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Crítica | Lobisomem na Noite

Um formato experimental com potencial.

por Ritter Fan
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Ulysses Bloodstone (voz de Richard Dixon), notório caçador de monstros e utente da poderosa Pedra de Sangue, faleceu e sua esposa Verussa (Harriet Sansom Harris) reúne os mais importantes caçadores de monstros vivos na mansão do patriarca para eles competirem pela relíquia. A regra é simples: quem conseguir primeiro caçar um monstro misterioso que ela libertará em um labirinto com a pedra cravada em sua pele vence e leva o prêmio. Dentre eles, há um estoico homem com marcas aparentemente ritualísticas no rosto (Gael García Bernal) que demonstra ter seus próprios e escusos objetivos e Elsa Bloodstone (Laura Donnelly), filha de Ulysses, enteada de Verussa, que largou a família há décadas por discordar do que o pai faz.

Essa é a premissa razoavelmente simples da primeira “apresentação especial” do Universo Cinematográfico Marvel, na verdade um média metragem de Halloween, em que somos pela primeira vez introduzidos ao monstroverso da Marvel Comics, o que poderá ser útil não só isoladamente – eu adoraria ver uma série ou um filme cinematográfico desses personagens -, como também como parte do vindouro longa de Blade. O que a produção faz é canalizar os filmes clássicos de monstros da Universal Pictures e, como uma estilizadíssima fotografia quase que completamente em preto-e-branco, contar uma divertida história que não é bem de horror, mas também não é bem uma comédia, que espertamente emula obras de baixo orçamento justamente para gastar pouco dinheiro mesmo, seja com transformações feitas apenas com o uso de sombras, seja pelo uso de maquiagem e próteses práticas para dar vida ao personagem do título (criado em 1953 pela Atlas Comics, predecessora da Marvel Comics, com a versão moderna tendo sido criada em 1972), ainda que o CGI também esteja presente, especialmente em Ted, a tal criatura que é caçada (é essa aqui, que ganhou até filme em 2005, mas só clique nos links se quiser saber mesmo).

Michael Giacchino, mais conhecido como compositor – e ele efetivamente compõe a trilha sonora do especial -, dirige a obra em sua estreia nesse formato (ele só havia dirigido dois curtas antes) e mostra que tem prestado atenção nos filmes para os quais cria a tessitura musical. Sua direção é simples, sem invencionices, mas eficiente na criação de atmosfera e na forma como lida com a ação, de forma a transportar para a telinha o roteiro também básico de Heather Quinn (Gavião Arqueiro) e Peter Cameron (WandaVision e Cavaleiro da Lua) que escrevem o que não passa, na verdade, de um piloto de série de TV como que para testar as águas da aceitação – ou não – desses personagens e desse estilo. E é exatamente por parecer demais o “começo” de algo que Lobisomem na Noite fica em um meio termo narrativo, fiando-se demais no estilo e deixando sua substância para escanteio, para um dia ser escrita e “retconada” nos personagens aqui apresentados. Diria que teria sido uma escolha mais completa se a Marvel Studios tivesse caminhado para o formato tradicional de filme, adicionando mais meia hora de duração de forma a dar mais estofo a seus personagens, mas é evidente que há um equilíbrio a ser alcançado entre minutagem menor, orçamento mais baixo e alcance maior, uma conta que Kevin Feige sabe fazer muito bem.

Mesmo assim, como uma amostra do que pode vir por aí, o média metragem é pura diversão no estilo “velha guarda”, com os caçadores caçando o monstro, mas também se caçando, Bernal claramente se divertindo pacas no protagonismo e Harris ainda mais que Bernal no histrionismo da matriarca que quer manter intacta a tradição dos Bloodstones. Não tenho muito o que falar de Laura Donnelly, pois sua participação é essencialmente burocrática e, por isso mesmo, não particularmente memorável, ainda que sua personagem seja em princípio importante para futuros projetos nesse micro-universo monstruoso dentro do UCM.

A direção de arte é primorosa em todos os seus objetivos, principalmente o de nos convencer que estamos mesmo vendo um “filme antigo de monstro”, seja pelo uso de cenários claramente falsos, seja pelo exagero dos figurinos e da maquiagem. A fotografia de Zoë White, que faz do preto e branco esmaecido com granulação digital quase que um personagem, é um show a parte em termos de homenagem aos longas da Universal mesmo quando, ao final, as cores passam a reinar, quase como se a transição fosse natural e esperada. E, para completar, até as “marcas de cigarro” para mudança de rolo de filme Giacchino insere para dar aquela autenticidade forçada, por assim dizer, e nos fazer apontar para a tela para deixar claro que entendemos a referência.

Lobisomem na Noite é um experimento interessante da Marvel Studios, um formato que não havia sido testado, mas que, se usado parcimoniosamente, pode acabar sendo uma boa maneira de se investir menos em projetos mais ousados para medir aceitação, o que pode abrir espaço para personagens do tipo que vemos aqui e que dificilmente gozariam de investimentos vultosos sem alguma prova de que eles podem realmente funcionar. Mesmo apenas dentro do conceito de monstros da Marvel Comics há muito o que ser desencavado ainda, mas “apresentações especiais” como esta, mesmo com todas as limitações de um piloto de série, têm potencial para muito mais considerando a inesgotável fonte que é o baú de muitas décadas da editora.

Lobisomem na Noite (Werewolf by Night – EUA, 07 de outubro de 2022)
Direção: Michael Giacchino
Roteiro: Heather Quinn, Peter Cameron (baseado em história de Heather Quinn)
Elenco: Gael García Bernal, Laura Donnelly, Harriet Sansom Harris, Kirk R. Thatcher, Eugenie Bondurant, Leonardo Nam, Daniel J. Watts, Al Hamacher, Carey Jones, Jeffrey Ford, Rick Wasserman, Richard Dixon, Erik Beck
Duração: 53 mim.

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