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Crítica | Landman – 1ª Temporada

Sonhos sujos.

por Kevin Rick
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Mais uma série desenvolvida por Taylor Sheridan para a Paramount+, Landman é praticamente uma extensão do universo de Yellowstone, apesar de não fazer parte do cânone da franquia, algo que vem acontecendo em outras obras similares do prolífico roteirista, como Mayor of Kingstown, Tulsa King e Operação: Lioness. Os ranchos saem de cena para acompanharmos uma jornada em torno dos campos de petróleo no oeste do Texas, empreitada protagonizada por Billy Bob Thornton como Tommy Norris, um “landman” que lida com negociações perigosas para garantir direitos territoriais, arrendamentos e minerais para uma empresa petrolífera gigantesca. A narrativa pode ou não ser fiel a eventos reais, sendo difícil de dizer já que o material é baseado em um podcast documental chamado Boomtown, mas tem diversos elementos que parecem exagerados e bem dramatizados, só que, independente de realismo, o importante é que Sheridan tece mais uma obra de crime e de thriller que é bastante eficiente, mesmo entre alguns tropeços narrativos.

O personagem de Tommy lembra bastante Mike McLusky, o prefeito de Kingstown interpretado por Jeremy Renner, no sentido de serem personagens-guias, navegando por diferentes esferas desse universo – lá um ambiente policial e de gangues, e aqui os diversos meios que orbitam o negócio petrolífero -, sempre apagando fogos e resolvendo situações impossíveis. Num minuto, Tommy está conversando com bilionários e resolvendo questões empresariais, no outro ele está negociando a mão armada com traficantes mexicanos ou fazendo trabalho braçal nos campos de petróleo. Por vezes é estranho o papel de “faz tudo” do personagem, mas o texto é instigante e frenético em sua representação dos funcionamentos desse sistema e Thornton vende com veracidade alguém que lida com ambos os extremos (até com bom humor). Sheridan sabe desenhar boas histórias de crime, com momentos de suspense e, quando está inspirado, até algumas cutucadas ao capitalismo e à exploração dos EUA, então tudo que acontece por esse lado da série é positivo.

Infelizmente, Sheridan continua se enveredando para tons melodramáticos e caminhos novelescos em suas produções, um problema recorrente do autor desde as temporadas finais de Yellowstone. Vemos isso aqui no péssimo drama familiar de Tommy com sua ex-esposa Angela Norris (Ali Larter) e a filha do casal, Ainsley Norris (Michelle Randolph), duas mulheres que não servem de nada para a narrativa. Basicamente, temos uma sucessão de brigas e cenas sexuais do casal, enquanto Angela e Ainsley perambulam pela cidade fazendo compras e inventando afazeres para ocuparem o tempo. Para além de vulgar e em determinados momentos até misógino, a sensação que realmente fica em muitas dessas cenas é de que estamos assistindo algo descartável, que não agrega tematicamente ou dramaticamente para os conceitos e representações desse universo petrolífero. É difícil de entender o intuito de Sheridan, ainda mais quando notamos que esses momentos ocorrem em detrimento da esfera do alto escalão da empresa que Tommy trabalha, num núcleo cheio de ideias interessantes sobre corporativismo, ambientalismo e questões geopolíticas que é totalmente escanteado, subutilizando Jon Hamm e Demi Moore como dois empresários implacáveis.

O que ajuda a suavizar esses problemas continua sendo a jornada de Tommy por situações complicadas, com destaque para a presença antagonista de um cartel mexicano, mas também o arco de seu filho, Cooper Norris (Jacob Lofland). De início, a trajetória do jovem não convence, até porque temos um romance sem química dele com uma viúva chamada Ariana Medina (Paulina Chavez), mas à medida que a temporada progride, a jornada de Cooper começa a ganhar contornos sobre ambição e poder, temas e encaminhamentos que funcionam com destreza nesse tipo de trama. Sheridan ainda não revela tudo, tampouco completa o arco do personagem, mas muitos elementos estabelecidos aqui prometem para uma vindoura segunda temporada, até insinuando que Cooper é efetivamente o protagonista da obra. Só espero que Sheridan foque mais nesses elementos do que em mulheres em clubes de strip-tease e coisas do tipo.

Tecnicamente falando, Landman é outra produção do roteirista com fotografia irretocável em suas paisagens áridas e vastas, sem falar de uma direção que entende os momentos de solidão e os de suspense de uma narrativa que navega entre a melancolia do poder e a intensidade de buscá-lo. Se não fosse por soluços dramáticos com a família de Tommy, a série poderia ser ainda melhor, explorando com afinco todas as esferas dessa indústria, do bilionário que não liga para o meio ambiente até o pobre coitado que perde os dedos trabalhando nos campos. Mesmo entre tropeços, Sheridan traz outra obra que é acima da curva e que oferece elementos curiosíssimos do meio-oeste moderno dos EUA, dessa vez até com camadas globais. Fica a torcida para que o segundo ano trabalhe mais isso e não se torne uma grande novela. Veremos.

Landman – 1ª Temporada — EUA, 2024-2025
Criação: Taylor Sheridan, Christian Wallace
Direção: Taylor Sheridan, Stephen Kay, Michael Friedman
Roteiro: Taylor Sheridan
Elenco: Billy Bob Thornton, Demi Moore, Jon Hamm, Ali Larter, Jacob Lofland, Michelle Randolph, Paulina Chávez, Kayla Wallace, Mark Collie, James Jordan
Duração: 548 min. (10 episódios)

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