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Crítica | LJA / SJA: Vícios e Virtudes

por Luiz Santiago
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Não é sempre que a perspectiva de leitura de uma história com heróis mainstream deixam os leitores animados, curiosos e constantemente impressionados com a ação dos personagens, seus planos e relacionamentos. Para mim, as aventuras da Sociedade da Justiça ao lado da Liga da Justiça têm esse poder. São o tipo de história que mesmo não sendo boas (o que não é o caso desta Vícios e Virtudes) garantem momentos de diversão para o leitor porque trabalham com personagens de eras históricas distintas e com valores morais e éticos muitas vezes conflituosos, o que abre as portas para briguinhas de ego e conflito de geração engraçados, trazendo à tona um lado enciumado e às vezes não tão legal desses super-heróis.

Esta é basicamente a essência de Vícios e Virtudes, one-shot de Geoff Johns e David S. Goyer lançado em 2003, que traz as duas grandes equipes heroicas da DC Comics em sua habitual reunião anual. É dia de Ação de Graças na Torre de Vigilância e Superman e Sentinela (Alan Scott) estão do lado de fora, observando a Terra. Batman está fazendo o monitoramento das telas de vigilância, afastados de todos. O restante come e festeja, conversam, provocam uns aos outros e comemoram o fato de estarem juntos mais uma vez. Já nas dez primeiras páginas da história a grande mágica desse tipo de encontro acontece e somos completamente agarrados pela história. Mas é claro que a reunião de equipes tão importantes não “passaria batido”. Alguma coisa precisava acontecer.

O verdadeiro vilão dessa história e a forma que ele utiliza para atacar é um dos motivos pelos quais o texto de Vícios e Virtudes não funciona bem o tempo inteiro e o dilema em pauta pode ser considerado uma armadilha de roteiro. Por um lado, sabemos os meios escusos que Despero (isso mesmo, o barbatana da primeira história do título solo da Liga, Viagem Sem Retorno) utiliza para agir. Por outro lado, a primeira ação do vilão, agora reformulado, fortalecido, bombado e com Johnny Pranto a tiracolo, obriga os roteiristas a mudar o tom da trama, botando os heróis para brigar sem motivo aparente, criando um grande caos em poucos quadros sem que haja um verdadeiro motivo para tudo aquilo.

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Aquele momento em que você descobre fotos comprometedoras dos seus amigos.

Depois de algum tempo, quando enfim Despero se revela, entendemos a verdadeira motivação por trás de tudo, mas o “mal” já estava feito. Analisando a conceitualização, faz sentido as coisas serem do jeito que o texto apresenta. Mas o estranhamento pela mudança de tom da história e a a sequência de uma série de batalhas inexplicáveis até que a verdade se revele não é algo que a gente possa ignorar só porque descobrimos, mais à frente, que havia a mão de um grande jogador por trás de tudo. E nesta lambança, a parte mais fraca em continuidade (não em luta mano-a-mano ou em arte, porque essas sim são interessantes) é a permanência de membros da Liga e da Sociedade da Justiça no Limbo.

Valendo-se do tom épico da história, Carlos Pacheco (desenhos) e Jesús Merino (arte-final) dão uma enorme e merecida atenção ao visual de batalha e interação dos heróis contra Despero, Pranto e os outros vilões de ocasião, como Doutor Bedlam, os Filhos de Anúbis, Surtur (que dá muito trabalho para os heróis no Limbo) e Typhon, um velho conhecido do Doutor Destino. Dos momentos de destaque, vale a ótima representação visual da prisão dos heróis como os Sete Inimigos Mortais do Homem, tendo Sr. Incrível como ORGULHO; Lanterna Verde (Kyle Rayner) como INVEJA; Homem Borracha como COBIÇA; Batman como IRA; Senhor Destino como PREGUIÇA; Poderosa (Karen Starr) como LUXÚRIA e Capitão Marvel ou Shazam como GULA.

Depois que os jogadores dessa batalha nos são revelados, conseguimos curtir mais tranquilamente a história. Diferente da forma como começou, a libertação dos heróis da dominação de Despero é lenta, mas vem em boa junção de forças para um objetivo final, levando-nos para um novo momento de confraternização entre as equipes. O ciclo se fecha de maneira mais ou menos orgânica e muito divertida, novamente com provocações e piadas internas, além de uma mensagem que vem tarde e parece apenas jogada na trama, com Sideral falando com a Mulher-Maravilha, questionando certas coisas do heroísmo. Ainda assim, a imagem dos isolados Superman e Sentinela na órbita da Terra volta o nosso pensamento para o dever desses heróis, que pode, muitas vezes, afastá-los do convívio entre os outros. Como a própria história diz, isso não é bom nem ruim. É tudo uma questão de perspetiva.

Liga da Justiça e Sociedade da Justiça: Vícios e Virtudes (JLA/JSA: Virtue and Vice) — EUA, 2003
No Brasil: LJA/SJA: Vícios e Virtudes (Panini, Edição Especial, 2003) 
Roteiro: 
Geoff Johns, David S. Goyer
Arte: Carlos Pacheco
Arte-final: Jesús Merino
Cores: Guy Major
Letras: Ken Lopez
Capas: Carlos Pacheco, Jesús Merino, Guy Major
Editoria: Dan Raspler, Stephen Wacker
98 páginas (encadernado da Panini)

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