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Crítica | Manifest – 4ª Temporada (Parte Dois)

O Divino banal...

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas das demais temporadas.

Depois da bobajada gigantesca que foi a Parte Um da 4ª temporada de Manifest (não que as temporadas anteriores não tenham sido bobas, claro), eu sinceramente esperava que Jeff Rake fosse chutar o proverbial pau da barraca e levar sua série apocalíptica sobre o mistério do voo 828 que retornou cinco anos depois de decolar com seus passageiros tendo estranhas visões para um nível mais extremo e, diria, corajoso, de bizarrice. Mas, para minha decepção, o showrunner optou por uma abordagem mais domada, mais “sensata” depois de reunir Arca de Noé com safiras mágicas, frequência de Deus e tudo mais que ele foi jogando na série na medida em que ele demonstrava não ter um norte muito claro para enrolar a história por muito tempo.

E que abordagem mais domada foi essa? Bem, ela teve dois objetivos claros. O primeiro foi de ordem orçamentária que levou os passageiros a serem presos pelo governo em um centro de detenção, lugar onde passam todos os 10 episódios da segunda metade da derradeira temporada. Com isso, o foco que já era quase que completo na família Stone e agregados mais diretos, tornou-se exclusivo desse grupo, o que economizou não só em locações, como também nas aparições do elenco de apoio. O segundo foi de ordem narrativa, pois os desvios narrativos diminuíram consideravelmente, permitindo que a história central retornasse aos trilhos, algo que até pode ser visto como positivo, mas que eu, sinceramente, depois de tudo o que veio antes, esperava ansiosamente por um divertido descarrilamento completo com, por exemplo, Cal (Ty Doran) e Angelina (Holly Taylor) se digladiando nos céus de Nova York, ele como o Dragão Safira e ela como a Reverenda Safira, com direito a trajes espalhafatosos e tudo mais.

Infelizmente, porém, o que tivemos foi essencialmente mais do mesmo – ou menos do mesmo, tecnicamente -, com Rake fazendo uso de passagens temporais para levar a ação até a Data de Morte para, então, revelar que toda essa palhaçada não passou de um teste divino bem chinfrim que acabou com a óbvia reversão do status quo para o começo de tudo, em 2013, para todo mundo menos para os muito malvados. E olha que eu sou defensor de tramas previsíveis, já que previsibilidade, para mim, é sinal de roteiros bem construídos. Mas, aqui, a previsbilidade foi cansativa e a forma como ela foi executada, como o avião ressurgindo de uma cratera de lava, voando e, durante o voo, diversos passageiros recebendo o destino que Thanos reservara para metade do universo, foi patética e, sinceramente, risível.

Mas é claro que isso não impediu que esse trecho final da jornada contivesse uma gigantesca quantidade de momentos melodramáticos, com Ben Stone (Josh Dallas), com olhos chorosos, falando mais de família do que Dom Toretto na franquia Velozes e Furiosos, Michaela (Melissa Roxburgh) eternamente dividida entre Jared (J. R. Ramirez) e Zeke (Matt Long), este, mesmo morto, aparecendo para ela como “anjo” ou algo semelhante, Jared, por seu turno, dividido entre Michaela e Drea (Ellen Tamaki), agora grávida dele, Cal andando de um lado para o outro como peru tonto, especialmente a partir do ponto em que só ele passa a acessar os Chamados e assim por diante, com uma quantidade absurda de linhas de diálogo retiradas de provérbios populares e de livros de autoajuda. É tanta enrolação com tudo isso e com a resolução de alguns Chamados aqui e ali para a série não perder seu artifício narrativo principal, que fica evidente que tudo poderia ter sido resolvido em dois episódios. Não que isso seja uma novidade, vale dizer, mas é que esses 10 episódios finais não trouxeram nada de verdadeiramente novo para a história, apenas repetiram tudo o que veio antes, entre safiras, dragões, pavões, o Brilho, Chamados, governo malvado e outros, com a convergência de tudo isso mais parecendo aquele desenho que se forma quando seguimos a numeração pontilhada em uma folha de papel, mas que é ao mesmo tempo claramente discernível sem a necessidade de um risco sequer.

Manifest tentou ser Lost e não conseguiu. Tentou ser The Leftovers e não chegou nem perto. Tudo o que Jeff Rake conseguiu com sua série foi criar uma mitologia capenga, com personagens irritantes, um elenco que, em geral, não é muito íntimo das artes dramáticas e uma estrutura procedimental básica e genérica que existe aos borbotões por aí. Se ele pelo menos tivesse tido a coragem de levar sua série a um ou dois níveis acima de absurdidade, haveria a chance de no mínimo o resultado final ter sido memorável, mesmo que negativamente. Como ficou, Manifest não passa de uma outra seriezinha sobrenatural qualquer…

Manifest – 4ª Temporada (Parte 2) (EUA, 02 de junho de 2023)
Criação: Jeff Rake
Direção: Romeo Tirone, SJ Main Muñoz, Claire Fowler, Stacy Muhammad, Bosede Williams, Melissa Roxburgh, Claudia Yarmy
Roteiro: Jeff Rake, Simran Baidwan, Margaret Easley, Darika Fuhrmann, Matt K. Turner, Sumerah Srivastav, MW Cartozian Wilson, Ryan Martinez, Laura Putney, Ezra W. Nachman
Elenco: Melissa Roxburgh, Josh Dallas, J. R. Ramirez, Luna Blaise, Ty Doran, Parveen Kaur, Matt Long, Holly Taylor, Daryl Edwards, Frank Deal, Malachy Cleary, Nikolai Tsankov, Jared Grimes, Garrett Wareing, Mahira Kakkar, Ali Lopez-Sohaili, Athena Karkanis, Brianna Riccio, Gianna Riccio
Duração: 468 min. (10 episódios)

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