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Crítica | Love, Death & Robots – 3ª Temporada

Retornando à forma.

por Ritter Fan
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Avaliação geral
(não é uma média)

  • Há spoilers leves.

Poucos dias depois do aniversário de um ano da razoavelmente desapontadora segunda temporada, eis que Love, Death + Robots, série composta por curtas animados de diferentes estúdios com curadoria de ninguém menos do que David Fincher e Tim Miller, ganha uma terceira temporada, desta vez com nove episódios, um a mais que a anterior, só que retornando à qualidade do ano original, que conteve assombrosos 18 exemplares. Mesmo que a preferência pela computação gráfica hiper-realista se confirme, afastando um pouco o potencial que a infinita variedade que a arte da animação permite e que foi recentemente bem aproveitada em Star Wars: Visions, a nova fornada de curtas cria alguns clássicos instantâneos e faz retornar aquela sempre positiva vontade de ver séries inteiras baseadas em alguns deles.

Falando em séries inteiras, a nova temporada traz a primeira “continuação” de um de seus curtas originais, o muito elogiado Três Robôs, que abre a seleção ao seguirmos a ordem do Netflix.  Havia especulação de outras continuações assim, mas fiquei feliz ao constatar que Fincher e Miller se limitaram a apenas um, pois Love, Death & Robots, para mim, é um laboratório para experimentações, não para repetições. Querem fazer uma série inteira dos Três Robôs, por favor façam, mas deixem a série de antologia com material inédito. E os outros oito curtas oferecem justamente isso, um passeio consideravelmente original por diversos caminhos diferentes, seja uma fascinante “pesca mortal” em um planeta diferentemente semelhante ao nosso; equipes de soldados lidando com ameaças estranhas – um urso biomecânico em um e um demônio lovecraftiano em outro; uma hilária história completa de stop-motion e dioramas sobre zumbis tomando o mundo, com começo, meio e fim que invejariam “muitas séries” com um caminhão de temporadas e diversos spin-offs que têm por aí; uma narrativa de luta pela sobrevivência em um planeta hostil que se revela como algo completamente diferente e inesperado, e uma fascinante e provocadora releitura da aventura de Ulisses, na Odisseia, quando precisa passar pelas sereias em seu retorno à sua ilha-natal.

Há uma variedade grande de obras e temas, revelando que a curadoria realmente caprichou nas escolhas e na qualidade técnica das obras em si, com espaço até mesmo para o próprio David Fincher dar o ar de sua graça na direção de Viagem Ruim, seu primeiro trabalho atrás das câmeras na série e, mais do que isso, seu primeiro trabalho de direção de uma animação, vale lembrar. O resultado é uma temporada novamente excelente, que volta a elevar a qualidade de Love, Death & Robots e a nos fazer esperar ansiosamente pelo que pode vir em futuro próximo.

Em razão do número diminuto de curtas, decidi, como na temporada anterior, fazer uma mistura de crítica geral com críticas específicas de todos os episódios e de ranking, tudo em um pacote só para todos os gostos. Vamos lá então para minhas “pílulas críticas” sobre cada um dos curtas, do pior ao melhor (e mandem a ordem de vocês!)?

9º Lugar:
Três Robôs
(Three Robots: Exit Strategies)

O simpático trio robótico do que talvez seja o curta mais famoso da primeira temporada retorna para mais uma história sobre o futuro pós-apocalíptico da humanidade, desta vez subtitulada Exit Strategies (que o Netflix sequer traduziu…), novamente com base em história de John Scalzi que, aqui, também escreveu o roteiro. Infelizmente, porém, o que temos dessa vez é, na melhor das hipóteses, exatamente o mesmo que tivemos da outra vez, só que com explicações mais detalhadas e mais didáticas para quem porventura não tenha entendido a lição de moral original, com um roteiro que explica o que mostra como um professor que lê sua apresentação de PowerPoint.

O que temos, portanto, é o apocalipse for dummies, com Scalzi conseguindo transformar sua premissa fascinante em algo tão pedestre, tão simplista e tão sem graça que acabou sendo um desperdício de espaço ter esse curta aqui no lugar de algo 100% original. Na história, os três robôs – que continuam tão simpáticos quanto antes, só que agora definitivamente mais chatos e óbvios – viajam para a Terra para ver como é que os humanos das mais diferentes camadas sociais lidaram, sem sucesso, com o apocalipse, em uma espécie de abordagem que me lembrou o também insuportavelmente didático – e talvez por isso bem-sucedido – Não Olhe para Cima, só que sem o atrativo automático do ótimo elenco humano, lógico.

Como ponto positivo, além de algumas tiradas minimamente engraçadas do curta, como o momento que marca a “revolução das máquinas”, temos, como já era de se esperar, a animação em si, que lida com um hiper-realismo levemente caricatural que torna a presença dos três bem diferentes robôs nas paisagens desoladas algo quase que completamente natural e lógico, como turistas em um país exótico. Além disso, o cuidado do design de produção para criar os cenários variados – da fortaleza dos caipiras, passando pelo bunker na montanha, chegando à plataforma petrolífera retrofitada, tudo funciona visualmente muito bem, o que torna ainda mais evidente o quanto o texto falha em acrescentar algo de valor ao que podemos ver e deduzir sem o blá, blá, blá professoral por trás.

Três Robôs (Three Robots: Exit Strategies, EUA)
Direção: Patrick Osborne
Roteiro: John Scalzi (baseado em história de John Scalzi)
Elenco: Josh Brener, Gary Anthony Williams, Katie Lowes, Chris Parnell
Estúdio:
Blow Studio
Duração: 11 min.

8º Lugar:
Enxame
(Swarm)

Enxame tem, em essência, o mesmo problema macro de Três Robôs: Exit Strategies, ou seja, é de um didatismo enervante. Mas, aqui, o didatismo tem uma razão de ser, que é explicar o fascinante e gigantesco ambiente simbiótico para aonde Simon Afriel (Jason Winston George), um cientista da Terra, vai com a ajuda de uma raça alienígena, para uma missão de dois anos. Lá chegando, ele é recebido pela pesquisadora Galina (Rosario Dawson), também da Terra, que, então, passa a ciceroneá-la pelo local, informando-o sobre como a colônia funciona e como ela absorve outras espécies que passam a ter funções específicas dentro da dinâmica do que é, em essência, uma colmeia espacial.

No processo, aprendemos sobre o verdadeiro objetivo da presença de Afriel por ali, algo que é também exposto de maneira didática e consideravelmente cansativa, com direito a algumas elipses temporais que não são muito bem conduzidas. Seja como for, o lado National Geographic do curta é absolutamente fascinante, servindo para que o Blur Studio exiba sua capacidade de animação em CGI e Bruce Sterling, criador da história, sua criatividade. No entanto, quando o fascínio começa a se esvair e um semblante de história maior começa a ser formado, o curta acaba abruptamente, deixando o espectador no ar, como se tudo o que tivéssemos visto até o momento fosse um preâmbulo ou um exercício de criatividade visual sem compromisso em pelo menos haver um semblante de arco narrativo.

E não é que que quisesse um final definitivo, mas sim que pelo menos houvesse um encerramento que não parecesse algo como “aguarde pelo segundo capítulo para saber como Afriel se livrará da enrascada em que se meteu” narrado em off por uma voz grave. Do jeito que ficou, Enxame não passa de um esboço de curta que ficou incompleto por tomar mais tempo do que a produção tinha disponível, mesmo que seus conceitos e seus visuais sejam de cair o queixo.

Enxame (Swarm, EUA)
Direção: Tim Miller
Roteiro: Tim Miller, Philip Gelatt (baseado em história de Bruce Sterling)
Elenco: Rosario Dawson, Jason Winston George
Estúdio:
Blur Studio
Duração: 17 min.

7º Lugar:
Matança em Grupo
(Kill Team Kill)

Matança em Grupo entrega o que os títulos em português e em inglês prometem: um morticínio completo, no melhor estilo “tiro, bomba, explosão” de Michael Bay usando esteroides depois de uma noitada regada à todos os tipos de drogas possíveis. Usando animação tradicional – e, com isso, eu quero dizer que não é CGI hiper-realista, ainda bem -, o curta parece uma animação de G.I. Joe, só que em sua versão absurda e hilariamente extrema, violenta e sanguinolenta, com um grupo de soldados liderados por um sargento marombado (Joel McHale claramente se divertindo demais) enfrentando um enorme urso biotecnológico.

A lógica por trás da premissa é, sob qualquer ponto de vista, no mínimo frágil, mas isso realmente não importa aqui. O que há de importante em Matança em Grupo é a matança, é o tiroteio, são as explosões que Jennifer Yuh Nelson (de Esquadrão de Extermínio, mais conhecido como o melhor curta da temporada anterior) dirige incorporando todo os clichês dos filmes de brucutu dos anos 80, mas duplicando-os… não, minto, quadruplicando-os, em uma aventura honesta, muito bem feita em termos técnicos e que existe unicamente para vermos gente morrendo das maneiras mais horrendas possíveis a ponto de tudo ser engraçado (o elenco de voz não teria McHale, além de Seth Green se não fosse para ser engraçado).

Eu não falei nos parágrafos de abertura que a terceira temporada da série tinha episódios que trazem de volta aquela vontade de vê-los em forma de série? Pois bem, esse é um deles, pois o mundo está perfeitamente preparado para esse nível de pancadaria descerebrada para desopilar o fígado depois de um dia de trabalho estafante. Se o urso biomecânico já foi capaz de causar esse estrago todo, imaginem só o que tubarões, búfalos, tigres e rinocerontes não fariam?

Matança em Grupo (Kill Team Kill, EUA)
Direção: Jennifer Yuh Nelson
Roteiro: Philip Gelatt (baseado em história de Justin Coates)
Elenco: Joel McHale, Seth Green, Gabriel Luna, Steve Blum, Andrew Kishino
Estúdio:
Titmouse, Inc
Duração: 13 min.

6º Lugar:
Sepultados na Caverna
(In Vaulted Halls Entombed)

Sepultados na Caverna é, essencialmente, exatamente a mesma coisa que Matança em Grupo, ou seja, a história de um grupo de soldados enfrentando uma ameaça misteriosa, com consequências catastróficas, o que me leva à concluir que teria sido mais interessante se a curadoria tivesse deixado este ou o outro para uma compilação futura. As diferenças ficam na técnica de animação, aqui CGI hiper-realista e na ameaça em si, saindo o urso biomecânico e entrando um sensacional demônio lovecraftiano, que é, no fundo, a razão pela qual eu coloquei esse curta na frente do anterior, já que Lovecraft é Lovecraft.

Não, mentira, não foi só por causa disso. Enquanto Matança em Grupo é apenas um exercício em pancadaria descerebrada, este aqui oferece um pouco mais, desvelando sinais da maldade humana e da falta de honra e covardia entre soldados, tudo em uma estrutura narrativa que lembra uma versão mais veloz e furiosa – e, portanto, bem menos elegante – de Alien, o Oitavo Passageiro. O design de produção é também impressionante, com o templo/prisão em proporções gigantes evocando a grandiosidade daquilo que não vemos e que não é mostrado, ou seja, quem construiu aquilo, além de criar uma atmosfera claustrofóbica mesmo com os amplos espaços utilizados. Não sou particularmente fã do uso das “aranhas fosforescentes”, pois já vimos isso antes tantas vezes que até cansa, mas, como elas são apenas um meio para que os protagonistas cheguem ao tal lugar alienígena, não tenho muito do que reclamar.

Com um final pesado e uma atmosfera assustadora que teria se beneficiado de mais alguns minutos, Sepultados na Caverna é um inspirado assombro lovecraftiano que não chega a ser a coisa mais original do mundo, mas consegue construir uma narrativa angustiante e nihilista. Está aí uma boa ideia para, talvez, um longa animado de horror.

Sepultados na Caverna (In Vaulted Halls Entombed, EUA)
Direção: Jerome Chen
Roteiro: Philip Gelatt (baseado em história de Alan Baxter)
Elenco: Joe Manganiello, Christian Serratos, Jai Courtney, Debra Wilson, Fred Tatasciore, Noshir Dalal, Stanton Lee, Jeff Schine
Estúdio:
Sony Pictures Imageworks
Duração: 15 min.

5º Lugar:
Noite dos Minimortos
(Night of the Mini Dead)

Tenho minhas dúvidas sobre a exata técnica utilizada em Noite dos Minimortos, se stop-motion real com dioramas físicos ou se é tudo CGI emulando stop-motion e dioramas. Talvez alguém com olhar mais especializado do que o meu possa me informar nos comentários. Seja como for, o mais curto curta da compilação chega às raias da genialidade ao contar, em brevíssimos sete minutos sem personagens, sem trabalho de voz e sem nenhum plano que não seja o geral – que me lembrou o game Age of Empires, que joguei em priscas eras, confesso – a história de um apocalipse zumbi que começa com uma transa profana em um cemitério e acaba com um hilário e ao mesmo tempo sóbrio “pluft”.

Como disse lá no texto introdutório, o que Robert Bisi e Andy Lyon fazem em Noite dos Minimortos em termos de direção e roteiro é algo que é raro de se ver em séries milionárias de TV: a capacidade de se contar uma história relevante com concisão e lógica. Sei que uma série precisa de núcleos de personagens, histórias paralelas e tudo mais para se manter de pé ano após ano, mas Bisi e Lyon regem uma orquestra aqui e essa orquestra não tem um acorde fora do lugar, mesmo que os recursos utilizados sejam quase exclusivamente visuais (o outro recurso é o sonoro, com um soberbo trabalho de produção e edição nesse aspecto) e mesmo que tudo o que vejamos seja à distância.

Noite dos Minimortos é uma surpresa pela sua originalidade, execução e capacidade de se contar uma história, nos dias de hoje, sem diálogos ou narração, um risco por si só (vide o reverso disso em Três Robos: Exit Strategies…). Espero ver a dupla de volta em alguma futura temporada da série com outra abordagem nesse estilo.

Noite dos Minimortos (Night of the Mini Dead, EUA)
Direção: Robert Bisi, Andy Lyon
Roteiro: Robert Bisi, Andy Lyon (baseado em história de Jeff Fowler, Tim Miller)
Elenco: Não há.
Estúdio:
BUCK
Duração: 7 min.

4º Lugar:
Ratos de Mason
(Mason’s Rats)

Em uma Escócia futurista cyberpunk, Mason (Craig Ferguson) um velhinho fazendeiro tem sérios problemas com ratos particularmente inteligentes que, armados até os dentes, tomaram seu celeiro. A solução, claro, é chamar um exterminador da empresa Traptech (voz de Dan Stevens) que usa alta e mortal tecnologia de robôs e lasers para eliminar a praga, o que transforma o celeiro em um campo de batalhas cada vez mais sangrentas enquanto Mason faz seu trabalho diário.

O CGI é no estilo hiper-realista, mas o design dos personagens é caricatural tanto para os humanos quanto para animais e também para as construções e gadgets, o que empresta um bem-vindo ar Looney Tunes ao curta cuja história também pode ser vista como uma versão roedora do espírito de luta e revolta do povo escocês contra a tirania britânica. A simpatia rabugenta de Mason com basicamente todo mundo, especialmente com o impessoal representante da empresa “dedetizadora” é hilária e muito bem conduzida pelo trabalho de voz de Ferguson, assim como seu lento reconhecimento de que seus inimigos roedores talvez sejam mais valorosos e menos inimigos do que originalmente imaginava.

Ratos de Mason é um curta de qualidade invejável, daqueles que dá vontade de ver e rever diversas vezes para reparar nos detalhes dos cenários e dos figurinos (especialmente dos ratos), mesmo considerando que o nível de violência explícita anti-roedor é bastante grande, o que pode afastar muita gente. O Coração Valente cyberpunk com ratos de Carlos Stevens tem tudo que podemos esperar de uma história assim, pancadaria, morticínio e, acima de tudo, por incrível que pareça, ternura.

Ratos de Mason (Mason’s Rats, EUA)
Direção: Carlos Stevens
Roteiro: Joe Abercrombie (baseado em história de Neal Asher)
Elenco: Craig Ferguson, Dan Stevens
Estúdio:
Axis Studios
Duração: 10 min.

3º Lugar:
Viagem Ruim
(Bad Travelling)

Quando terminei de assistir Viagem Ruim, o segundo na ordem de apresentação do Netflix, tive a prematura certeza absoluta de que tinha visto o ponto alto da temporada, algo que foi inconscientemente confirmado pelo nome de David Fincher como diretor nos créditos finais. Bem, como é possível verificar nesta minha lista pessoal, eu estava errado – o que é ótimo – mas nem tanto assim, pois a animação sombria sobre pescadores em um planeta estranho que passam a ser controlados por um caranguejo mortal e senciente, capaz de falar por intermédio de uma carcaça humana que manipula, é um triunfo audiovisual.

A mais importante característica do curta, porém, não é seu design de produção magnífico, capaz de criar ambientes alienígenas que se mantêm familiares, monstros ameaçadores e humanos fotorrealistas – levemente caricaturais, porém – em uma batalha de vida ou morte, mas sim seu protagonista, o marinheiro Torrin (Troy Baker, talvez mais conhecido como Joel, de The Last of Us, em outro soberbo trabalho de voz) que, não demora, passa a ser o capitão de fato da embarcação. O roteiro de Andrew Kevin Walker, com base em história de Neal Asher, sabe manter a dubiedade sobre o personagem do começo ao fim. Ele demonstra logo cedo que sabe ser impiedoso quando precisa, mas também vemos um outro lado dele quando ele revela que não gosta nada da ordem do crustáceo de levá-lo a uma ilha habitada, onde poderá fazer incontáveis novas vítimas. Seu senso de justiça e honradez, apesar de submerso em atitudes violentas, evoca um pouco o Capitão Nemo, de Vinte Mil Léguas Submarinas com o horror daquele famoso capítulo de Drácula, em que a jornada de navio do vampiro até a Inglaterra é relatada e, claro, aquele reality show que não acaba nunca sobre pescadores de caranguejos no Mar de Bering.

Viagem Ruim é um curta de horror do mais alto gabarito que discute dilemas morais em meio a uma atmosfera opressiva e mortal, com direito a um CGI de arregalar os olhos por conseguir lidar muito bem com sombras, sanguinolência, criaturas e humanos em um conjunto harmônico que parece ter vindo diretamente das profundezas do inferno. Depois dessa experiência, comer caranguejo não será mais tão prazeroso!

Viagem Ruim (Bad Travelling, EUA)
Direção: David Fincher
Roteiro: Andrew Kevin Walker (baseado em história de Neal Asher)
Elenco: Troy Baker, Kevin Jackson, Anthony Mark Barrow, Chantelle Barry, Parry Shen, Time Winters, James Preston Rogers, Jason Flemyng, Elodie Yung, Max Fowler
Estúdio:
Blur Studio
Duração: 21 min.

2º Lugar:
O Mesmo Pulso da Máquina
(The Very Pulse of the Machine)

O que dizer do sci-fi realista com pegada alucinógena à la 2001 – Uma Odisseia no Espaço que é O Mesmo Pulso da Máquina, dirigido por Emily Dean com base em roteiro de Philip Gelatt a partir de história de Michael Swanwick? Não só temos o excelente uso da animação tradicional para nos refestelarmos, como também a ambientação em Io, lua de Júpiter, evocando os desertos mais remotos aqui da Terra, em um design de produção belíssimo, além de uma angustiante história de sobrevivência em que a astronauta Martha Kivelson (Mackenzie Davis) precisa andar sozinha por dezenas de quilômetros carregando o corpo de sua colega Burton (Holly Jade) de forma a permanecer conectada com seu oxigênio, depois de um acidente.

Kivelson, que precisa recorrer a medicações de efeitos psicotrópicos para resistir à dor e ganhar mais resistência, começa a ter sua conexão com a realidade desafiada, algo amplificado por sua exaustão e desesperança. Na medida em que avança, ela começa a ouvir a voz de Burton recitando trechos de livros e também, ao que tudo indica, passando mensagens importantes sobre a natureza da lua em que estão. O quanto tudo é fruto dos medicamentos e o quanto é realidade é algo que fica para o espectador decidir, mesmo até seu final que parece indicar uma direção.

O Mesmo Pulso da Máquina é uma obra que definitivamente mereceria o tratamento cinematográfico, talvez por um cineasta como James Gray, que já  mostrou compreensão sobre a natureza e relevância de sci-fis minimalistas e existenciais. Mesmo que a obra nunca dê esse pulo de mídia, os 17 minutos a que somos brindados já nos alimentam de toda a abordagem narrativamente significativa que uma obra como essa tem a oferecer a quem aprecia esse tipo de ficção científica.

O Mesmo Pulso da Máquina (The Very Pulse of the Machine, EUA)
Direção: Emily Dean
Roteiro: Philip Gelatt (baseado em história de Michael Swanwick)
Elenco: Mackenzie Davis, Holly Jade, David Shatraw
Estúdio:
Polygon Pictures
Duração: 17 min.

1º Lugar:
Fazendeiro
(Jibaro)

Deixe-me colocar categoricamente da seguinte maneira: se todos os demais outros curtas da terceira temporada de Love, Death & Robots fossem péssimos, abissais, tenebrosos, mesmo assim tudo teria valido a pena em razão de Fazendeiro (Jibaro). Ou talvez dessa outra forma aqui: Fazendeiro (Jibaro), é tão superior aos demais já bons curtas da presente compilação – não se deixem enganar por ele ser “apenas” meio HAL superior aos demais, pois a comparação de notas é exercício para crianças de oito anos – que se a temporada toda fosse apenas ele, ela já seria espetacular o suficiente, até porque finalmente temos uma obra desse trabalho de curadoria de David Fincher e Tim Miller que faz Zima Blue suar para manter o posto de melhor da série, posto esse que, muito sinceramente, para mim, passou a ser de Jibaro.

Não pretendo  me alongar na análise do curta, pois ele é algo para ser sentido, visto e ouvido muito mais do que explicado, bastando mencionar, para fins de sinopse, que se trata da história de uma sereia porto-riquenha (a geografia é determinada pelo uso da palavra “jibaro” que, aqui, também é o nome do protagonista masculino) enfrentando conquistadores espanhóis de armadura com sua voz que os atraem para as profundezas do cenote em que vive. Um deles, porém, é surdo e não cai na tentação, o que automaticamente cria uma fascinação e uma conexão de amor e ódio entre os dois que é a receita para a autodestruição mútua em uma narrativa que lida com o colonialismo de maneira lírica, mas sem perder a força da crítica.

O uso do CGI hiper-realista, aqui, é coisa de outro mundo. Literalmente. Afinal, hiper-realista não é uma descrição precisa, pois há uma fusão de realismo, com um lado místico que estabelece o uso de outras técnicas de computação gráfica, como a que retira a “definição” da vegetação local ou a que, ao contrário, amplifica o realismo do metal que cobre o corpo da sereia. O design de produção é outro aspecto que desafia descrições, bastando olhar os detalhes das armaduras dos soldados, das tatuagens em seus rostos e das cores dos cavalos e isso porque nem preciso mencionar a própria sereia em si. E, claro, há a arquitetura sonora que não só é essencial em sua forma de lidar com a surdez de Jibaro, contrastando-a com a riqueza de sons ao seu redor, como cada movimento da vegetação, cada cintilar do ouro e das pedras preciosas que adornam a sereia ganha destaque. É, realmente, um trabalho impressionante que transforma cada frame em uma obra de arte merecedora de ser enquadrada e exposta em museu.

Fazendeiro (Jibaro, EUA)
Direção: Alberto Mielgo
Roteiro: Alberto Mielgo
Elenco: Girvan ‘Swirv’ Bramble
Estúdio:
pinkman.tv
Duração: 17 min.

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Love, Death & Robots – 3ª Temporada (Idem, EUA – 20 de maio de 2022)
Produção: Joshua Donen, David Fincher, Jennifer Miller, Tim Miller

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