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Crítica | Mágico Vento – Vols. 9 e 10: Cara de Pedra e Trama Diabólica (Esqueletos)

A face da loucura.

por Luiz Santiago
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Temas relacionados à psique humana, em qualquer época histórica, conseguem gerar histórias de profunda carga analítica e muitas vezes com resultados cruéis, na esfera daquilo que chamamos de “vitória amarga”. No início da presente aventura, Mágico Vento e Poe estão em um hotel caindo aos pedaços, numa cidade aparentemente abandonada. Talvez eles estejam voltando da região dos Grandes Lagos, onde estiveram há pouco tempo resolvendo um caso com uma manifestação de Wendigo. Eles acabam sugados para esta situação com o “cara de pedra” por uma visão que Ned tem, e mais uma vez, Hogan aparece no caminho de Ellis, agindo nas sombras para gerar uma guerra entre o povo Ute e os colonos de um povoado que cresceu próximo a uma montanha supostamente cheia de ouro, e que tem, naturalmente esculpida, a aparência de um rosto humano.

A linha vilanesca da história se constrói junto à figura de um serial killer (que por seu físico, caráter manicomial de sua vida e crimes horrendos cometidos me lembrou uma aventura de Dylan Dog chamada O Retorno do Monstro) que escapou de um hospital psiquiátrico em de Nebraska. Seu nome é Derek Dish, e ele retorna para Carved Rock, cidade de onde seu mãe saiu, grávida, para viver uma vida de prostituição, após o seu pai ser morto em um desentendimento com um Ute. Gianfranco Manfredi, que sempre procura fazer relações da problemática do “mundo dos brancos” com elementos indígenas, aproxima a chegada de Derek com uma profecia indígena que diz que um homem com a face parecida com aquela esculpida na montanha representará uma tragédia para os Utes. E como profecias e histórias populares sempre terão pelo menos dois lados principais, o povo de Carved Rock acredita que este indivíduo levará o povoado a uma Era de Ouro.

Como as minas da região atraem os interesses de Hogan, ele começa a fazer negociações criminosas para gerar conflitos entre indígenas e homens brancos, forçando uma intervenção do Exército, o que sempre acaba com a retirada das terras das mãos dos nativos. Nesse processo, Hogan, por ter acordo com bancos e empresários do ramo das estradas de ferro, se aproveita da situação e toma conta do comércio local — algo muito similar ao que ele estava tentando fazer no arco Faca Comprida e O Filho da Serpente, embora focando em outro setor econômico e usando um outro tipo de agentes para conseguir os seus objetivos.

A exploração de Derek, como personagem, é muito boa aqui. Ainda nas primeiras páginas, nós o vemos em ação e entendemos que ele é alguém muito cruel e perigoso, mas só com o passar do tempo é que notamos o quanto seu estado mental piora, assim como suas atitudes cruéis. Achei bom o autor trazer a presença do médico que tratava de Derek, porque a história de vida e o tratamento do personagem ganham uma boa discussão no processo, já que agora consideramos todos os crimes cometidos por este assassino, ao mesmo tempo que entendemos os primeiros passos, a origem igualmente terrível dessa pessoa.

Encontramos nesse enredo uma excelente e macabra referência ao Leatherface, de O Massacre da Serra Elétrica, e também ao Norman Bates, de Psicose, ambos inspirados, na verdade, no mesmo serial killer, o monstruoso Ed Gein. A conclusão da luta que se estabelece nessa aventura é triste, numa trilha de morte de inocentes e num encerramento cru, seco, mas muito realista. Hogan está cada vez mais incomodado com Mágico Vento e Poe, e dá a sensação de que está sendo construída uma inimizade ainda mais intensa entre ele e o xamã branco. Se antes, Ned tinha apenas o olhar de vingança pelo que acabou sofrendo por conta dos cambalachos (eu adoro essa palavra!) de Hogan, agora ele entende esse homem como um obstáculo próprio de seu caminho, um antagonista destinado a ele. Um verdadeiro arqui-inimigo se cria!

Mágico Vento – Vols. 9 e 10: Cara de Pedra e Trama Diabólica/Esqueletos (Faccia di pietra / Scheletri) — Itália, março e abril de 1998
Roteiro: Gianfranco Manfredi
Arte: Paolo Raffaelli, Bruno Ramella (Cara de Pedra) e Giuseppe Barbati, Bruno Ramella (Trama Diabólica/Esqueletos)
Capa: Andrea Venturi
200 páginas

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