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Crítica | M*A*S*H – 1X01: Piloto

Um começo que faz jus ao que veio antes e ao que viria depois.

por Ritter Fan
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Bem-vindos ao Plano Piloto, coluna semanal dedicada a abordar exclusivamente os pilotos de séries de TV.

Número de temporadas: 11
Número de episódios: 256
Período de exibição: 17 de setembro de 1972 a 28 de fevereiro de 1983
Há continuação ou reboot?: A série é um spin-off com novo elenco em quase sua totalidade do longa de 1970 dirigido por Robert Altman e escrito por Ring Lardner, Jr., por sua vez baseado em romance de 1968 de Richard Hooker. O spin-off Trapper John, M.D. foi ao ar entre 1979 e 1986, e teve sete temporadas e 151 episódios. Em 1984, o piloto de W*A*L*T*E*R, outro spin-off, foi produzido, mas nunca transformado em série. Depois do fim da série, entre 1983 e 1985, o spin-off AfterMASH foi produzido e teve duas temporadas e 31 episódios.

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M*A*S*H, a adaptação cinematográfica de 1970 por Robert Altman e Ring Lardner Jr. do livro homônimo de Robert Hooker lançado dois anos antes, foi um gigantesco sucesso de crítica e de bilheteria com seu humor ácido e sua sátira antibelicista, além de um inesquecível elenco encabeçado por Donald Sutherland. O segundo livro de Hooker entrou em produção, mas ela acabou não dando certo, o que fez com que um projeto de série de TV fosse iniciado, com um roteiro sendo escrito ainda em 1971, mas demorando algum tempo até realmente chegar à fruição.

Com um elenco quase que completamente novo (a exceção mais notável a manutenção de Gary Burghoff como o eficientíssimo Cabo Walter “Radar” O’Reilly), a série pode ser encarada como um spin-off, reboot e até continuação do longa-metragem, categorização que, muito sinceramente, não importa por ela quase que imediatamente ter ganhando vida e sucesso próprios, o que lhe garantiu 11 temporadas – muito mais tempo do que a Guerra da Coréia em que ela se passa – dois spin-offs e a tentativa de um terceiro, além de um lugar na história da televisão americana com seu último episódio, que foi ao ar em 28 de fevereiro de 1983, mantendo-se como a transmissão televisiva americana mais assistida da história até 2010 e sendo até hoje tanto o mais assistido final de série como o mais assistido episódio roteirizado de todos os tempos nos EUA.

E esse sucesso é muito merecido, algo que já é visível em seu episódio piloto. Se alguém tem alguma dúvida se é necessário conhecimento prévio do filme – é um crime não tê-lo assistido, claro, mas isso é outra história… -, essa dúvida se dissipa imediatamente por nada nem de longe tentar estabelecer algum tipo de conexão. Além disso, o personagem que era de Sutherland, o Capitão Benjamin Franklin “Hawkeye” Pierce, ganha outro tipo de vida com Alan Alda encarnando magistralmente com um fusão de alegria contagiante, cinismo reinante e, claro, profissionalismo acima de tudo. Se alguém por acaso nunca ouvi falar de M*A*S*H, que é sigla de Mobile Army Surgical Hospital ou, em tradução livre e direta para o português, Hospital Cirúrgico Móvel do Exército, a série gira em torna da vida no referido hospital móvel não muito distante do fronte da Guerra da Coréia que recebe soldados feridos por helicóptero basicamente todos os dias.

O tom é de comédia satírica com elementos de humor ácido, mas esse não é o único tom da série como um todo, ainda que o piloto seja mantido assim. Aliás, diria que o grande trunfo de M*A*S*H é que a série não é facilmente rotulável, pois há episódios que pesam mais no drama, por vezes até descambando para a tragédia, o que mantém a narrativa sempre refrescante. Nesse começo, porém, o humor reina mesmo com as sequências de cirurgias – que não apelam para sangue e tripas -, pois o mote do episódio é a vaga que Hawkeye consegue, na faculdade que estudara nos EUA, para o jovem faz-tudo coreano que o ajuda, bastando que ele tenha dinheiro para pagar os mil dólares de anuidade. Para levantar o dinheiro, Hawkeye e seu inseparável amigo, o Capitão “Trapper” John McIntyre (Wayne Rogers substituindo Elliott Gould, que fez o mesmo papel no filme), organizam uma festa e a venda de uma rifa que tem como prêmio duas noites de folga em Tóquio com a enfermeira mais bonita dali.

Esse tema de “rifar uma mulher” pode ferir muitas suscetibilidades nos dias de hoje, especialmente quando a enfermeira é revelada como sendo realmente lindíssima e o interesse romântico de Hawkeye, mas a grande verdade é que mesmo nisso o roteiro é cuidadoso o suficiente para premiar aqueles que não já fecharem os olhos para o “politicamente incorreto” com um final esperto que acerta todas as arestas sem deixar nenhuma ponta. Aliás, um recado aos que se incomodam com obras não contemporâneas que não estão – e nem poderiam estar, obviamente – de acordo com a visão moderna dos mais variados assuntos: aprendam que o mundo muda, evolui e involui e nem sempre vocês assistirão, nas artes, aquilo que vocês querem assistir e fugir daquilo que incomoda é só isso mesmo, fugir, o que não contribui para absolutamente nada.

Estabelecendo já no primeiro episódio uma relação antitética de Hawkeye e Trapper em relação ao Maj. Frank Burns (Larry Linville fazendo o personagem que fora de Robert Duvall) e à sua amante, a Major Maj. Margaret “Hot Lips” Houlihan (Loretta Swit, no papel originalmente de Sally Kellerman), que fazem de tudo para impedir a festa e a rifa, inclusive chamando o General Hammond (G. Wood repetindo seu papel do filme) para jogar um balde de água fria em tudo, o episódio é veloz, diria até frenético, mas Alan Alda e seu quase onipresente Hawkeye funciona como o fiel da balança que faz tudo funcionar nesse início, por mais absurdas que algumas situação cheguem a ser, como quando eles drogam Burns e enfaixam sua cabeça, deixando-o na enfermaria para ele não atrapalhar mais nada. É como uma bem regida orquestra de atores e atrizes que se mostram mais do que aptos a criar perfeita harmonia dramática.

M*A*S*H, portanto, não só tem um começo à altura do filme que o precedeu, como muito claramente mostra todo o seu potencial já em seu primeiro e cuidadosamente azeitado episódio. Mantendo a música tema do filme, mas imediatamente mostrando que não havia qualquer de conexão com o longa de dois anos antes, a longeva série dos médicos militares durante a Guerra da Coréia e um triunfo já na largada.

M*A*S*H – 1X01: Piloto (M*A*S*H – 1X01: Pilot – EUA, 17 de setembro de 1972)
Desenvolvimento:
Larry Gelbart (baseado no filme de Robert Altman e Ring Lardner, Jr. e no romance de Richard Hooker)
Direção: Gene Reynolds
Roteiro: Larry Gelbart
Elenco: Alan Alda, Wayne Rogers, McLean Stevenson, Larry Linville, Loretta Swit, Gary Burghoff, George Morgan, G. Wood, Karen Philipp, Patrick Adiarte
Duração: 25 min. (cada episódio)

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