Equipe: 12º Doutor, 78351
Espaço: Estação Intergaláctica da Torra de Café (EITC) e nave de 78351.
Tempo: Indeterminado
Desde que conheci Doctor Who as coisas ao meu redor ganharam significados tenebrosos. Coisas simples, como estátuas, manequins, remédios para emagrecer, livros, relógios e desenhos tornaram-se a porta aberta para um novo monstro, para algo a ser temido, para o sinal entre o amarelo e o vermelho, de preferência na segunda opção. E não bastasse todas essas coisas externas que a série vem mudando o significado para mim, agora eu vejo o meu único vício de uma forma completamente diferente. E faço isso agora, enquanto escrevo e bebo de vagar a minha caneca de café. Não consigo mais ver a bebida da mesma forma.
Escrito por Holly Black, autora da trilogia Mestres da Maldição e coautora das Crônicas de Spiderwick, este conto do 12º Doutor encerra a antologia 12 Doutores, 12 Histórias, uma iniciativa da Puffin Books com a BBC, em 2013, para comemorar o aniversário de 50 anos de Doctor Who. Este conto, no entanto, foi originalmente publicado em outubro de 2014, porque trazia uma nova encarnação do Doutor.
Atraído pelos relatos de misteriosas mortes na Estação Intergaláctica da Torra de Café (EITC), o Doutor resolve aparecer no local e comprar um cafezinho para Clara. “O 3º melhor café do Universo“, segundo ele, atrás dos cafés de Elisabeth Pepys e Sargento Benton, duas lembranças que dão a esse conto uma beleza extra, um retorno sutil às eras do 4º e 3º Doutores. Mas isto não é tudo.
A forma como a história se constrói aqui é bem diferente dos outros contos. Temos primordialmente o ponto de vista do narrador, um mutante de grandes proporções que é a mistura de três espécies: Axon, Ogron, Pyrovile. Há um quê de Star Trek nesse modelo narrativo, quase como um diário de bordo através do qual conhecemos os temores do Capitão 78351, cuja vida difícil nos emociona e futuramente se tornará um ponto de choque quando descobrirmos mais um mistério relacionado a ele, já com o Doutor em cena.
Embora a história sofra um pouco por ser curta demais — temas muito interessantes acabam parecendo meio bobos ou se mostram bastante reticentes por não serem melhor explorados, mas entendemos que esse sacrifício foi feito para que os protagonistas recebessem a devida atenção –, é difícil não gostar do que a autora nos coloca nas entrelinhas e da forma como o Doutor lida com essas coisas, especialmente ESSE Doutor.
Luzes Apagadas é uma das metáforas perfeitas para as transformações da puberdade. Para a adolescência. Para o ato de crescer. Física, mental e emocionalmente. Confesso que fiquei de queixo caído na reta final da narrativa, quando o diálogo de 51 com o Doutor se torna bastante profundo e os medos e anseios do mutante vem à tona. Qualquer adulto, creio eu, sente aqui uma pontada de identificação com o personagem. E qualquer adolescente deve se ver bem representado ali, caso entenda a metáfora.
E o desfecho… ah, que coisa linda! Se me perguntassem quais desses 12 contos mais me tocaram pessoalmente, por sua temática paralela, a minha resposta de pronto seria Luzes Apagadas. Mesmo que tenha algumas travas no desenvolvimento de algumas ações, esta obra de Holly Black é sem dúvida uma das melhores dentre os contos dessa coletânea. Uma história de mudanças. Uma história sobre como lidar com o monstro em nosso interior. Uma história de liberdade. Uma história que é a cara de Doctor Who.
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12 Doutores, 12 Histórias: minha classificação, do pior para o melhor conto
Terminada a série, vamos agora à lista pessoal, do pior para o melhor conto. O que vocês acham? Não esqueçam de comentar com sua listinha pessoal também!
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Holly Black fala sobre o projeto
Luzes Apagadas (Lights Out) — Reino Unido, 2013
Autor: Holly Black
Editora original: Puffin Books
Lançamento no Brasil: 12 Doutores 12 História (coletânea)
Tradução: Viviane Diniz
54 páginas