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Crítica | Malditas Aranhas!

Melhor do que parece...

por Leonardo Campos
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Uma das vantagens em assistir aos filmes de horror com insetos e demais seres da natureza, transformados em criaturas monstruosas, era que na maioria das vezes, os realizadores sabiam da condição absurda de suas narrativas e se dedicavam aos excessos sem culpa. Havia, entre um e outro, alguma análise sociológica, mas no geral, os personagens mantêm-se em níveis rasos de aprofundamento psicológico e as narrativas do segmento focam na rentabilidade deste tipo de entretenimento. É o que nos leva ao divertido Malditas Aranhas! Lançada em 2002, a produção é o tipo de filme que algumas pessoas gostam de dizer que é diversão sem reflexão, o tal “desligamento do cérebro” para assistir, pois é uma narrativa para não pensar, apenas se assustar e rir para em momentos diletantes. Sou resistente diante do pensamento em questão, mas acredito que para o espectador contemporâneo, é preciso aderir ao tal modo para embarcar neste filme.

Dirigido por Ellory Elkayem, também responsável pelo roteiro, escrito numa parceria com Jesse Alexander, a aventura de horror trata do velho tema da contaminação de um determinado lugar, ambiente próximo ao criadouro de algumas aranhas que adentram numa mutação genética burlesca e se transformam em grandiosos e perigosos monstros. Mais uma vez, o epicentro da situação é uma cidade interiorana dos Estados Unidos, região distante dos grandes centros urbanos e das exorbitantes preocupações estatais. Quem ocupa o posto de protagonista aqui é Chris McCormick (David Arquette), um engenheiro que trabalha com mineração, distante da cidade há uma década, num retorno que soará triunfal, ao assumir o posto de herói salvador de muitas pessoas que começam a ser atacados por esses monstros frenéticos, sedentos por sangue e carne humana, nada exitosos na arte de tecer as suas teias e envolver as suas vítimas.

Acossado diante da ameaça inesperada, McCormick conta com o apoio da chefe de polícia Sam Parker (Kari Wuhrer), sua ex-namorada, atual mãe de dois jovens, Mike Parker (Scott Terra) e Ashley (Scarllet Johansson), os arquétipos do nerd e da adolescente revoltada, respectivamente. Eles todos precisam se unificar e deixar qualquer diferença de lado para conseguir sobreviver, rodeado de momentos de morte, mas sempre tratadas com ironia e humor. Diante do exposto, a produção é o tipo de história que esgota rapidamente o seu arsenal de piadas e se passasse dos 99 minutos de duração, poderia ter se tornado entediante. O excesso de correria, os ataques constantes, as gosmas e demais elementos próprios de um filme sobre aranhas gigantescas embalam esta narrativa que pede ao público a todo instante: “entre na brincadeira e se divirta”. O último ato é o deslocamento de todos os sobreviventes para o shopping da cidade, arena de combate entre os seres humanos e as aranhas cheias de força e vigor.

É uma batalha a ser vencida com astúcia, principalmente pelas contribuições do pequeno Mike, garoto que adorava contemplar as aranhas criadas por Joshua (Tom Noonan), o personagem que ocupa a função do descerebrado que se envolve num acidente com uma de suas espécies de cativeiro e acaba morrendo, o que permite que as aranhas escapem para lado externo da residência, contaminado pelos resíduos tóxicos, etc. A velha estratégia narrativa que nós já conhecemos muito bem. John Ottman, responsável por conduzir outras histórias que envolvem tensão e humor, tal como Pânico no Lago, entrega uma trilha executada com despojamento, sem tornar o tom macabro em momento algum, mas deixando uma atmosfera de mistério para algumas passagens. John S. Bartley, na direção de fotografia, também trabalha com eficiência e entrega o pacote completo de imagens para os responsáveis pelos efeitos visuais aplicarem as aranhas, posteriormente, junto ao trabalho de maquiagem e efeitos especiais.

Há muita graça em Malditas Aranhas! O filme se alimenta do universo clássico dos filmes de aranhas gigantescas e mirabolantes e em nenhum momento se apresenta como entretenimento que pretende ir além do que o conteúdo oferta e se define. É uma narrativa tola, engraçada, exagerada, uma homenagem aos filmes B dos anos 1950, era conhecida pela paranoia da Guerra Fria e o medo de mais “chantagens” atômicas capazes de devastar todo o planeta. O medo e a sensação de constante insegurança adentraram na seara da ficção e permitiram que muitos realizadores fizessem fortuna com escorpiões, caranguejos, serpentes, aranhas, dentre outros “monstros” da natureza, transformado em antagonistas da humanidade. Jens Doldissen ficaram com as miniaturas e Thomas Dadras assumiu a supervisão dos efeitos visuais, dupla responsável por dar dinamicidade aos aracnídeos também expressivos no design de som, divertido com seus esguichos e outras manifestações auditivas destas criaturas assassinas, mas bem engraçadas.

Malditas Aranhas! (Eight Legged Freaks) — Estados Unidos, 2002
Direção: Ellory Elkayem
Roteiro: Ellory Elkayem, Jesse Alexander
Elenco: David Arquette, Doug E. Doug, Kari Wuhrer, Leon Rippy, Matt Czuchry, Rick Overton, Scarlett Johansson, Scott Terra
Duração: 99 min.

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