Home TVTemporadas Crítica | LEGO Star Wars: Reconstruindo a Galáxia – 1ª Temporada

Crítica | LEGO Star Wars: Reconstruindo a Galáxia – 1ª Temporada

Desconstrução é o caminho para o Lado Sombrio.

por Ritter Fan
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Em Star Wars: Infinities, uma trinca de minisséries em quadrinhos publicada na época em que a Dark Horse Comics ainda detinha a licença da franquia, o universo Star Wars ganhou o que, até Reconstruindo a Galáxia, foram as únicas vezes em que vimos realidades alternativas a partir de modificações nas histórias clássicas, bem na linha de um O Que Aconteceria Se… da Marvel ou um Elseworlds da DC. Foram fascinantes explorações do que poderia ter sido que, porém, ficaram razoavelmente esquecidas no tempo, sem que a própria editora voltasse a tentar essa estratégia. Por isso é que fiquei feliz quando soube que uma das diversas animações LEGO Star Wars reviveria essa premissa, ainda que de seu jeito bem particular, claro, e como parte de uma estratégia de marketing para vender mais conjuntos dos clássicos blocos plásticos dinamarqueses de montar (aliás, eu soube da série primeiro pelos brinquedos…).

Reconstruindo a Galáxia, uma minissérie de quatro curtos episódios, passa-se em algum momento após a Trilogia Sequência (na versão LEGO pelo menos), mas, no lugar de estabelecer um ponto de ruptura ou divergência para, a partir dele, construir outro universo como tradicionalmente acontece em narrativas desse tipo, o que acontece é que o pastor de nerfs, contador de histórias e sensitivo da Força Sig Greebling (Gaten Matarazzo), depois de desentender-se com seu irmão Dev (Tony Revolori), descobre um Templo Jedi esquecido em seu planeta e retira de lá a Pedra Angular (uma peça de LEGO azul e brilhante), levando à inadvertida reconstrução e transformação completa do universo que conhecemos. Ajudado pelo Mestre Bobarian Afol, mais conhecido como Jedi Bob (Bobby Moynihan) – uma referência a um Jedi LEGO sem nome inserido em um conjunto de 2002 que logo ganhou esse apelido dos fãs – que era o guardião do templo onde a Pedra Angular estava, Sig parte em uma aventura nesse novo e diferentíssimo universo em que seu irmão é Darth Devastator para tentar fazê-lo reverter ao que era antes.

Apesar de o foco permanecer na trinca (que não é bem trinca, claro) formada por Sig, Jedi Bob e Dev e que logo vira uma quadra com a adição da integrante da Aliança Rebelde Yesi Scala (Marsai Martin), em um primeiro episódio que parece bem mais longo do que é, criando uma certa impressãço de lentidão, boa parte da diversão é ver personagens do Universo Star Wars aparecerem em versões diferentes. Sem estragar maiores surpresas, basta dizer que, nesse novo universo, os fofíssimos Ewoks são inclementes caçadores de recompensa e que os Clone Troopers são, na verdade, Ackbar Troopers (Trevor Devall), com toda a gangue clássica e até a moderna aparecendo sucessivamente para revelações divertidas com uma única exceção: Leia (Shelby Young) continua sendo a boa e velha Leia de sempre. Algumas mudanças são mais do que esperadas, claro, outras são – especificamente uma – retiradas diretamente da citada HQ Infinities e outras ainda existem com o objetivo claro e inasfastável de vender brinquedos, como é o caso da nova (e bonitona, devo admitir) versão da Millenium Falcon.

No entanto, e é aí que Reconstruindo a Galáxia conseguiu me surpreender muito positivamente, os roteiros escritos por Dan Hernandez e Benji Samit não são apenas bobinhos e engraçadinhos. Sim, há muita bobeira e muito humor, com um mar de referências e recriações de cenas icônicas, mas há, também, um refinamento inesperado na narrativa, um que retira a série do lugar-comum e por vezes decepcionante das adaptações LEGO feitas para a TV. No lugar de soluções óbvias e fáceis, a dupla de roteiristas envereda por um caminho mais interessante, mais sombrio e mais complexo, tornando a jornada de Sig muito mais significativa do que talvez tivesse o direito de ser, resultando em uma animação que é sem dúvida para crianças, mas que não as subestima como tantas outras por aí e, de quebra, ainda consegue agradar os adultos que gostam da franquia que, não tenho dúvida alguma, correrão para assisti-la. A relação de mentoria entre Jedi Bob e Sig é bem explorada, assim como é a relação complicada entre o inocente Sig com seu maldoso irmão que cedeu ao Lado Sombrio da Força nesse novo universo. E os próprios personagens coadjuvantes ganham, em alguns casos, contornos bem mais nuançados do que se poderia esperar.

A animação, apesar de não ser em stop-motion (eu gostaria muito que fosse, mas não é financeiramente realístico exigir isso), conta com um CGI 3D eficiente na emulação do stop-motion e que é complementado por cenários reais efetivamente construídos com as peças de LEGO, criando uma fusão que mais do que dá conta do recado em todos os quesitos, seja nas explosões dramáticas e, mais ainda, nas “reconstruções” e “destruições” causadas pela manipulação da Força, com Sig e Dev em polos opostos nesse aspecto. Chris Buckley, na direção, até ousa nos ângulos de câmera e na forma como lida com espaços confinados, trabalhando muito mais “cinematograficamente” do que o usual para obras do tipo, o que eleva ainda mais a qualidade da série que conta, também, com excelentes trabalhos de voz, inclusive com Mark Hamill retornando para seu Luke Skywalker em uma versão que, suspeito, agradará muita gente.

LEGO Star Wars: Reconstruindo a Galáxia foi uma genuína surpresa que pega sua premissa e, no lugar de fazer apenas o básico, é esperta no uso da realidade alternativa e dos novos e velhos (e modificados) personagens, jamais descambando para o banal. Muito ao contrário, quando o final chega – final esse que deixa a série aberta para continuação, não tenham dúvida – a vontade de ver mais é inafastável. A Força definitivamente estava com a produção e, se tudo der certo, a galáxia continuará sendo reconstruída em vindouras temporadas.

LEGO Star Wars: Reconstruindo a Galáxia (LEGO Star Wars: Rebuild the Galaxy – EUA, 13 de setembro de 2024)
Direção: Chris Buckley
Roteiro: Dan Hernandez, Benji Samit
Elenco (de voz): Gaten Matarazzo, Tony Revolori, Bobby Moynihan, Marsai Martin, Michael Cusack, Mark Hamill, Naomi Ackie, Dee Bradley Baker, Ahmed Best, TC Carson, Anthony Daniels, Trevor Devall, Jake Green, Jennifer Hale, Phil LaMarr, Ross Marquand, Piotr Michael, Kevin Michael Richardson, Helen Sadler, Matt Sloan, Kelly Marie Tran, Billy Dee Williams, Sam Witwer, Matthew Wood, Shelby Young
Duração: 104 min. (quatro episódios)

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