Criado por Maurice “Morris” De Bevere, Lucky Luke apareceu pela primeira vez no Almanaque Especial nº47 do Le Journal de Spirou, no ano de 1946. Ao lado de Tintim e Asterix, Lucky Luke se enquadra entre os quadrinhos mais populares da Europa, tendo, assim como as duas outras sagas do páreo, grande exposição internacional e adaptações para diversas mídias.
Nas cômicas aventuras do “cowboy que dispara mais rápido que a própria sombra“, seu criador Morris e os diversos outros desenhistas e roteiristas que assumiram o título ao longo dos anos, realizam um diálogo bastante peculiar com o Velho Oeste americano, colocando o protagonista e seu cavalo Jolly Jumper (“o mais esperto do mundo“) em visitas sempre movimentadas a diversas cidades. Nestas longas jornadas, eles também se encontram com personagens históricos como Calamity Jane, Billy The Kid, Jesse James, a Quadrilha dos Dalton e Roy Bean. Rantanplan, “o cão mais estúpido do Universo” também é um personagem recorrente dessas aventuras, amigo de Luke e Jolly.
ATENÇÃO: Esse primeiro álbum oficial do personagem não traz a primeira aventura publicada de Lucky Luke, Arizona 1880, que só apareceria no 3º álbum, intitulado Arizona.
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A Mina de Ouro de Dick Digger
História um pouquinho maior que a trama de estreia de Lucky Luke nos quadrinhos, esta Mina de Ouro de Dick Digger é também um tantinho inferior que a sua antecessora, tanto no aspecto cômico, quanto de solidez e fluidez do enredo. Cronologicamente falando, essa aventura se passa ANTES de Arizona 1880, já que aqui, Luke não conhece Big Belly nem Mestizo, os bandidos que encontraria na ocasião, por terem roubado o ouro de uma diligência a caminho de Nugget City. O curioso é que a relação deles com a punição aqui parece um pouco nebulosa a longo prazo, o que torna o encaixe dessa saga um pouquinho problemático na linha do tempo do personagem, mas nada que atrapalhe o leitor curtir de fato a história.
Mantendo os desenhos simpáticos e explorando o máximo que pode o movimentos dos corpos, as mais variadas expressões e as composições simples, mas atrativas dos quadros, Morris consegue nos atrair com rapidez para esse Universo, especialmente porque a trama — um episódio que se encaixa numa das diversas fases de Corridas do Ouro que tivemos nos Estados Unidos do século 19 –, coloca um velhinho todo animado por ter descoberto uma grande mina e que é roubado pelos bandidos supracitados. Este evento colocará, claro, Lucky Luke na cola da dupla. No início, o enredo funciona muito bem, mas aos poucos as situações perdem força, mesmo em cenas mais engraçadas, porém, não necessariamente chamativas. O encerramento é previsível, mas calorosamente simpático, mantendo uma boa noção cíclica diante do velhinho Dick Digger.
Lucky Luke: La Mine d’or de Dick Digger + Lucky Luke et Son Cheval Jolly Jumper (França, Bélgica, 1947)
Publicação original: Le Journal de Spirou #478 — 502 / #503 e 504
Encadernado original: Dupuis (Álbuns: A Mina de Ouro de Dick Digger, 1949 / Arizona, 1951)
Roteiro: Morris
Arte: Morris
25 páginas
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O Sósia de Lucky Luke
O que realmente muda nessa história em relação às outras escritas e desenhadas por Morris é a arte, que ganha maior soltura. Aliás, esta se assemelha bastante à do pequeno conto Lucky Luke e Seu Cavalo Jolly Jumper, narrativa em duas páginas que antecedeu esta O Sósia. Aqui, LL chega à cidade de Silverbrook, no Arizona, um lugar onde ele nunca tinha estado antes, como confidencia para o seu cavalo. Ao entrar no primeiro Saloon que encontra, Luke percebe um enorme furor e medo nos que lá estão e rapidamente descobre que tem um sósia, um bandido chamado Mad Jim, que está prestes a ser enforcado pelos muitos crimes que cometeu. Aí se dá o principal elemento desse conto consideravelmente repetitivo, onde Morris utiliza praticamente tudo o que já empregado em Arizona 1880 e A Mina de Ouro de Dick Digger, mudando apenas o conflito principal.
Apesar de ainda se manter engraçada e trazer boas situações na fuga de Mad Jim e seus cúmplices Stan Strangler e Charley Chick — além de brincar um pouco com a incompetência quase infantil das autoridades locais, com um Xerife e um assistente beberrão –, a trama peca pela falta de grandes novidades. A fuga se mantém atrelada às situações mais fáceis possíveis e a ameaça não é interessante. Para um bando como este que temos em cena, era de se esperar algo mais… substancial em termos de ameaça, e vejam que isto não seria “pedir demais“, já que algo mais forte assim já tinha sido apresentado logo na primeira saga de Lucky Luke, Arizona 1880. Os grandes momentos aqui — estes sim inesquecíveis –, são a cena onde praticamente todo mundo tenta pegar LL para enforcá-lo, achando que era Mad Jim (sempre me lembro de Consciências Mortas nessas ocasiões); e a clássica cena final, onde acontece uma das coisas que seriam bastante raras nas histórias do personagem. Pelo menos temos aí dois grans motivos para ler O Sósia.
Lucky Luke: Le Sosie de Lucky Luke (França, Bélgica, 1947)
Publicação original: Le Journal de Spirou #505 — 527
Encadernado original: Dupuis (Álbum: A Mina de Ouro de Dick Digger, 1949)
Roteiro: Morris
Arte: Morris
30 páginas