Home QuadrinhosMinissérie Crítica | Máscaras (2012 – 2013)

Crítica | Máscaras (2012 – 2013)

O que é o "Partido da Justiça"?

por Luiz Santiago
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Ambientada na Terra-818793, no finalzinho da década de 1930, Máscaras é um instigante cruzamento de linha narrativa entre os vigilantes mascarados que antecederam a Era dos super-heróis. A ação começa com o Besouro Verde (The Green Hornet) e Kato lutando contra uns bandidos menores, procurando a revelação do nome de um chefão… até que aparece o temido Sombra (The Shadow), e muito rapidamente a trama ganha peso, transformado o que parecia ser apenas uma batida regular de vigilantes contra o crime… no início de uma grande investigação com o poder de mudar, para sempre, a História dos Estados Unidos. O roteiro é de Chris Roberson, que às vezes guia o seu texto para a defesa de ideais que, ao longo do tempo, mostram-se falhos e tão ruins quanto o Estado aparelhado que critica (ou seja, ele propõe uma confiança sem medidas numa justiça e democracia burguesas), mas ainda assim, entrega algo de qualidade para o leitor.

A primeira edição inteira e a capas oficiais da minissérie foram desenhadas por Alex Ross, que em seu estilo de “realidade em mármore“, imprimiu o necessário poder aos personagens e ao ambiente pré-noir onde a trama se passa. Aproveitando-se da realidade de gângsters que tomou os Estados Unidos nos anos 30, a série imagina uma situação onde alguém muito poderoso começa a manipular o jogo político na cidade de Nova York, ambicionando tomar o Estado e, por fim, o país. Ao longo das oito edições, vemos aparecer diversos benfeitores mascarados do pré-Era Dourada nos quadrinhos, cada um representando um ideal e postura diferente diante das injustiças e da criminalidade. Aparecem, no decorrer das páginas, O Aranha Negra (The Spider), Lama Verde (The Green Lama), Pantera Negra/Mulher Pantera (Miss Fury), Terror Negro (Black Terror), Zorro e o Morcego Negro (Black Bat), todos em busca do vilão que manipula toda a hierarquia da cidade: “Boss” Rothko.

O maior problema da minissérie não é uma novidade, considerando sua proposta: tem muito personagem para pouca edição e espaço de ação. O roteirista visivelmente se esforça para manter grande parte dos mascarados ocupados, mas em oito edições, mesmo se levarmos em conta que os vigilantes entram em cena aos poucos, fica difícil dar a devida atenção, desenvolver e criar uma sequência coerente de eventos com cada um deles. Ao cabo, o grande destaque narrativo fica para O Sombra e o Besouro Verde, enquanto os outros tornam-se participantes de luxo com momentos isolados, frases de efeito (algumas de humor forçado) e bons momentos de luta, sendo os melhores, claro, desenhados por Alex Ross. Da segunda à oitava edição, os desenhos ficaram a cargo de Dennis Calero. Não tenho uma posição muito negativa sobre sua arte, mas pela gigantesca diferença de estilo em relação à primeira revista, a percepção geral que tive sobre a estética da minissérie caiu consideravelmente. Esperava ao menos um artista que tivesse uma arte de finalização mais suja, que valorizasse mais as sombras e criasse um ambiente mais distorcido, afastando-se da perfeição marmórea de Ross, porém, mantendo uma percepção simbólica bem característica para toda a história. Não é o que acontece, mas diria que o projeto visual não é ruim.

O “Partido da Justiça” que se alça ao poder nesta minissérie é capitaneado por um personagem que mudou de posição ético-moral ao longo da vida, uma surpresa para alguns dos vigilantes envolvidos. Ele é um bom vilão, e a crítica que o autor faz através do intento desse chefão é pertinente e perceptível em nossos dias. Alguém com muito dinheiro, vindo de uma posição social privilegiada e com acesso a inúmeros contatos dentro do sistema (leia-se… as muitas esferas estatais), passa a corromper indivíduos do Poder Legislativo, molda as leis da cidade a seu favor e começa a agir conforme essa licença fascista dada a ele pelo próprio Estado. Uma vez dado o primeiro passo, todas as outras etapas são brincadeira de criança — trajeto que certos políticos ou milicianos fazem, a olhos vistos, em nossa realidade. A leitura de uma HQ como esta nos dá um senso fictício, mas esperançoso, de justiça sendo feita. E mesmo que dure pouco tempo, é capaz de mostrar uma virada de jogo em algum lugar onde problemas como os nossos a todos atormentam.

Máscaras (Masks #1 – 8) — EUA, 2012 – 2013
Editora original:
Dynamite
No Brasil: Mythos Editora, (2014)
Roteiro: Chris Roberson
Arte: Alex Ross, Dennis Calero
Arte-final: Alex Ross, Dennis Calero
Cores: Alex Ross, Dennis Calero
Capas: Alex Ross
Letras: Simon Bowland
Tradução: Érico Assis
265 páginas

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