- Leia, aqui, a crítica sem spoilers.
O texto a seguir não é recomendado para fãs mimados que acham que filme tem que ser feito seguindo exatamente o que quer ver, especialmente aqueles que se denominam “snydetes”, que chamam carinhosamente o cineasta Zack Snyder de “Snydeus” e acham que se ele filmar um grilo dando cambalhota invertida no filtro cinza é sinônimo de obra-prima do cinema. Se você se encaixa nesse estereótipo e só está procurando a aprovação do “filminho” que só foi realizado porque você encheu muito o saco no Twitter, vou fazer meu poupa-tempo para você…
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Nota para agradar o fã:
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Satisfeito ao ver a notinha? Pronto, nem precisa ler o texto, compartilha e diz que o crítico deu nota máxima. Agora vaza e nem vem encher o saco. Enfim, vamos com a crítica de verdade, detalhada, cansativa e bem longa, até dividida em capítulos para fazer jus ao filme. Ah, e claro, LOTADA de SPOILERS.
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Nota verdadeira:
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Capítulo 1: Zack Snyder, um Escravo do Fã
Liga da Justiça de Zack Snyder é um título redundante e vitimista. É como se o Snyder não fosse o dono do seu próprio filme anterior, que é a mesma coisa deste vendido como a “versão do diretor” por ter adicionado um novo filtro e mais duração. Sim, parte do problema daquele filme de 2017 não foi culpa do diretor, mas de decisões nocivas da Warner em querer lançá-lo logo, independentemente de qualquer situação. O estúdio não respeitou o pedido de Snyder de afastamento temporário da produção e adiamento do filme para a finalização após perder a filha, chamando Joss Whedon para terminá-lo e não atrapalhar o planejamento inicial. Sacanagem à parte, o resultado foi uma colcha de retalhos, um filme conflitante entre ideias distintas de concepção de cinema entre duas mentes, mas que, ainda assim, essencialmente, preservava o escopo geral de storytelling que Snyder queria ao projeto.
A diferença é que todas essas ideias seriam num formato reduzido, desinflando as milhões de coisas que Snyder queria enfiar ali, e simplesmente não tinha como manter sem que algo não se perdesse – como ficou provado em Batman vs. Superman que, lembremos, apresentou a LIGA DA JUSTIÇA por meio de um E-MAIL. Ao assumir esse formato reduzido, aquele filme infelizmente apequenou ainda mais a Liga no cinema de tão genérico que se tornou, mas ao menos encaminhou um cordão a ser puxado pelos próximos filmes de recuperação à essência perdida dos heróis por conta desses princípios autorais do Snyder. Eu até já defendi o diretor em Homem de Aço, porque ali existia uma boa base dramática para a lapidação futura de um Superman (Henry Cavill) que nunca aconteceu, pelo mesmo motivo que este Snydercut não pode ser comemorado como uma vitória da “autoria” no cinema sobre os grandes estúdios: a preocupação exacerbada de agradar o fã, não importando se isso vai fazer ou não sentido dentro do filme.
Veja bem o tanto de coisa que BvS, um SEGUNDO FILME de universo compartilhado, queria colocar somente para criar essa sensação de agrado. O Flash (Ezra Miller) nem havia introduzido e aparece pela primeira vez voltando no tempo alertando o Batman (Ben Affleck) de um apocalipse. O Batman nem havia sido introduzido e já usava armas, já foi confrontar-se com o Superman porque tinha que referenciar O Cavaleiro das Trevas de Frank Miller. O Superman nem havia sido desenvolvido e já morre, porque tinha que enfiar uma adaptação de A Morte do Superman de Louise Simonson. E só estou citando os exemplos mais gritantes, porque houve muito mais. Tantos mais que o filme é dividido em opiniões e gera debates inúteis até hoje, cinco anos depois de seu lançamento. E digo inúteis não porque não se deva debater o filme, mas porque é um debate especificamente sem rumo. Quando se agrada a quem viu tudo que queria ver em um lugar só, não há discussão. O fã vai defender aquilo que lhe agrada contra qualquer coisa. E nisso, Snyder criou uma mentalidade perigosa em seus admiradores, que os retirou da posição passiva de espectador para a ativa de quase um criador ao seu lado no filme, onde ele é um mero símbolo ou porta-voz para essa realização dos que os fãs querem.
Contudo, se em BvS ele era um autor do fã, aqui no Snydercut ele vira praticamente escravo do fã. Entregando uma de suas costumeiras e prolixas versões estendidas (Madrugada dos Mortos, Watchmen…) que não mudam nada na história a não ser deixá-la mais longa, só que desta vez com o agravante de mais preposições para agradar os fãs, que de tão deturpados pela mentalidade que ele criou, encheram o saco da Warner por anos até ela pensar no anúncio da HBO MAX: “O que vier de visualização é lucro, e ainda podemos pagar de bonzinhos nos redimindo do que fizemos com ele”. Junto à dedicatória à filha (que é muito bonita, diga-se de passagem, mas não anula uma vírgula do que vou dizer), os falsos discursos estavam prontos para não só tornar o Snydercut um sonho realizado lindo para os fãs como ainda fantasiado de símbolo de respiro ao cinema autoral… Ora, finalmente Snyder teve o filme que “sempre quis”. Coisa nenhuma, este é um filme feito pelos fãs e para os fãs. E lamento informar, fãs e Snyder, o cinema autoral não DEVERIA ser feito só para agradar alguém.
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Capítulo 2: A Liga SEM Justiça
Como crítico, sempre tento ir aberto a todo tipo de filme, mas confesso que com o Snydercut tive dificuldade. Dada toda a história descrita acima, eu já tinha uma expectativa certa sobre o que iria ver até que se provasse o contrário. Ao menos, confesso também que não foi tão incômodo quanto eu esperava. A ocupação em tela das extensões que já previa, feitas somente para o agrado do fã, ficaram bem diluídas ao longo das quatro horas de duração, em que pelo menos três se justificam realmente na estilística do Snyder. Isso não quer dizer necessariamente algo bom, peguemos as três horas citadas e veremos o mesmo filme de 2017, só que literalmente alongado. O intuito, lá no fundo, era que as cenas fornecessem timing para o desenvolvimento dos personagens introduzidos, nos quais temporalmente era impossíveis de se realizar. No entanto, Snyder tem uma dificuldade muito grande de dar significado aos seus signos, especialmente porque ele tem pouca ou quase nula dosagem de crescente narrativa, além de ser um diretor que vê a extensão de forma meramente fotogênica. Isso já é sua característica, valorizar quadros, valorizar imagens pausadamente bonitas (por isso que ele tem fama pelas várias câmeras lentas), mas que não necessariamente desenvolvem algo, por não haver nem um bom planejamento de conectivos, além de um complexo de grandiosidade.
Em toda tomada, Snyder precisa fazer algo épico, grandiloquente, espalhafatoso. É preciso, até mesmo na construção de um épico, saber dosar em quais momentos a inserção do senso grandioso vale a pena para que, no momento derradeiro, o espectador não esteja cansado. Toda a primeira hora, dedicada à apresentação dos personagens, é extremamente estafante nesse sentido. Sãos cenas que podem até ser isoladamente funcionais, mas no conjunto, na sequência, não se juntam de modo orgânico. A ideia é valorizar o heroísmo da equipe em termos individuais ou, no caso do Cyborg (Ray Fisher), dar a dimensão de seus dramas (sempre grande). No entanto, é um heroísmo que não passa de pose, e aí já era problemático desde a versão de 2017. Se a sensação lá era que Whedon forçava o heroísmo constantemente em cenas até deslocadas (retiradas nessa versão) para reforçar os valores da Liga em que ele realmente acreditava, como heróis, aqui é a mesma coisa, só que direcionada para outros valores, narcisistas e não condizentes com o conflito moral desses deuses superpoderosos com imensa responsabilidade.
Não é de hoje que Snyder enxerga esses heróis de maneira deturpada à visão crítica que Alan Moore e Frank Miller tiveram sobre a moral de seres poderosos quando quebrada. Não há visão crítica sobre o assunto, na verdade, pelo contrário, isso é o motivo que leva Snyder a exaltá-los em sua lente. O seu endeusamento é uma mera pose de superioridade, não de exemplo, por mais que se tente puxar algum dali, com referências bíblicas genéricas e vazias ao Superman que nunca teve nem tempo para provar nesse Snyderverso que era símbolo de esperança. O filme conta como se seus signos constantemente jogados sem explorar o contexto fossem autossuficientes, sendo que o grande ato heroico desse Superman até então era ter matado Zod (Michael Shannon) a custo de destruir uma cidade toda, não ter matado Batman a custo do “Save Martha” e ter matado Apocalipse a custo de um breguíssimo “supergrito” de morte para que todos do planeta pudessem ouvir (fala sério, hein?). Fora isso, não houve nada que justificasse a premissa de todos sentirem sua falta, algo que no retcom de Whedon tentou-se justificar inserindo uma cena ou outra (o famoso bigode) cortadas nessa versão, o que já dificulta bastante comprar o caminho do filme.
O único exemplo que ficou do que Snyder construiu até aqui foi o mau exemplo, e que ele não tenta ressignificar em nada, modernizar em nada, porque, para ele, o discurso não tem nada de mais. Afinal, a Mulher-Maravilha (Gal Gadot) também é outra “heroína” que chacina terroristas na sua apresentação, porque eles como Zod e/ou Apocalipse são o mal a ser eliminado sem piedade, ou melhor, com estilo, mesmo que tenha que destruir alguns monumentos no caminho. Ah, mas por que você está cobrando isso, já não está velho esse discurso? Sim, porque está tão velho e antiquado quanto essa visão do Snyder para com esses heróis. É esse mesmo tipo de pensamento que cria, junto ao “agrado ao fã”, a mentalidade de geeks de quadrinhos em não quererem pensar sobre aquilo que estão vendo, contentando-se com o “massa vei”. A que a roupa preta serve, afinal? Fan service? Com certeza. Mas como toda leitura de signos sem significação concreta é possível de ser feita, para mim essa roupa escolhida só por estética é literalmente o luto pela esperança que o Superman do Snyder poderia ter. Porque ele mal tem um momento heroico neste filme, e pouco tempo depois, já é mostrado como vilão em flashforward que reforça que Snyder está pouco se lixando para o que seus heróis representam. No máximo, é um mero fan service.
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Capítulo 3: O Que Mudou? Para Pior ou Melhor…
Fico curioso com ninguém estar reclamando da preservação integral da personalidade do sexteto do filme de 2017. É o mesmo Batman tiozão piadista. O mesmo Flash crianção piadista. O mesmo Aquaman (Jason Momoa) marrento e piadista. Embora todos estejam mais contidos nesse sentido, as piadas estão ali e o tom consideravelmente menos sério e sombrio (felizmente) permanece idêntico, com outro filtro de fotografia retirando completamente a saturação dos cenários e, consequentemente, a vivacidade do universo. É só ver essa Atlântida e comparar com a do filme solo de Aquaman. Aliás, cadê o pessoal para reclamar do conceito da bolha de água para conversar debaixo da água, mantido aqui? Ou no mínimo questionar a “beleza” do visual dentro da mente do Cyborg quando enxerga o mundo? É interessante essa glorificação seletiva de um mesmo aspecto que antes era problematizado. Talvez porque o aspecto videoclipesco venda tudo como mais atrativo, num show off que se acha super-realista, apesar de ser completamente dependente da artificialidade de seus efeitos em computação. “Nossa, Snyder, obrigado por explicar a luva que absorve energia do Batman, agora eu não preciso encher seu saco”. Quem dera Snyder acreditasse na própria fantasia digital, mas ele nunca se abre realmente a suas possibilidades da mitologia, tudo é uma mera base de progressão, em que pontas precisam ser constantemente racionalizadas para que respeitem a integridade de seus fãs da escola Nolan de fazer filmes de heróis certinhos.
Uma racionalização que vem junto a uma exposição, também defeito frequentemente apontado na versão de 2017, duplicada em aparição nessa versão, com direito a aparições musicais de uma seleção absolutamente gratuita em várias cenas. Ora, não vejo nenhum problema na exposição em si, mesmo que o discurso de autoridade em teoria não permita isso: “É o meu filme, não preciso explicar nada, o fã vai entender”; só quando convém né… Quer dizer, então, que se fôssemos levar em conta hipoteticamente que este era para ser o filme original da Liga da Justiça, você iria me enfiar DO NADA uma aparição do Caçador de Marte travestido de Martha Kent (Diane Lane) conversando com Lois Lane (Amy Adams), sem contexto e pela primeira vez? Pelo amor de Snydeus, NÃO! Aliás, pela primeira vez não, porque metem um retcom vagabundo de que ele sempre foi aquele General (Harry Lennix) de Homem de Aço. Ao menos isso serviu como base para uma das – raras – melhorias com relação ao filme anterior, que é a motivação do retorno do Superman, não mais consequente de uma piadinha do Batman utilizando Lois Lane como “arma secreta” depois de um “Você Sangra?”, mas todo um conglomerado de um efeito dramático acumulativo de luto no espaçamento temporal em que Snyder realmente pensou.
Funciona porque Lois era realmente a única personagem a quem Superman alguma vez dedicou-se para um ato heroico, então era a escolha mais óbvia, embora toda a sequência em si valorize bem a mudança de chave do Batman para o seu sentimento ao Superman, há um espírito de tensão realmente mais genuíno. Claro, é uma cena isolada, mas não é a única, de modo geral, as sequências de ação do filme estão muito melhores do que as de 2017. E por vários fatores: primeiro que as anteriores estavam naquele pensamento econômico e protocolar, já aqui é justamente o contrário, são elas que ocupam boa parte da extensão do filme, e por essa construção isolada, elas aparentam ter mais peso, um peso de Liga da Justiça. Destaco demais a batalha final, sem dúvidas a que teve maior salto de qualidade. Há uma coesão de objetivo, um plano desenhado que vai se adaptando conforme as situações de batalha vão acontecendo. Existe uma sincronia na idealização do trabalho em equipe e um senso de urgência muito bem-posicionado, com a utilização de Darkseid (Ray Porter) para sustentar a tensão mesmo quando Superman chega para a existência de uma nova sequência climática.
Mesmo o Darkseid sendo esse vilão borrachudo e uma ameaça meramente simbólica, ele funciona, porque de fato não se concretiza para este filme, o que sempre dá a margem para um desenvolvimento futuro. O Lobo da Estepe (Ciarán Hinds), como vilão do filme, possui essa motivação a mais, que mesmo sendo rasa, acaba funcional o suficiente para tirá-lo como um mero capacho de computação gráfica devidamente melhorada. Assim como a do Cyborg, que também se pode dizer que possui um desenvolvimento por ser peça central na narrativa, ainda que seja um drama paterno bem básico. Os demais se sustentam com o que havia antes. O Batman não é mais coadjuvante, embora não roube o protagonismo. A Mulher-Maravilha não é mais protagonista, embora não tenha se tornado uma coadjuvante. E o Flash possui uma mínima identificação ali com a hipótese consequencial de seus poderes (rendendo minha cena favorita do filme, que é sua micro volta no tempo). Há um bom equilíbrio na distribuição do tempo de tela de cada um, o mínimo que se deve esperar de um filme tão longo.
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Capítulo 4: Conclusões
Confesso que se o filme acabasse na nota final da última luta, até fecharia menos pessimista com a visão geral desta versão. Mas aí o Snyder me vem com um epílogo completamente mal-montado, misturando o final do filme anterior cortando sem critério para fechar o filme dando o gancho do que seria o próximo, somente para agradar o fã que queria ver o Coringa do Jared Leto se redimindo. E aí, você se pergunta, ele se redime? Não. E não só isso, como sua cena volta a confirmar meu desabafo sobre a visão antiquada de Snyder para esses personagens. Esse Coringa do Leto passou de um meme para outro, antes afetado, ele agora é aquele “Coringa filósofo” que é mencionado em correntes do Whatsapp e mídias sociais afins com uma foto dele com uma frase que ele nunca mencionou antes, escrita abaixo, geralmente sobre os problemas da sociedade. Bom, pelo menos algumas das frases daqui podem fazer novos memes que não são fake news. Coitado do Jared Leto… Aliás, coitado do Snyder que fez esse epílogo na esperança de que vão deixá-lo continuar a seguir com esse universo depois de ter andado a barca para a frente.
Não, pera… Isso é totalmente possível! Pois é, esse é o precedente aberto por esse Snydercut, que vai fazer sucesso o suficiente para forçar que, no mínimo, esse universo continue em paralelo, nem que para streaming, junto a bola pra frente que a Warner estava fazendo tão bem com Mulher-Maravilha 1984, Aves de Rapina e Aquaman. Se isso realmente acontecer, já digo logo: a Warner não vai sair de boa moça também não. Infelizmente, esse precedente já estava aberto há algum tempo. O cinema do agrado ao fã é cada vez mais uma realidade, começou de leve com o Sonic mudando de visual para agradar, destruiu o legado de Game of Thrones com o seu final feito pensando em agradar todo mundo, quase destruiu o legado de Star Wars com o seu último filme feito somente pensando em agradar todo mundo. E agora tem a máxima de sua força, um projeto inteiro revivido para agradar fãs que precisam cada vez ser mais mimados, conforme são correspondidos.
O Snydercut acontecer não é motivo de orgulho ou uma vitória fruto de uma batalha contra um sistema hollywoodiano que assola a criatividade. É justamente a representação máxima da criatividade condicionada. É preciso refletir, como fã, o que o fez ser fã daquilo? Certamente foi o encantamento com que aquela história foi pensada a ser concebida. Então qual o seu papel como fã para sustentar isso? É cobrar? Sim, mas cobrar pela permanência do senso criativo que o fez se encantar por aquilo. Não o seu senso criativo, mas o senso criativo de quem, de fato, está criando. Mesmo que, nesse caso, o autor seja o próprio e irresponsável autor do fã.
Liga da Justiça de Zack Snyder (Zack Snyder’s Justice League | EUA, 2021)
Direção: Zack Snyder
Roteiro: Chris Terrio (baseado em história de Zack Snyder, Chris Terrio e Will Beall)
Elenco: Ben Affleck, Henry Cavill, Gal Gadot, Diane Lane, Jared Leto, Ezra Miller, Jason Momoa, Connie Nielsen, J.K. Simmons, Robin Wright, Amy Adams, Karen Bryson, Kiersey Clemons, Jesse Eisenberg, Ray Fisher, Amber Heard, Ciarán Hinds, Jeremy Irons, Lisa Loven Kongsli, Harry Lennix, Joe Manganiello, Joe Morton, Ann Ogbomo, Ray Porter, Samantha Win, Ryan Zheng, Mark Arnold, Gianpiero Cognoli, Willem Dafoe, Peter Guinness, Swaylee Loughnane, Eleanor Matsuura, Lara Decaro, Russell Crowe, Kevin Costner, David Thewlis, Michael McElhatton, Billy Crudup
Duração: 242 minutos