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Crítica | Magic Mike 3: A Última Dança

Repetição e previsibilidade.

por Fernando JG
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Desde o início, Magic Mike 3: A Última Dança me parece um filme cansado. Cansado em tudo: na trajetória de personagem, nas motivações, nas ações, no roteiro, no enredo, no desfecho e em tudo o mais que compõe a ideia dessa historinha para adulto. Espanta que logo de entrada somos forçados a assistir a um punhado de cenas mal elaboradas, com baixíssima verossimilhança e de quebra com um tom de deboche ao espectador, como se fossemos desprovidos de qualquer faculdade racional que nos possibilite julgar algo sendo bom ou ruim. 

De fato, Steven Soderbergh não se preocupa com absolutamente nenhum aspecto que possa oferecer relevância ao seu filme e o deixa à deriva como se pouco se importasse a respeito disso ou daquilo. O que ele quer mesmo é encerrar essa trilogia e assim o faz. Ou melhor, o cineasta não encerra nada, ele se livra de uma vez por todas de uma história que visivelmente não estava mais empolgado em trabalhar. Magic Mike 3 é resumidamente a consequência de um cansaço. 

Mike Lane (Channing Tatum) é um ex-dançarino que viu seu empreendimento ser arrasado pela pandemia de COVID-19 e agora, no presente pós pandêmico, tenta se reerguer financeiramente e seguir em frente. Enquanto trabalha de barman num evento de elite, Mike chama a atenção da dona da festa beneficente, Mazandra Mendonça (Salma Hayek Pinault), que o descobre pela sua sensualidade. Imediatamente, a socialite enxerga em Mike a pessoa perfeita para dirigir e treinar o elenco da sua nova peça de teatro, e ele, a oportunidade de ouro para estar de volta à cena.

A começar que o filme apoia-se inteiramente numa proposta sensualizada, numa espécie de lap dance que é muito mal coreografado, que caminha sempre para um rumo anti artístico. A dança se converte num impulso predatório no qual a perversão e a exposição de corpos sarados simulando cenas de sexo é o único fim. A obra até tenta incutir alguma visada de “arte” no ato da dança, mas a falha incansavelmente ao não imprimir nenhum gesto reflexivo, nenhuma mensagem que extrapole os limites do filme. 

O roteiro mantém como arquétipo o desenvolvimento de um romance açucarado, sem emoção, paixão e envolvimento, que serve apenas como apoio para o crescimento do personagem principal e o estabelecimento da intriga dramática. Talvez o contrato do cineasta com a Warner para os três filmes de Magic Mike estivesse prestes a estourar o prazo e então Steven Soderbergh concebe essa trama ridiculamente fácil apenas para dar prosseguimento à história de Mike, buscando encerrá-la. 

Embora Mazandra seja seduzida por Mike, cuja função no filme concentra-se oportunamente em ser um sedutor de mão cheia, a mesma não demonstra paixão, tampouco ele em relação a ela, de modo que o romance da trama aponta ser puramente de ocasião. Falta, nem que seja um mínimo, alguma complexidade em ambos os personagens a fim de convencer o público. Apesar de entreter, o filme não comove, não excita, não seduz.

Se o filme pode ser dividido em partes, há duas essenciais: o drama e a dança. O drama se desenrola a partir de um conflito que tem pouca sustância, que não ameaça de verdade, que é apenas um trampolim para que o filme chegue na sua cena final, e enfim chegando ao clímax, que é a dança, a película não inova, mas repete situações que já vimos antes e que já esperávamos. Há uma dose de previsibilidade irritante que marca todo o longa-metragem e isso notadamente o caracteriza como um filme menor e feito sem muitos compromissos além da tentativa de entreter o público com um enredo que não pesa em nada, mas também não brilha os olhos de ninguém.

Rapidamente chegamos ao fim sem muito pesar, é verdade. O cineasta deixar de enfocar os problemas da maturidade de Mike para colocar em cena uma progressão capenga de danças, muitas vezes sem nexo, como na cena do ônibus,  que poderia ser retirada em prol de um maior aprofundamento da trama, explorando, consequentemente, uma filosofia de vida através da experiência de Mike na sua maturidade. Pelo contrário, o cineasta insiste, sem sucesso, em ignorar uma motivação dramática importante, que é a derrocada dos sonhos de Mike e sua reviravolta, para trazer ao enredo apenas uma repetição previsível de atos já saturados. O que fica, como exaustivamente estive apontando ao longo do texto, é um filme que esbanja cansaço, cenas facilitadas e um desenvolvimento feito com a pressa de alguém que quer logo terminar algum trabalho e assim o faz.

Magic Mike’s Last Dance (Magic Mike 3: A Última Dança, EUA, 2023)
Direção: Steven Soderbergh
Roteiro: Reid Carolin
Elenco: Channing Tatum, Salma Hayek Pinault, Ayub Khan Din, Jemelia George, Juliette Motamed, Vicki Pepperdine, Gavin Spokes, Alan Cox, Caitlin Gerard, Christopher Bencomo, Joe Manganiello, Matt Bomer, Kevin Nash, Adam Rodriguez, Kylie Shea
Duração: 111 min.

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