Obs: Há potenciais spoilers. Leiam as críticas dos demais episódios, aqui.
Depois de dois episódios excelentes, que mergulharam profundamente na mitologia do protagonista e desenvolveram o arco sobrenatural maior ao mesmo tempo que trabalharam o arco do caso terreno que Chloe Decker investiga, a série volta a um semblante de normalidade. No entanto, é interessante notar que, apesar do retorno do “caso da semana”, parece que a temporada inaugural de Lucifer encontrou seu caminho, já que episódios completamente desapegados das linhas narrativas principais parecem ser coisa do passado.
Afinal de contas, ainda que mais um assassinato ocorra, dessa vez de um terapeuta que aconselha o adultério como forma de ajudar seus pacientes, e Lucifer e Chloe tenham que investigar, o caso em si é usado fortemente para trabalhar a relação entre os protagonistas, com a conveniência de se ter, formando uma espécie de ménage à trois, a Dra. Linda Martin como consultora depois que Lúcifer, aham… mexe os pauzinhos…
O ponto nevrálgico é o ciúme que Lúcifer sente de Chloe agora que ela parece estar reatando seu relacionamento com Dan. Ele não sabe nem como identificar o que sente e cabe à doutora contar a verdade e, então, ele passa a tentar a lidar com isso de sua própria forma, primeiro negando, depois compreendendo, mas, em última análise, rejeitando as conclusões completamente. O lado psicológico do anjo caído ganha muitas cores aqui, com um roteiro que sabe se beneficiar da situação para trazer diálogos bem trabalhados como de costume, mas que ganham ainda outra camada ao colocar tanto Chloe quanto Linda “contra” Lúcifer, que passa a agir na defensiva, para variar.
Além desse aspecto, o episódio lida com traição. Malcolm (Kevin Rankin) ressuscitou milagrosamente (digo, graças ao milagre feito por Amenadiel com fins torpes, claro) como vimos ao final de Wingman e o caso Palmetto, então, recebe mais atenção ainda do que o “caso da semana”. A introdução deste novo personagem, tantas vezes citado antes, promete trazer complicações para Chloe e nos revela algo que já estava ficando claro: Dan tem envolvimento escuso no caso também. O bom disso é que a série não perde seu foco e consegue desenvolver também seus personagens humanos, que ganham cada vez mais relevância narrativa.
Falando neles, é interessante notar como tanto os humanos como os não-humanos são bem trabalhados em Et Tu, Doctor?. Linda finalmente acorda para a situação que vive, recebendo sexo como pagamento por suas sessões de terapia; Chloe começa a voltar para Dan, o que a cega para os problemas no caso Palmetto; Dan ganha outra camada, só que bem mais sinistra; Amenadiel, apesar de não aparecer, tem parte de seu plano descoberto por Lúcifer e Maze é desmascarada pelo chefe, que, ato contínuo, a renega.
A mexida das peças no tabuleiro foi bem grande para um episódio que poderia ser visto como a calmaria após a tempestade. Agora que a “normalidade” da temporada foi restabelecida, é possível que o showrunner ache que é hora de sair novamente da zona de conforto. E isso é ótimo, não é mesmo?
Lucifer – 1×08: Et Tu, Doctor? (Idem, EUA – 14 de março de 2016)
Desenvolvimento: Tom Kapinos (baseado em personagem criado por Neil Gaiman, Sam Keith e Mike Dringenberg)
Showrunner: Joe Henderson
Direção: Eagle Egilsson
Roteiro: Jenn Kao
Elenco principal: Tom Ellis, Lauren German, Kevin Alejandro, D.B. Woodside, Lesley-Ann Brandt, Scarlett Estevez, Rachael Harris, AnnaLynne McCord, Kevin Rankin
Duração: 43 min.