- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.
Apesar de dois episódios iniciais realmente fracos, ainda tinha esperança de que a segunda temporada de Loki saísse de sua mesmice verborrágica, autoexplicativa e autorreferencial para começar a mostrar a que veio e isso, ainda bem, finalmente começa a acontecer em 1893, episódio que cumpre a promessa da segunda cena pós-créditos de Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania e mostra como e porque Loki e Mobius encontram Victor Timely, variante de Kang, no final do século XIX. Ainda é pouco para justificar a existência da temporada, mas não há dúvidas de que é um primeiro passo para a continuação das aventuras das variantes de Loki encontrar seu norte.
Para começo de conversa, o mero fato de que 1893 quase não se passar no quartel-general da AVT já é uma lufada de ar fresco. Eu não aguentava mais aquela repartição pública que, se foi algo interessantíssimo e original na primeira temporada, na segunda estava parecendo mais uma medida de economia da produção que se recusava a sair dali. Ambientar o episódio em dois momentos do século retrasado em Chicago, primeiro em 1868, com a Senhorita Minutos instruindo Ravonna Renslayer a jogar um manual de instruções da AVT pela janela de um jovem Victor Timely e, depois, no ano do título, com as duas tentando arregimentar o personagem para sua causa, com Loki e Mobius ao seu encalço, é uma daquelas escolhas que plenamente demonstram onde o orçamento da série foi empregado.
Tudo funciona nesse passado em termos estéticos. Figurinos cuidadosos e detalhados, uso de cenários físicos amplificados digitalmente que são igualmente bem trabalhados e muito convincentes, com o emprego de uma saudável quantidade de extras para dar vida à Exposição Universal de Chicago e, claro, a presença magnética de Jonathan Majors em uma ótima versão insegura e trapaceira de Kang, verdadeira antítese do personagem introduzido em For All Time. Always., mas que ao mesmo tempo consegue de certa forma invocá-lo, como dois lados de uma mesma moeda ou como o começo e o fim. É, em resumo, o que a temporada deveria ter sido desde o começo.
Ajuda muito também a interação entre uma cada vez mais confiante Renslayer e uma para lá de traiçoeira Senhorita Minutos (a versão em preto e branco dela para que ela não se destaque no passado é hilária) em uma conexão que funciona desde o começo, algo muito diferente da ainda problemática relação entre Loki, Mobius e Sylvie, com os três tentando encontrar novamente suas respectivas vozes e química, mas falhando constantemente, muito em razão de um roteiro que faz deles o equivalente dos Keystone Kops do Universo Cinematográfico Marvel. Se Tara Strong só na voz e Gugu Mbatha-Raw dão um show já na largada, Tom Hiddleston, Sophia Di Martino e Owen Wilson parecem perdidos em uma sucessão de sequências de ação que só acabam funcionando pelo tom farsesco que a direção de Kasra Farahani consegue imprimir, o que automaticamente leva ao frescor narrativo que a temporada desesperadamente precisava.
A entrada de Victor Timely na história promete mudar o rumo deste segundo ano, mas se e somente se sua chegada na AVT não se limitar a mais uma leva de tecno-baboseiras sendo derramadas no colo do espectador como se fossem as coisas mais espertas do mundo e se o tal segredo que a Senhorita Minutos tem a revelar sobre Renslayer (seria Renslayer uma variante de Kang, mais ou menos o que Sylvie é para Loki?) realmente fizer a diferença e não for apenas um cliffhanger bobalhão ou um deus ex machina safado que só retornará nos segundos finais do sexto episódio. É muito fácil errar nesse ponto de virada, mas eu mantenho meu fiapo de esperança de que, a partir de agora, a temporada conseguirá repetir o feito da primeira, que foi oferecer algo inusitado e diferente ao UCM e não apenas mais do mesmo. Só o tempo dirá!
Loki – 2X03: 1893 (EUA, 19 de outubro de 2023)
Criação e desenvolvimento: Michael Waldron
Direção: Kasra Farahani
Roteiro: Eric Martin, Kasra Farahani, Jason O’Leary
Elenco: Tom Hiddleston, Sophia Di Martino, Owen Wilson, Wunmi Mosaku, Eugene Cordero, Rafael Casal, Kate Dickie, Liz Carr, Neil Ellice, Ke Huy Quan, Tara Strong, Gugu Mbatha-Raw, Jonathan Majors
Duração: 55 min.
