Quando falamos sobre Cinema e TV, sempre existem algumas produções que jamais deveriam ter acontecido. A DC Comics, junto com a Warner, possui um extenso catálogo de longas ou séries, que fazem com que o espectador se pergunte: como alguém conseguiu vender essa ideia?
Nessa enorme lista temos filmes como Batman Eternamente, Batman e Robin, Superman – O Retorno, Lanterna Verde, Mulher Gato e, claro, o famoso caso do filme chamado Superman Lives, que seria dirigido por Tim Burton e teria Nicolas Cage como o herói azulão, mas que nunca foi sequer filmado, graças aos deuses dos quadrinhos. Infelizmente esses mesmos deuses não foram capazes de parar Liga Da Justiça, telefilme que serviu como piloto de uma série que jamais foi para a frente, em 1997, mais de uma década antes da Warner tentar emplacar outro seriado da Mulher-Maravilha, sem falar do piloto da também não-produzida série do Aquaman, semi-spin-off de Smallville.
Aqui vemos uma Liga muito diferente daquela com que estamos acostumados – seus integrantes são: Flash, Lanterna Verde (cuja roupa é azul, vai entender…), Eléktron, Fogo e Caçador de Marte (um pouco acima do peso, diga-se de passagem). Na trama, um vilão está ameaçando a cidade com fortes mudanças climáticas. Grandes tempestades surgem do nada e fazem com que garotas se molhem e gatinhos se escondam em buracos de esgoto, trabalho ideal para Eléktron. No meio de todo esse caos, vemos Tori Olafsdotter, uma cientista que descobre seus poderes de gelo e que, futuramente, se tornará a heroína Gelo.
Todo o episódio é comentado pelos personagens que compõem a Liga. O roteiro de Cameron e Hoselton não faz a mínima questão de explicar o porquê de isso acontecer, com os personagens simplesmente aparecendo em um fundo azul escuro e comentando sobre algumas situações que estão em tela. O que era para ser utilizado como um artifício de humor rende cenas estranhas que são muito mal montadas e que são principalmente deslocadas da estrutura do episódio/telefilme.
O roteiro também faz questão de mostrar diversas cenas em que vemos um herói utilizando seu poder da forma mais banal possível. Eléktron, aqui, tem o seu melhor momento quando se encolhe na bolsa de Fogo para entrar de penetra em uma festa. Lanterna AzulVerde utiliza seu anel para fazer com que uma menina não se molhe e Flash usa sua velocidade para absolutamente tudo, menos para salvar alguém ou combater algum inimigo.
O elenco também não foi uma boa escolha da série, Matthew Settle (Lanterna AzulVerde), Kimberly Oja (Gelo), John Kassir (Eléktron), Michelle Hurd (Fogo) e Kenny Johnston (Flash) não têm nenhuma química juntos. Essa falta de entrosamento faz com que as piadas inseridas pelo roteiro sejam vergonhosas.
Os efeitos especiais e o design de produção também são um show à parte. É claro que não se pode cobrar que os efeitos de Liga da Justiça sejam como os de Titanic, lançado no mesmo ano, mas podemos sim cobrar que a produção tivesse um mínimo de rigor estético. Mas não. Os uniformes – que estão mais para fantasias de Halloween – de todos os personagens têm tantos defeitos que teríamos que escrever uma coluna semanal para conseguir comentá-los de forma digna.
Cabe então apenas um exemplo, esse que é a epítome de tudo aquilo que vemos nesse piloto: o Caçador de Marte. Ele aparece poucas vezes durante a trama, mas, mesmo assim, destaca-se por diversos aspectos, entre eles seu uniforme que definitivamente é até fiel, mas que está nitidamente apertado para o ator, digamos, avantajado que o veste. Sua máscara o deixa muito parecido com um Klingon e tem um claro defeito na região dos olhos, fazendo que o espectador consiga ver a cor de pele do ator, que está longe de ser verde.
Liga da Justiça é um piloto que nunca deveria ter saído do papel. Ainda não consigo acreditar que algum executivo achou que esse projeto seria algo interessante para se investir. É triste ver que algo assim um dia foi feito, mas é muito mais gratificante ver que a coisa não foi para a frente e a malfadada série foi jogada no quase total esquecimento.