Sequências são coisas garantidas na indústria do cinema. Nós, consumidores, gostamos, e assim, os produtores investem em mais, mesmo que a qualidade diante do ponto de partida seja menor, tanto nos quesitos estéticos quanto nos dramáticos. É assim que vejo Legalmente Loira 2, um filme que é divertido, tem até os seus momentos interessantes, mas deixa a desejar como narrativa, se ofertando para os espectadores como um entretenimento menos interessante que o seu antecessor. Para situar o leitor: farei um breve panorama da base estrutural desta comédia sobre uma patricinha em luta contra os estereótipos que a circundam e, que, na maioria das vezes, ela mesma retroalimenta, num circuito de ironias que beira ao excesso. Dentro deste universo, Elle Woods (Reese Whiterspoon) é uma jovem que após ser humilhada pelo namorado aprovado em Direito, decide também entrar para a faculdade, tendo em vista comprovar o seu valor, algo que vai além das dicas de maquiagem, figurinos e outras coisas consideradas “afetividades” por quem preza por um mundo mais intelectual e menos consumista.
Em sua jornada, ela atravessa portais de autoconhecimento e descobre, nos estudos, todo o seu potencial. Dribla alguns preconceitos e flerta com o seu lado intelectualizado em Harvard, sem deixar de lado a paleta rosada de tons que definem o seu estilo de moça loira, rica, mas inteligente. O primeiro filme, lançado em 2001, tinha tudo para ser uma comédia passageira, mas acabou rendendo muito e ganhando simpatia da crítica e do público. Com o tempo, se tornou um símbolo cinematográfico feminista. Dois anos depois de sua chegada aos cinemas, o cineasta Charles Herman-Wurmfeld foi contratado para dirigir a continuação, escrita por Kate Kandell e Dennis Drake. Agora casada, feliz e bem estabelecida em um importante escritório de advocacia, a protagonista interpretada com charme, carisma e maestria pela ótima Reese Whiterspoon precisa lidar com novos desafios. Ela é demitida. Os motivos? Acompanhe-me, caro leitor.
Ao defender o veto em relação aos testes com animais pela indústria cosmética, considerados como crueldade, ela bate de frente com as ações de um dos mais altos clientes da empresa. Com isso, é desconsiderada, mesmo com o seu talento. Ela tem um cão de estimação e no desenvolvimento da história, descobre que a mãe do animal é uma das cobaias para testagem de cosméticos. A ação? Partir para a batalha e tentar aprovar uma lei que defenda as vítimas de tais atos, considerados como cruéis. O seu marido Emmett Richmond (Luke Wilson) assume a postura de homem que apoia a esposa em qualquer circunstância. A relação dos dois é apresentada na abertura, numa proposta em álbum de fotografias que resume o filme anterior e nos leva ao que será esta sequência, narrativa que traz Sally Field como uma parceira de trabalho supostamente apoiadora da loira espevitada, mas que traz viradas até o desfecho.
Divertido, cor de rosa e com alguns diálogos relevantes, de maneira geral, Legalmente Loira 2 é um filme mediano. Há uma tentativa de brincar com os excessos, criticar a politicagem do sistema e os nossos preconceitos diante de todas as coisas que nos circundam, mas os realizadores pecam no elogio ao kitsch. Há, além do montante de rosa e apetrechos que decoram cada espaço atravessado pela protagonista, a inserção de discursos repletos de pieguice, prejudiciais para o assertivo estabelecimento da ironia. Elliot Davis entrega uma direção de fotografia cuidadosa, Missy Stewart dá conta dos excessos visuais delineados pelo roteiro e os figurinos de Sophie De Rakoff, apesar de também rosados demais, trajam bem a personagem carismática. A lição, no final das contas, é até edificante. Terminamos os 95 minutos de trama com a mensagem sobre não desistir diante daquilo que sonhamos, além da reflexão sobre como devemos evitar carimbar as pessoas com estereótipos negativos em ambientes pessoais e profissionais. Tudo muito bonito, com exceção da execução, falha, mesmo que funcione.
Legalmente Loira 2 (Legally Blonde 2: Red, White & Blonde, EUA, 2003)
Direção: Charles Herman-Wurmfeld
Roteiro: Kate Kandell, Dennis Drake
Elenco: Reese Witherspoon, Luke Wilson, Matthew Davis, Jennifer Coolidge, Sally Field, Regina King, Bruce McGill
Duração: 93 min.