- Há SPOILERS! Leia aqui as críticas dos outros episódios.
Eu já estava dando pouco crédito à finalização do arco de Constantine, confesso. Não estava vendo uma abordagem verdadeiramente interessante para o personagem, e as coisas estavam se mantendo na linha aceitável, com exceção de momentos incríveis de uma trama geral, como no caso do arco do jogo mágico em Bored on Board Onboard. Aqui em Silence of the Sonograms, porém, a dupla de roteiristas responsáveis fizeram um trabalho absurdo na criação de uma queda cada vez mais lamentável de Constantine, fazendo uma aproximação muito bem pensada com a dependência química e de como a luta pela desintoxicação é terrível. Em muitos momentos me veio até o tratamento dado por Billy Wilder, focando exclusivamente o álcool, em Farrapo Humano (1945).
A qualidade, no entanto, não está apenas no maravilhoso arco do mago viciado em sangue vampírico. O retorno de Bishop, completamente envolto em um mistério no que diz respeito à intenção do personagem, também se destaca, e dentro de uma condição que nos deixa tensos e curiosos pelo que ele vai aprontar logo em seguida. É desse ponto, aliás, que o episódio parte, colocando Sara em contato com o seu sequestrador e estabelecendo algo que será a tônica da presença de Bishop na prisão da nave: ele está querendo “entrar na cabeça” de alguém da equipe e, com isso, dar início a algo. O quê, exatamente, a gente não sabe. Mas levando em consideração o histórico, podemos pensar em alguma fusão de espécies ou em algum tipo de clonagem. Mas isso é o produto final, certo? A pergunta sobre o “por quê” ainda permanece.
As conversas levantadas por Bishop, a crise de ansiedade de Ava e os sentimentos que essa complicada “relação” traz para o episódio é algo que eu realmente não esperava. Primeiro porque foi algo muito profundo e bem realizado em pouquíssimo tempo. Depois, porque para personagens bem estabelecidos, a gente meio que deixa de esperar um foco maior em colocação de sentimentos ou algo do tipo, especialmente quando não estamos vendo essa personagem no destaque central de todos os eventos ali retratados. O texto aqui, no entanto, faz uma boa exploração do lado emocional de Ava, com suas inseguranças, seus desejos e seu amor por Sara. A relação das duas, aliás, mantêm-se com um nível grande de fofura e é sempre muito bom ver essas demonstrações de amor entre elas. Não vejo a hora do casamento!
Surpreendentemente o parto de Mick também foi algo interessante. Uma mistura de humor ácido com um tantinho de horror à la Re-animator foi a tônica desse bloco, que se une a Bishop de uma forma elegante e cínica, fazendo jus ao personagem e colocando Mick em uma posição nunca antes vista. Gary está muito bom aqui também, fazendo as vezes de padrinho e cuidando de tudo para o parto (uma pena ele não ter sido realmente o parteiro), assim como o próprio Mick, que fala pouco, mas sua presença, na condição em que o vemos, é algo inesquecível.
O grande destaque do capítulo para mim, porém, está em John Constantine. Que representação incrível dessa relação de “demônio interior” que os roteiristas criaram aqui, e que ligação intensa a de John com Zari. Há momentos verdadeiramente emotivos no episódio, e eu não esperava que essa reta final do mago possuído por uma forma maligna fosse tão bom. Há flertes interessantes com o horror (muito de O Exorcista, inclusive) e a atuação de Matt Ryan aqui está para se aplaudir de pé, sendo muito bem acompanhado por Tala Ashe. Infelizmente B. não apareceu e a presença de Spooner e Astra não parece bem conectada com o restante, mas esses são apenas pontos mínimos de incômodo diante de um mar de coisas incríveis. Um baita episódio. Se os dois capítulos finais seguirem o mesmo caminho, teremos um dos melhores finais da série!
Legends of Tomorrow – 6X13: Silence of the Sonograms (EUA, 22 de agosto de 2021)
Direção: Nico Sachse
Roteiro: Phil Klemmer, Morgan Faust
Elenco: Caity Lotz, Tala Ashe, Jes Macallan, Olivia Swann, Adam Tsekhman, Shayan Sobhian, Lisseth Chavez, Amy Louise Pemberton, Nick Zano, Dominic Purcell, Matt Ryan, Raffi Barsoumian
Duração: 42 min.