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Crítica | Lost Girls and Love Hotels (2020)

por Guilherme Rodrigues
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No auge da rede social Tumblr, alguns tipos de postagem eram bem comuns entre os usuários. Gifs de imagens desfocadas com paisagens urbanas, cuja legenda era alguma frase romântica bonitinha. Haviam também imagens de casais, algumas mais fofas, outras com apelo mais erótico, voltadas ao BDSM e afins. retiradas de um filme ou não, também com frases de efeito. Esses conteúdos eram compartilhados pelos usuários com ares de complexidade, como se alguma verdade profunda estivesse ali.

Pode parecer estranho falar da rede social, já que Lost Girls and Love Hotels não tem nada a ver com o mundo da internet, pelo contrário, visto que ela nem fatora na narrativa. Mas não conseguia assistir ao longa sem pensar em quase todo momento “isso daria uma postagem de Tumblr perfeita”. O diretor William Olson constrói um visual muito similar às imagens que citei no parágrafo prévio, com baixa profundidade de campo para retratar as paisagens de Tokyo, cuja protagonista, Margaret (Alexandra Daddario), navega. Também similar ao conteúdo do Tumblr é a aparência de algo profundo está sendo exibido ali, como se vozes sussurradas e fundo desfocado fossem substitutos para conteúdo emocional.

A produção acompanha Margaret, uma jovem americana que mora em Tokyo, e trabalha como assistente de um curso para aeromoças, e a noite bebe com outros amigos estrangeiros, como o escocês Liam (Andrew Rothney) e Ines (Carice Van Houten). Ela vaga pelas noites da cidade em busca de homens que a levem para um “Love Hotel”, uma espécie de motel para estadias de curta duração, comum no Japão. Ela acaba se apaixonando por um desses homens, o misterioso Kazu (Takehiro Kira), e acaba tendo sua vida alterada por esse encontro.

Em um primeiro momento, a obra é até bem ambientada, abrindo com a protagonista caminhando por um túnel, com uma sensação muito forte de deslocamento, a câmera está na frente dela, então não vemos para onde ela está indo, assim não se vê de onde ela veio, pois a face dela também tampa essa direção, e Daddario apresenta um olhar desfocado no rosto. Aqui e ali, o filme apresenta sacadas visuais muito interessantes, como um plano que se abre para simbolizar uma quebra de intimidade, e o impacto que Kazu causou logo no primeiro encontro com Margaret também é muito bem demarcado por meio do som, que toma conta da cena, marcando a intensidade daquele momento.

Mas para um filme com um foco tão grande em pessoas, há pouco interesse em dar qualquer espécie de profundidade aos envolvidos na trama, e no lugar tenta colocar frases que soam bonitas mas que pouco querem dizer no contexto da trama. “Você era como uma loba uivando para a Lua” diz Ines certa hora para a personagem principal, mas isso não é exemplificado de modo algum, e nem faz sentido diante do que foi apresentado de Margaret até então. O máximo que o longa consegue fazer é apresentar um estranho julgamento moral para as decisões de Margaret, já que coloca certos fetiches da personagem, como o desejo de ser amarrada, como símbolo da instabilidade emocional da personagem.

Na verdade, há toda uma aura machista no modo como Margaret é representada. Antes dela encontrar seu “homem ideal”, ela chega atrasada ao trabalho e passa as noites transando com estranhos. Já no dia seguinte após seu primeiro encontro com Kazuo, ela chega até mais cedo ao trabalho, como se tudo que faltasse na vida dela para se “ajustar” fosse o homem certo.

Lost Girls and Love Hotels lembra muito Encontros e Desencontros, desde o cenário até o sentimento de isolação de seus personagens, mas combina isso com as piores características da franquia 50 Tons de Cinza, colocando práticas sexuais como sinais de distúrbios emocionais e mornas cenas de sexo. Mas tem suas cenas esteticamente bonitinhas e frases charmosas para colocar em redes sociais, talvez isso compense a falta de emoção.

Lost Girls & Love Hotels (Reino Unido, 23 de setembro de 2020)
Direção: William Olsson
Roteiro: Catherine Hanrahan (adaptado do livro da mesma autora)
Elenco: Alexandra Daddario, Takehiro Hira, Carice van Houten, Andrew Hothney, Misuzu Kanno, Yasunari Takeshima, Kate Easton, Haruka Imô, Yu Mizuhara, Mariko Tsutsui.
Duração: 97  min.

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