jemma (Naomi Watts), revelando o envolvimento do cientista Ventor (Mel Gibson) nesse ciclo mortal e percebe que a sua família também corre perigo.

Apesar da proposta ter sido trabalhada diversas vezes, como dito anteriormente, ela permite várias possibilidades dentro do gênero do filme, o de ação. Aliás, qualquer roteiro, por mais previsível que seja, pode ser interessante nas mão de um bom diretor. No entanto, o que resume o trabalho de Joe Carnahan em Mate ou Morra é o adjetivo: perdido. 

Analisando o tom, a obra intercala cenas de comédia e ação com momentos mais dramáticos sem nenhuma coesão. A cena em que Roy conversa com Jemma pela primeira vez constrange pela incapacidade de criar qualquer sentimento, apelando para a exposição barata. Não adianta colocar na boca dos personagens que há uma história entre eles, é necessário mostrar para ser convincente ou, pelo menos, esses sentimentos precisam ser escritos com mais profundidade; mas não acontece nem uma coisa nem outra.

Quando um longa possui inconsistência de tom, normalmente, a responsabilidade é da montagem e edição, o que ocorre aqui. Na primeira metade, o ritmo de Mate ou Morra beira o bizarro, colocando cenas que parecem não ter peso nenhum na narrativa. Por exemplo, o protagonista recebe uma mensagem reveladora de uma pessoa que achava estar morta, algo que certamente deveria abalar as estruturas de Roy; porém, a cena seguinte é ele fazendo sexo com uma mulher porque, segundo ele, estava bêbado. Situações assim, em que personagens parecem não reagir a momentos importantes, ocorrem sucessivamente em Mate ou Morra. Na tentativa de criar um ritmo frenético, à la Mad Max: Estrada da Fúria, a edição transforma o filme em uma experiência fria.

Carnahan parece apostar tudo no roteiro, que é tematicamente pobre e bagunçado na proposta, sendo incapaz de criar uma atmosfera mistério ou uma veia cômica. Ainda comete o pecado de desperdiçar atores como Mel Gibson e Michelle Yeoh, dando todo espaço para Frank Grillo, que definitivamente não possui a mesma presença de atores de ação contemporâneos como Jason Statham ou Tom Cruise. Aliás, as cenas em que Grillo contracena com Gibson e Watts mostram a limitação do ator.

Ainda sobre os equívocos no tom, a obra flerta com uma analogia com o mundo dos games, algo exposto até nos créditos iniciais, em que se aprende a passar uma fase repetindo-a diversas vezes, mas termina com ares de ficção científica. Definitivamente, a conclusão pontua como a direção não sabia para onde levar o filme ou que tipo de tom queria colocar ali.

Mesmo com um roteiro pedestre, Mate ou Morra poderia ser um filme de ação divertido, usando a premissa para colocar o protagonista em situações cada vez mais inovadoras. Contudo, a montagem bizarra acelera sequências de ação, tratando-as apenas como escape cômico, apostando em diálogos expositivos e em um drama familiar inexistente. Pegando um exemplo recente, A Morte Te Dá Parabéns utiliza a proposta de Feitiço do Tempo para trabalhar bons momentos dentro do slasher. No entanto, resta ao perdido Mate ou Morra ser lembrado como um filme ruim influenciado por uma obra-prima.

Mate ou Morra (Boss Level) – EUA, 2021
Direção: Joe Carnahan
Roteiro: Joe Carnahan, Eddie Borey, Chris Borey
Elenco: Frank Grillo, Mel Gibson, Naomi Watts, Annabelle Wallis, Ken Jeong, Will Sasso, Selina Lo, Meadow Williams, Michelle Yeoh, Mathilde Ollivier, Rob Gronkowski, Sheaun McKinney, Rio Grillo, Armida Lopez, Buster Reeves, Eric Etebari, Quinton Jackson, Rashad Evans, Joe Knezevich, Adam G. Simon, Melanie Kiran
Duração: 101 min

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