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Crítica | #Manhole – Desvio Fatal

Síndrome de reviravoltas.

por Luiz Santiago
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#Manhole – Desvio Fatal é daqueles filmes que destravam novos medos em espectadores que milagrosamente não foram traumatizados, na infância, por parentes contando histórias horrendas de pessoas que caíram em bueiros. É um filme de destaque para a dramaturgia, onde o protagonista, muito bem interpretado por Yûto Nakajima, passa a maior tempo tentando escapar do esgoto. Aparentemente, ele caiu naquele lugar após uma noite de bebedeira com os amigos do trabalho, e por estar demasiadamente embriagado, sequer consegue lembrar-se de como tudo aconteceu. Pouco a pouco, descobrimos algumas coisas suspeitas em relação a esta queda, aos contatos do personagem no telefone, e à localização do GPS, o que lança a dúvida sobre o local em que ele verdadeiramente está.

O diretor Kazuyoshi Kumakiri soube criar um marcante patamar de tensão, construindo uma impressão inicial de Shunsuke Kawamura que permite à obra colher bons frutos na parte final, contrastando expectativa e realidade. E isso acontece porque a partir do momento em que a queda do jovem noivo é considerada suspeita, o filme muda de tom. Terror e suspense se misturam num enredo claustrofóbico, que consegue prender nossa atenção. A direção acerta em cheio ao não utilizar trilha sonora exagerada aqui, guiando excessivamente as emoções do espectador. No lugar disso, somos alimentados por inúmeras mensagens de redes sociais, numa narrativa conjunta que faz todo sentido para uma condição como a desse personagem, em tempos como os nossos.

Por um lado, Kumakiri conseguiu trabalhar de maneira majoritariamente interessante com mensagens de celular, expondo na tela um drama que fala sobre uma pessoa que caiu num bueiro e precisa de ajuda dos amigos e justiceiros virtuais. Por outro, o diretor complementa o andamento narrativo ao confrontar o espectador com situações que exigem doses cavalares de suspensão da descrença. E não só isso. Há momentos, como o da própria queda no bueiro e o de uma certa explosão, marcados por uma continuidade inexplicável, o mesmo acontecendo em relação à chuva e à água que cobre o chão daquela “prisão” macabra. Se elencados com parcimônia e acompanhados por uma montagem que consiga alinhar a história com exageros dramáticos mais ou menos aceitáveis, momentos assim podem passar ilesos pelo espectador. Mas fica difícil aceitar quando há uma coleção desses momentos inexplicáveis, mal editados e cercados de elipses que deixam as cenas intrincadas ainda piores.

Adicionando características negativas a essas escolhas da direção, o roteiro de Michitaka Okada passa metade da película querendo impressionar o público com “explosões de cérebro“. A sucessão de reviravoltas termina em plena exaustão, anulando sua própria existência. A partir de certo ponto do filme, o espectador experimenta um clímax a cada cinco minutos, e não é preciso muito para entender o quanto isso atrapalha a narração de um drama. Se tudo é grandioso, importante e chocante em um filme… então nada é. Surpreende o fato de termos uma primeira parte fílmica cheia de diferentes ritmos de ação, para, no final, o diretor nos trazer uma quantidade desnecessária de reviravoltas, a ponto de a maioria não ter nem mesmo um significado, uma explicação necessária a fim de garantir sua presença no enredo. Estão lá apenas por estar, e o espectador que lute para encaixar esses eventos na unidade fílmica.

Ainda assim, #Manhole – Desvio Fatal é um filme interessante de assistir. Destaca-se bem a atuação do protagonista, que trabalha a maior parte do tempo sozinho, e a equipe de maquiagem, cabelo e direção de arte. A troca de mensagens exibida na tela é um adicional interessante, servindo para guiar uma parte da trama utilizando pistas, sugestões, conversas e toda sorte de cacoetes da internet que acabam fazendo sentido para a dinâmica dessa história. Em última instância, a discussão do diretor Kazuyoshi Kumakiri é a chegada de um carma tardio, vindo para uma pessoa que se apresenta de uma forma, mas termina o filme completamente desmascarado e odiado pelo público. O que o filme não responde, mas deveria, é… por quê?

#Manhole – Desvio Fatal (#Manhole) — Japão, 2023
Direção: Kazuyoshi Kumakiri
Roteiro: Michitaka Okada
Elenco: Yûto Nakajima, Nao, Kento Nagayama, Haru Kuroki
Duração: 99 min.

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