Home QuadrinhosOne-Shot Crítica | Krishna e Rukmini: Um Amor Que Não Será Negado

Crítica | Krishna e Rukmini: Um Amor Que Não Será Negado

História de um casamento.

por Luiz Santiago
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Lançada seis anos depois de O Protetor do Dharma, esta história do casamento de Krishna com Rukmini funciona perfeitamente como uma continuação daquela, como se estivéssemos mesmo virando a página de um capítulo para outro da vida desse deus hindu. Para um leitor que chega ao presente quadrinho depois de conferir a primeira aventura, com certeza há um ar de completude narrativa, e o avanço do tempo de publicação também prova que as histórias lançadas pela editora Amar Chitra Katha foram melhorando o seu estilo de finalização dramática, embora, até aqui, este ainda não seja plenamente orgânico ou perfeitamente amarrado. Mas é bem melhor que antes.

O roteiro de Kamala Chandrakant tem o ar didático já esperado para essas histórias, mas vai além da simples apresentação do enredo já conhecido, por alguns, do casamento entre essas duas deidades — vale dizer que Rukmini, a primeira esposa de Krishna, é uma encarnação da deusa Lakshmi. A autora começa narrando os eventos a partir de um ponto de vista que gera a principal intriga do quadrinho, ou seja, vemos Rukmi, o irmão de Rukmini (não sei vocês, mas no começo eu confundi os nomes), chegar ao palácio e contar que Krishna matou o rei Kamsa. Essa notícia vai gerar uma interessante atmosfera, preparando o leitor para um conflito futuro e abrindo caminhos para que os personagens busquem cumprir os seus desejos. Rukmi, que era amigo de Kamsa e segue leal ao tirano Jarasandha, não aceita de jeito nenhum que sua irmã seja entregue a Krishna em casamento, então faz com que ela seja prometida a Shishupala.

Há um interessante suspense na parte inicial do volume, e Krishna demora um pouco para entrar em cena. Nós só o vemos pela primeira vez quando um mensageiro com uma carta de Rukmini chega ao palácio de Krishna e lhe entrega a missiva. Nesse ponto da história, dois lados importantes do enredo já foram desenvolvidos: o lado da família da noiva, com todas as implicações políticas ligadas ao seu casamento; e o lado do deus-noivo, que está se preparando para batalhar por algo que ele deseja muito. É nesse momento da história que a arte de Pratap Mulick ganha um número maior de detalhes pelo cenário, coisas aparentemente simples mas que deixaram muito feliz, especialmente em se tratando do preenchimento dos quadros nas paredes, dos detalhes dos palácios e dos personagens na profundidade de campo, que dão uma identidade visual muito mais rica à história.

O momento de aparição de Krishna para raptar Rukmini, ao final do quadrinho, é um pouco atropelado, e o próprio fim da história ainda carece de um pouquinho a mais de contexto, mas certamente tem uma estrutura muito melhor do que a que tivemos no já citado volume O Protetor do Dharma. Ao vencer Rukmi na corrida de carruagens e também em uma batalha de arco e flecha, Krishna acaba poupando a vida do príncipe a pedido de Rukmini (que já havia acenado para o fato de que não queria derramamento de sangue), mas como punição, raspa metade do cabelo e do bigode do guerreiro, o que certamente era uma grandiosa desonra. Um Amor Que Não Será Negado é um conto engajante e interessante em seu aspecto simbólico, mitológico e religioso; mas também tem curiosas implicações em uma interpretação cultural, porque a forma como Rukmini é tratada aqui representa muito do que se via (e se vê até hoje) em relação às mulheres indianas e a sua relação ou a relação de suas famílias com a escolha e os preparativos para o casamento.

Krishna e Rukmini: Um Amor Que Não Será Negado (Krishna: A love that will not be denied) — Índia, 1976
Roteiro: Kamala Chandrakant
Arte: Pratap Mulick
Editoria: Anant Pai
34 páginas

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