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Crítica | Loki – 2X01: Ouroboros

Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

Apesar de eu ter gostado bastante da primeira temporada de Loki, como minhas análises não me deixam mentir, a série nunca verdadeiramente me atraiu para além do “que legal, um Loki jacaré” e coisas assim. Seja como for, considerando a transformação do que havia sido inicialmente vendido como uma minissérie em série e a consequente entrega de um final completamente aberto que, não satisfeito, introduziu um vilão – ou a variante de um vilão – no último segundo que, ato contínuo, nos brindou com um extenso e cansativo monólogo sobre as regras do multiverso, aguardava a segunda temporada com um certo temor.

E Ouroboros basicamente materializa meu temor.

O episódio inaugural do novo ano das desventuras de Loki Laufeyson pelo tempo e espaço é, em poucas palavras, uma interminável verborragia supostamente esperta que destila mais regras, desta vez sobre o funcionamento da AVT e sobre como evitar que o protagonista continue “derrapando pelo tempo” como o vemos fazer ao longo da minutagem. Quando Ke Huy Quan é introduzido como Ouroboros, ou O.B., basicamente o mesmo personagem que ele vive no tão festejado e oscarizado filme sobre multiverso que ele co-protagonizou e começa a despejar linhas de diálogo como se estivesse tentando emular um locutor de corrida de cavalos, minha paciência foi para o brejo. E não ajudou em nada que a ótima conexão entre Loki e Moebius perca espaço nesse processo, com um frenesi caótico – no sentido ruim – na AVT sendo usado como um pano de fundo vazio de significados maiores para além do óbvio ululante.

Mas com isso eu não quero dizer que Ke Huy Quan, Tom Hiddleston e Owen Wilson não estão bem em seus respectivos papeis, pois eles estão na medida que o roteiro pede e é justamente no roteiro que o problema reside. Atores apenas muito raramente conseguem fazer milagres quando os textos que lhes são entregues não estão à altura de seus talentos e nenhum milagre é feito aqui. Sim, Quan é simpático (como ele ganhou aquele Oscar, aí já é outra conversa…), Hiddleston tem a mesma enorme presença e magnetismo em tela e Wilson usa seu estilo “cachorrinho pidão” para atrair o espectador, mas tudo é tão corrido e tão cheio de baboseiras tecnológicas (o famoso technobabble que é usado desde tempos imemoriais no audiovisual, mas há usos e usos, claro) jogadas no colo do espectador na base de 10 palavras por segundo que o drama se esvazia e, com isso, o elenco.

A direção da inseparável dupla formada por Justin Benson e Aaron Moorhead, porém, faz o que pode com o roteiro enlouquecido de Eric Martin e acaba entregando uma narrativa audiovisual que, apesar de exaustiva, daquelas de dar vontade de pausar para descansar um pouco (e não, eu não fiz isso, apenas tive vontade!), mantém uma boa coesão e uma certa fluidez que ajuda a tornar o palavrório um pouco mais palatável. O mesmo pode ser dito da direção de arte que se esmera em criar uma variedade de ambientes diferentes, em momentos temporais diferentes, que mantém a identidade da AVT, especialmente o tom sépia que a fotografia exalta.

No final das contas, Ouroboros é o equivalente televisivo de um manual de instruções. As regras estão postas e, com base nelas, caberá à produção desenvolver a narrativa seguindo uma certa lógica interna, mesmo que haja espaço para que as regras sejam alteradas. Da mesma forma, há o bom uso de mistérios e tramas paralelas que alimentam o interesse pela série, seja quem exatamente podou Loki ou a relação de X-5 (Rafael Casal) com a General Dox (Kate Dickie) ou, claro, o que exatamente Sylvie está fazendo em um McDonald’s em Broxton, Oklahoma, em 1982. Mas, claro, se o derramamento de diálogos expositivos continuar nesse ritmo, saberemos disso tudo e muito mais nos primeiros cinco minutos do próximo episódio…

P.s.: Se eu me importo que as regras de viagem no tempo foram novamente alteradas no Universo Cinematográfico Marvel, se é que foram? Não, não me importo nem um pouco, mas nem um tiquinho. E não considero furo e não levo isso em consideração para minhas análises.

Loki – 2X01: Ouroboros (EUA, 05 de outubro de 2023)
Criação e desenvolvimento: Michael Waldron
Direção: Justin Benson, Aaron Moorhead
Roteiro: Eric Martin
Elenco: Tom Hiddleston, Sophia Di Martino, Owen Wilson, Wunmi Mosaku, Eugene Cordero, Rafael Casal, Kate Dickie, Liz Carr, Neil Ellice, Ke Huy Quan
Duração: 47 min.

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