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Crítica | Lupin – 2ª Temporada: Parte 3

O mais do mesmo maior e pior.

por Kevin Rick
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  • SPOILERS! Leia aqui as críticas das outras partes da série.

Em sua segunda temporada, ou parte 3 como a Netflix tem chamado (muito confuso…), a adaptação moderna de Lupin como o ladrão Assane retorna para mostrar o personagem fazendo novos roubos e revelando situações do passado. Em linhas gerais, o protagonista passa o novo ano lidando com as consequências de seus crimes, principalmente com o peso da mídia em sua família, tendo que encontrar formas peculiares para desviar a atenção dos tabloides e trazer uma vida relativamente normal para seu filho e sua ex-esposa. Mesmo tendo um sucesso inicial, Assane enfrenta contratempos quando uma antiga figura de sua infância vem à tona e temos a revelação de que sua mãe está viva.

Desde o começo da série, confesso que tenho um certo apreço pelo dilema dramático de Assane entre escolher a vida de gatuno ou sossegar e pagar seus crimes para conquistar a confiança de sua família, principalmente quando o roteiro ensaia algum tipo de reflexão do personagem sobre o resultado de suas ladroagens para aqueles à sua volta. Afinal, nossa personificação contemporânea de Lupin é tão sagaz quanto egoísta, não é mesmo? Bem, com certeza, mas o roteiro continua apresentando tudo isso sem dar as devidas nuances e aprofundamentos que beneficiariam o arco moral do personagem. No final, o ladrão sempre encontra um jeito de unir o útil ao agradável, por mais que o desfecho da temporada tente dar uma impressão de sacrifício – todos sabemos que ele vai sair da prisão no primeiro episódio da próxima temporada.

Mas ei, sair por cima faz parte da mística do personagem, então consigo comprar o sorrisão alegre e sarcástico de Omar Sy quando sai vitorioso de qualquer situação impossível que se encontre. O carisma do ator continua carregando suas aventuras descompromissadas e planos mirabolantes, especialmente na breguice de alguns de seus disfarces espalhafatosos, sotaques ruins e tom de zombaria com seus antagonistas menos espertos. É tudo farofa e meio cafona, mas me divirto com o charme dos exageros, ainda mais numa temporada ambiciosa que aumentou o escopo das façanhas do personagem como figura pública número um. Penso que a série, mesmo em suas mentiras e ironias descabidas continua pecando na falta de plausibilidade de algumas sequências que desafiam nossa inteligência, mas não é difícil de ir levando tudo isso com bom humor e sorrisos constrangidos.

O que não me diverte é o didatismo da produção. Cada roubo tem um tipo de encaminhamento narrativo claro e repetitivo: trazer um flashback que dê contexto ao plano, uma montagem que explica tudo o que aconteceu (normalmente com narração em off de Assane) e um cliffhanger que nos leve para a próxima façanha, tudo sob uma direção um tanto passiva e estéril, só mostrando situações, não criando-as. As partes anteriores também se utilizaram desse molde, o que traz um sentimento de esgotamento, mas a segunda temporada em particular abusa demais do “falar muito, mostrar pouco”. Não diria que é um trabalho necessariamente verborrágico, mas tampouco é envolvente, sempre mastigando tudo que está acontecendo com um tipo de previsibilidade ruim e uma total falta de inventividade ou sofisticação para os atos do Lupin moderno.

O problema da produção com a seriedade dramática também é mantido, agravado aqui com a trama ruim da mãe de Assane que tem poucas linhas de qualidade narrativa para além de catapultar a temporada com mais temas sobre vingança e acerto de contas. Podemos ver como os diálogos vão gradualmente se encaixando num melodrama que é muito deslocado nesse tipo de conceito do seriado, incluindo reviravoltas cretinas típicas de novelas mexicanas – a aparição final de Pellegrini é o suprassumo do “cenas dos próximos capítulos”. Em suma, tem muito chororô deslocado e pouca malemolência numa temporada que continua se agarrando ao que há de pior na série e se afasta de suas melhores qualidades: as falcatruas de Assane.

É perceptível como a terceira parte de Lupin passa por cima das façanhas pouco criativas do personagem para focar em suas fragilidades dramáticas, se desviando da elegância das malandragens. Notem como tudo acontece rápido demais. Não existe suavidade ou paciência para atrair o público às façanhas de Assane. Falta uma dinâmica envolvente durante os roubos, uma agilidade inteligente da montagem e uma direção que traga uma personalidade ligeira para os atos maliciosos do personagem. Enfim, fazer o simples não é fácil. Aumentar e repetir, porém, é sinônimo de facilidade e preguiça no audiovisual. A série continua tendo seus momentos de entretenimento superficial, mas nada além disso. Espero que o próximo ato de Assane tenha mais estilo e menos fadiga.

Lupin – 2ª Temporada: Parte 3 | França, 2023
Criação: George Kay, François Uzan
Direção: Ludovic Bernard, Daniel Grou, Xavier Gens
Roteiro: George Kay, François Uzan (baseado nos personagens de Maurice Leblanc)
Elenco: Omar Sy, Ludivine Sagnier, Soufiane Guerrab, Antoine Gouy, Fargass Assandé, Shirine Boutella
Duração: 07 episódios de aprox. 60 min.

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