Obs: Há potenciais spoilers. Leiam as críticas dos demais episódios, aqui.
O caminho que a série parece estar tomando pode ser um problema sério para ela agora que Tom Ellis e Tricia Helfer conseguiram criar essa química tão boa entre eles. Sin-Eater foi uma espécie de anti-Liar, Liar, Slutty Dress on Fire, ao retirar o foco da nova e nascente dupla e voltar os holofotes ao velho police procedural.
Já havia me conformado que Lucifer era mesmo uma série procedimental de polícia com pitadas de aspectos sobrenaturais e um constante e inteligente roteiro, que sempre que pode se arrisca e vai um pouco além do que estamos acostumados a ver em séries de TV aberta. A repetição dessa estrutura, na 2ª temporada, não é exatamente uma surpresa, mas não consigo disfarçar o desapontamento, especialmente depois de Sin-Eater, que é quase que inteiramente focado na investigação de cruéis mortes em série acontecendo em Los Angeles e que tem como elo comum uma rede social na linha do Facebook.
O caso em si é padrão, nada de especial, mas também não é ruim. Aos poucos, a personagem Ella Lopez, a médica-forense vivida por Aimee Garcia, vai ganhando mais relevo, ainda que ela ainda esteja longe de ter algum significado maior na temporada. O problema do caso em si é que ele afasta a câmera de Mairzee Almas (do ótimo St. Lucifer) do cerne da questão – a relação entre Lúcifer e sua mãe -, mirando-a na relação do Coisa Ruim com Chloe e de Chloe com Dan em uma deslocada discussão sobre um casamento fadado ao fracasso e que não tinha espaço aqui, pelo menos não neste momento.
Mas o que realmente incomodou no roteiro de Alex Katsnelson (já “veterano” na série, por ter assinado o excelente Wingman e o fraco Pops) foi a forma desritmada como os vários assuntos ganharam destaque. Vemos as relações da Dra. Linda com Maze, de Maze com Amenadiel, de Amenadiel com sua mãe, além de Chloe com Lúcifer e, claro, Chloe com Dan (com uma ponta da simpática Trixie) sem que nos esqueçamos dos comentários não muito inspirados de Ella. O resultado é informação demais para episódio de menos em uma cadência picotada que não desenvolve satisfatoriamente nenhum fio narrativo.
Se alguns poucos diálogos arrancam sorrisos dos espectadores – e eles são exclusivamente os que lidam com Lúcifer e sua mãe -, a grande maioria não prende a atenção, não anima e não faz a história macro andar. São 44 minutos que passam não necessariamente de forma lenta, mas daquele jeito assim desanimado, sem que cheguemos ao final satisfeitos de verdade. Pelo menos a química entre Ellis e Helfer resta confirmada e promete momentos inesquecíveis pela frente.
Falando nisso, a história da queda de Amenadiel, ao caminhar de lado, está conseguindo afastar o ótimo D.B. Woodside da câmera, convertendo um fascinante personagem em não mais do que um figurante. Espero fortemente que, agora que ele sabe que sua mãe está de volta, sua presença torne-se mais constante e seu segredo seja bem costurado na narrativa.
Por outro lado, minha suspeita na crítica do episódio anterior se confirmou e pode trazer bons frutos: “mamãe” assumirá de vez a vida de Charlotte, o corpo que ela ressuscitou e que agora a hospeda. Mal posso esperar para ver Tricia Helfer interagir com os “humanos fracotes” em seu dia-a-dia no escritório e especialmente em casa, com marido e filhos. Não gostaria de estar na pele dos entes queridos de Charlotte…
Sin-Eater desaponta em um momento perigoso da 2ª temporada. A presença de Helfer no elenco principal precisa solidificar-se de verdade e perder tempo precioso neste começo com Chloe e Dan e seus problemas de relacionamento foi uma escolha equivocada de Joe Henderson. É torcer para que o foco volte já no próximo episódio.
Lucifer – 2×03: Sin-Eater (Idem, EUA – 10 de outubro de 2016)
Desenvolvimento: Tom Kapinos (baseado em personagem criado por Neil Gaiman, Sam Keith e Mike Dringenberg)
Showrunner: Joe Henderson
Direção: Mairzee Almas
Roteiro: Alex Katsnelson
Elenco principal: Tom Ellis, Lauren German, Kevin Alejandro, D.B. Woodside, Lesley-Ann Brandt, Scarlett Estevez, Rachael Harris, Tricia Helfer, Aimee Garcia
Duração: 44 min.