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Crítica | Lois & Clark: As Novas Aventuras do Superman – 1X01: Pilot

por Davi Lima
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Bem-vindos ao Plano Piloto, coluna dedicada a abordar exclusivamente os pilotos de séries de TV.

Número de temporadas: 4
Número de episódios: 87
Período de exibição: 12 de setembro de 1993 – 14 de junho de 1997
Há reboot? Não.

Os anos noventa foram um período frutífero para a cultura pop, especialmente para o Superman. Enquanto nos quadrinhos da editora DC Comics o grande projeto A Morte do Superman criava um suspiro com a importância do personagem azulão em meio a queda de vendas das HQs, a série Lois & Clark: As Novas Aventuras do Superman, produção da Warner Bros. Television televisionada pelo famoso canal americano ABC, trouxe o kryptoniano tendo a visão do Superman como disfarce, influenciado pela nova origem do super-herói escrito por John Byrne nos quadrinhos. Um projeto foi fruto do outro, em vista do adiamento do casamento de Lois e Clark nos quadrinhos para ser simultânea com o progresso do romance na série. Nisso, criou-se um curto projeto transmídia com o herói clássico nascido no Kansas num período de propulsão progressista de causas sociais e globalização, caracterizando a morte do Superman como voz de relevância do seu símbolo e tornando o collant azul como sex symbol para Lois Lane.

O entrelace dos quadrinhos e as obras audiovisuais não era novidade na época, mas colocar Lois Lane (Teri Hatcher) no fronte protagonismo da série e submeter a figura do Superman a guerra dos sexos ditava novos tempos dos anos noventa. A showrunner da série, Deborah Joy LeVine, que também é roteirista do piloto, apresenta sua produção a partir da visão das mulheres, em que Lois Lane é apresentada vestida de homem na primeira cena do episódio para conseguir um furo jornalístico, exatamente para desmascarar expectativa da visão masculina, com Jimmy Olsen (Michael Landes) retirando o bigode falso que ela usava. Assim, Lois & Clark: As Novas Aventuras do Superman não coloca seu título com o nome de Lois na frente por acaso, pois, de fato, a narrativa do telefilme/piloto se centra na trama de como Clark Kent só se torna realmente Superman quando Lois Lane permite que ele a salve. 

Desde do princípio, o episódio expõe uma clássica trama de uma personagem feminina e um personagem masculino que não se entendem por preconceitos. Isso introduz vislumbres de uma comédia romântica, em que Lois se porta como uma mulher de personalidade forte em suas nuances, grande jornalista investigativa e sem tempo para romances, mesmo que anseie por um. Já Clark, interpretado por Dean Cain, é passivo, inteligente em conhecimentos gerais da Europa e África e interessado em Lois Lane. Esse conflito apresentado entre os personagens é amplamente conhecido pelo público de outros romances semelhantes, mas o discurso progressista e feminista mais outsider da década de noventa, e o universo de Metrópolis com o Superman, acrescem ressignificações para a narrativa romântica mais realista e simbólica. As interpretações dos atores, por isso, se tornam extremamente necessárias para ajudar a fluir o episódio estendido em noventa minutos, basicamente composto de planos fotográficos fechados com enfoque nos diálogos que dimensionam as ideologias da época e o espírito super heroico. 

Dentro dessa proposta, evidencia-se também o tom contraditório e ao mesmo tempo fortificante da construção do baile amoroso entre o casal.  Se por um lado permite-se colocar o público na mente de Lois Lane, em todo um desenvolvimento de quem é essa mulher no trabalho e sua vida pessoal independente do Superman, há certas direções narrativas do personagem Clark que criam certas estranhezas numa superfície de obsessão e ciúme que são uma contrapartida ao discurso feminino da série. No entanto, são contradições que permeiam o próprio cenário de intrigas e danças verbais na guerra dos sexos que animam a produção e a diferencia. As conotações sexuais e as definições do episódio para o que deve ser homem e o que deve ser mulher concluem e surgem, simultaneamente, do caráter vilanesco ou heroico do que cada personagem, Lois e Clark, julgam um para o outro. Como por exemplo, o fato de Lex Luthor ser apresentado como garanhão é julgado por Clark por ciúmes de Lex querer conquistar Lois, mas ao mesmo tempo ele de fato é o vilão que Superman desvenda.

Dessa forma, Lois Lane se torna muito mais que um par romântico e Clark Kent, ao alcançar o alter-ego de Superman, acaba sendo ressignificado para o super ser alienígena, e especialmente masculino. Dentro da direção prática e efetiva de Robert Butler para o episódio há claras cenas em que Clark voa, ajuda mendigos e salva pessoas, mas são muito mais direcionadas para representar ao exemplo de homem do que um grande salvador da pátria. Logo, se a grande explosão dos quadrinhos na época em que o piloto foi lançado foi a morte do Superman como uma ressuscitação do símbolo, no audiovisual o mesmo símbolo tornou-se a hombridade social que deveria ser seguida: respeitar as mulheres na sua força e na sua fraqueza, sem submissão pré-estabelecida socialmente.

Eis aqui mais uma vez, aproveitando essa série que ela adora, um agradecimento à minha irmã Libna pelo incentivo a escrever e assistir mais séries e filmes. 

Lois & Clark: As Novas Aventuras do Superman (Lois & Clark: The New Adventures of Superman) – 1X01: Pilot – EUA, 12 de setembro de 1993
Criação: Deborah Joy LeVine
Direção: Robert Butler
Roteiro: Deborah Joy LeVine
Elenco: Dean Cain, Teri Hatcher,
Lane Smith, Michael Landes, Tracy Scoggins, Elizabeth Barondes, John Shea, K Callan, Eddie Jones
Duração: 90 min. 

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