Obs: Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.
Talvez seja muito cedo para dizer, mas creio que, depois do desapontador Candy Morningstar, episódio da volta do hiato de três meses e do apenas razoável Deceptive Little Parasite, Lucifer realmente reencontrou seu norte. O ótimo God Johnson marcou o que desde o começo deveria ter sido o reinício da série, com uma história que reunia muito bem o divino e o mundano e que mantinha o espectador em suspense, apesar da improbabilidade do tal simpático Johnson ser mesmo Deus.
O que o episódio fez, porém, foi estabelecer a história, que gira em torno da reconstrução da espada de Azrael para que Lucifer, Amenadiel e “Charlotte” possam reentrar no Paraíso e confrontar Deus. Lúcifer, porém, tem seu próprio plano que ele deixa guardado na gaveta, que é largar sua mãe com seu pai por lá e voltar para sua vida de playboy brincando de policial em Los Angeles. Em Sympathy for the Goddess, essa linha narrativa continua firme e forte, com Joe Henderson, o showrunner, também fazendo as vezes de roteirista, o que garantiu uma unicidade narrativa única para o episódio.
Aqui, como nos melhores episódios da série, o “caso da semana” está profundamente interligado com a trama maior, reunindo os times terreno e divino em apenas uma direção. A morte da vez é a de Zeke Moore, um contrabandista que “Charlotte” contratara para conseguir uma relíquia que seria outro pedaço da tão cobiçada espada. Precisando de algum controle sobre a investigação, ela e Lúcifer armam para que Chloe seja a policial à frente do caso, o que acaba levando a questão na direção de Chet Ruiz, filho de Bianca Ruiz, a Rainha da Tequila e mafiosa local que é cliente de “Charlotte”.
Vê-se muito claramente, a circularidade do roteiro, que, ao mesmo tempo que introduz os Ruiz na série, mantém tudo muito próximo do peito, amarrando a identidade de advogada da esposa de Deus com sua intenção em obter a nova peça para a espada a todo custo. Isso coloca “Charlotte” e Chloe, então, trabalhando lado-a-lado infiltradas na suntuosa festa de lançamento da nova tequila de Bianca, o que garante ótimos momentos cômicos, além da excelente química entre as duas femmes fatales da série.
Lúcifer, de certa forma, torna-se um coadjuvante no episódio, o que é bem-vindo, na verdade. Ao abrir espaço para Chloe e “Charlotte” a série só tem a ganhar, especialmente porque Tricia Helfer vinha sendo muito mal aproveitada desde sua introdução no começo da segunda temporada, quase que como suas aparições fossem meras pontas. Quer parecer que este novo arco veio para corrigir essa incongruência, dando à bela atriz mais espaço para brilhar.
Mas isso, claro, não quer dizer que Lúcifer foi esquecido. Seu arco narrativo tem início com Maze, logo depois de descobrir seu plano de voltar ao Paraíso, procurando a ajuda da Dra. Linda, somente para descobrir que ela havia sido suspensa da profissão depois dos acontecimentos em God Johnson. Isso só aumenta a raiva de Maze em relação a Lúcifer, já que o Coisa Ruim não parece saber medir as consequências de seus atos, o que, obviamente, é verdade. Com isso, Lúcifer é tragado para a história por intermédio de uma ótima sequência – que é quase uma gag – em que ele e Maze destroem uma praça inteira saindo no braço em plena Los Angeles. A direção de Louis Milito usa elipses para evitar mostrar a pancadaria em detalhes, algo que realmente sairia do estilo da série, mas o resultado é muito eficiente para emprestar complexidade ao relacionamento dos dois.
E, mais interessante ainda, não houve pressa por parte de Henderson em solucionar essa questão. Maze e Lúcifer acabam o episódio ainda separados, mesmo depois que o verdadeiro plano dele é revelado, magoando a diabinha sexy de forma diferente. Em outras palavras, assim como o arco da espada de Azrael não acabou, a questão dos relacionamentos também promete novos desdobramentos.
Aliás, voltando rapidamente para a questão da espada, na crítica anterior mencionei preocupação sobre como as peças estariam todas coincidentemente em Los Angeles, pois não via como a série transformar-se em uma busca pelo mundo. O uso do contrabandista funcionou muito bem para solucionar parte dessa questão, mas o melhor foi Amenadiel descobrir, no livro em sumério, que só havia três peças e que a terceira havia sido confiada ao filho favorito de Deus. Sem pestanejar e demonstrando toda sua mágoa, o anjo sem poderes confronta Lúcifer somente para descobrir, para sua surpresa, que ele mesmo era o filho favorito de seu pai, algo que dramaticamente funciona muito bem para levantar a auto-estima do personagem e, quem sabe, até mesmo devolver-lhe os poderes.
Por outro lado, ainda faltam cinco episódios para a temporada acabar e a reconstrução da espada está a apenas algun segundos de acontecer. O que será que Henderson nos reserva ainda pela frente? Agora que a temporada encontrou seu caminho novamente e que o próprio showrunner escreveu o episódio, é mais fácil ficar confiante de que há um plano bem estruturado para esse final. E é melhor ainda não conseguir perceber exatamente o que acontecerá. Tomara que venham surpresas por aí! [Errata: a temporada era de 22 episódios, mas, em decisão recente, os quatro episódios finais foram passados para o começo da terceira temporada, pelo que o episódio 2×18 será o último da segunda temporada.]
Lucifer – 2X17: Sympathy for the Goddess (Idem, EUA – 22 de maio de 2017)
Desenvolvimento: Tom Kapinos (baseado em personagem criado por Neil Gaiman, Sam Keith e Mike Dringenberg)
Showrunner: Joe Henderson
Direção: Louis Milito
Roteiro: Joe Henderson
Elenco principal: Tom Ellis, Lauren German, Kevin Alejandro, D.B. Woodside, Lesley-Ann Brandt, Scarlett Estevez, Rachael Harris, Tricia Helfer, Aimee Garcia, Lindsey Gort
Duração: 45 min.