O novo longa-metragem de Lionel Baier não poderia contar com um título melhor. A Revolução dos Cravos, que se destaca pelo seu caráter pacífico, desencadeou o fim das ditaduras fascistas ao redor do mundo – foi a motivação dos revolucionários e medo das autoridades em governos como do Chile, Espanha e Brasil. Foi uma grande onda que trouxe de volta, aos poucos, a democracia a diversos países.
Tal movimento, porém, pega de surpresa os radiojornalistas Julie (Valérie Donzelli), Cauvin (Michel Vuillermoz) e Bob (Patrick Lapp), que foram enviados da Suíça para realizar uma matéria sobre a ajuda de seu país em obras portuguesas em pleno Abril de 1974. O que vemos é bastante similar a um road-movie enquanto cada tentativa de entrevista se prova pior do que a outra. A empreitada seria em vão, não fosse o estouro da revolução.
Longwave, contudo, somente nos mostra o fim do movimento e ainda de maneira bastante banal. Em raros momentos sentimos que aquele foi de fato foi a causa da queda do Estado Novo, governo que há quarenta e um anos dominava o país. Essa fraqueza na representação de tal momento histórico é amplificada por situações sem sentido dentro da obra. A mais marcante dessas se revela durante uma cena de abuso sexual que se transforma em uma dança coreografada simbolizando a luta entre os agentes salazaristas e os revolucionários. Tal sequência contaria com grande força se não estivesse perdida dentro da trama.
Entretanto, enquanto o filme soa passageiro na retratação histórica, ele não peca nas relações entre os personagens. O roteiro de Lionel Baier e Julien Bouissoux foca nas diferenças entre cada um deles. Os constantes atritos entre Julia, a feminista ferrenha, e Bob, o jornalista de guerra com perdas de memória, garantem o humor do longa que é expressado através de pequenas e simples situações, nuances do diálogo e um preciso trabalho da fotografia de Patrick Lindenmaier. Longwave, contudo, peca novamente quando sua comédia tende ao exagero, algo que acontece, majoritariamente, no terço inicial da obra.
As desavenças entre os personagens aos poucos acabam por aproximá-los e tal progressão é realizada de forma efetiva pelo roteiro. No fim chega a ser palpável os efeitos da viagem dentro de cada um deles. O tempo passado é retratado fielmente através da montagem de Pauline Gaillard, que encadeia os enquadramentos, geralmente estáticos, através de sucessivos cortes secos. Tal trabalho de edição acabaria por tirar a imersão do espectador não fossem os quase hipnóticos quadros da fotografia.
Longwave é um filme que soa passageiro, devido à sua retratação da revolução. Ao mesmo tempo essa efemeridade é eliminada pela profundidade de seus personagens que claramente evoluem ao longo da trama. É uma obra que atinge o espectador como uma inesperada onda – ela nos pega de surpresa ao passo que transforma uma reportagem qualquer em uma das mais importantes do século XX. Apesar de diversos deslizes na comédia e na progressão da narrativa ainda vale a pena ser assistido.
Longwave – Nas Ondas da Revolução (Les grandes ondes (à l’ouest)) – Suiça, França, Portugal, 2013
Direção: Lionel Baier
Roteiro: Lionel Baier, Julien Bouissoux
Elenco: Valérie Donzelli, Michel Vuillermoz, Patrick Lapp, Francisco Belard, Jean-Stéphane Bron, Paul Riniker, Patricia André, Adrien Barazzone
Duração: 85 min.