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Crítica | Lupin III – O Primeiro

por Kevin Rick
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Como trazer algo moderno e atrativo para novas audiências de uma franquia expandida ao longo de cinco décadas? A resposta do diretor Takashi Yamazaki é bem simples: criar a primeira animação 3D no cânone do célebre universo de Lupin III. E, logo de cara, devo dizer que eu gosto da mudança técnica, tanto em sua proposta de modernidade visual chamativa, como também na belíssima execução da equipe criativa que entrega um projeto pulsante e palpável em cada textura detalhista de veículos, objetos, roupas e cenários mundiais, enquanto mantém o equilíbrio entre o realismo animado e o cartunesco sem perder a identidade visual absurda e irreal da propriedade. Dito isso, apesar da qualidade visual incontestável, eu tenho alguns problemas em como o belo subjuga a criatividade em Lupin III – O Primeiro.

Porém, antes de comentar esse ponto negativo do filme, é preciso falar sobre a narrativa da animação. Muito em linha com a proposta do Universo criado por Monkey Punch, a obra, inicialmente, abraça os dois alicerces narrativos que acompanham Lupin III: incoerência e diversão. A premissa nos traz aos anos 60, onde nosso querido ladrão-cavalheiro está tentando roubar o Diário de Bresson, um tesouro arqueológico que nem seu grande avô, Arsène Lupin (I), conseguiu roubar. Além dele, sua parceira/inimiga Fujiko, uma arqueóloga chamada Laetitia e um grupo de nazistas liderados pelo decadente acadêmico Lambert e o fanático Geralt também querem o diário mecânico, que traz o caminho para um dispositivo de uma civilização perdida de grande poder energético.

Fazer qualquer sentido dos meandros da história de Lupin III é uma completa burrice, pois o conteúdo ilógico é apenas veículo para carregar o propósito do filme: diversão surreal e aventuras em grande escala pelo mundo todo. E Yamazaki entende muito bem esta identidade do Universo na maneira que começa a contar sua história, só que, claro, coloca o tom descompromissado e maluco da premissa e dos personagens no novo estilo técnico. É um casamento que tinha tudo para dar certo, mas o cineasta japonês se perde em duas construções da experiência: achar que beleza é criatividade, e, em segundo lugar, não desenvolver a narrativa em torno dos melhores personagens.

Como eu disse anteriormente, tudo é lindo de assistir, mas não tem imaginação, sabe? Filmes como O Castelo de Cagliostro O Segredo de Mamo, assim como a série original, procuram no campo ilimitado da animação um lugar para explodir inventividade em cada bloco de ação frenético, cada sequência de roubo ou luta e até mesmo os momentos mais quietos, ainda cheio de planos que querem expor o cenário e ambientação. Yamazaki não faz nada disso, e parece se conformar bastante com a qualidade visual, do que necessariamente trazer setpieces criativas ou sequências imaginativas. Grande parte da ação é corriqueira e súbita, não há alongamento de nada, e o humor e surrealismo são mais injetados na narrativa do que na animação, tornando o filme uma experiência dramática e não realmente visual, o que não faz muito sentido pensando em como o roteiro é bobinho (intencionalmente), mas quando vira foco e não meio de criar situações aventureiras, a fita se torna branda e ordinária.

Ademais, acho que este é um problema em conjunto com a focalização no relacionamento de Laetitia com seu “avô” Lambert, e também do seu misterioso passado em torno do Diário de Bresson. Há um núcleo bacana de legado e amadurecimento da personagem, e existe uma conexão bonitinha criada com o protagonista, mas no fim, este deveria ser o filme de Lupin III e sua gangue. Seus comparsas Daisuke e Goemon quase não aparecem, e Fujiko muito menos, e o próprio personagem principal parece estar ali para carregar o arco de Laetitia, fazendo com que o desenvolvimento dramático clichê da personagem roube o espaço da melhor parte do filme: a aventura e as peripécias de Lupin III e seus companheiros.

Me lembrando bastante As Aventuras de TintimLupin III – O Primeiro é uma grande conquista técnica e visual, e consegue divertir em certa medida, especialmente no primeiro ato mais focado no Lupin e na divertidinha sequência de armadilhas perto do clímax – com referências bacanas à obra original de Maurice LeBlanc e à franquia Indiana Jones. Infelizmente, a obra não é tão cômica, frenética, surreal ou interessante quanto quer ou deveria ser, resignando grande parte do nosso grupo principal e do tom aventureiro para entregar uma narrativa dramática cansativa em torno de nazistas procurando o renascimento do Terceiro Reich e uma jovem em conflito com seu passado. Bonito e moderno, ocasionalmente divertido, mas falta charme e imaginação.

Lupin III: O Primeiro (Rupan Sansei Za Fāsuto, ルパン三世 THE FIRST) — Japão, 2019
Direção: Takashi Yamazaki
Roteiro: Takashi Yamazaki (baseado nos personagens de Maurice Leblanc e graphic novel de Monkey Punch)
Elenco (vozes): Kanichi Kurita, Kiyoshi Kobayashi, Daisuke Namikawa, Miyuki Sawashiro, Kōichi Yamadera, Suzu Hirose, Kōtarō Yoshida, Tatsuya Fujiwara
Duração: 93 min.

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