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Crítica | Knight of Fortune (Ridder Lykke)

Lidando com a dor da perda.

por Ritter Fan
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São incontáveis as maneiras como alguém reage à perda de um ente querido. Há o desespero, a raiva, a indiferença, a descrença, a recusa em acreditar e assim por diante. Knight of Fortune, título em inglês do curta dinamarquês Ridder Lykke, que por sua vez tirou seu título de uma canção da banda pop Rocazino, é uma singela representação audiovisual de uma dessas possíveis reações, algo que o diretor e roteirista Lasse Lyskjær Noer faz transitando entre a melancolia e a comicidade em um curta que é fortemente ancorado na atuação do veterano ator sueco Leif Andrée em oposição ao trabalho do também veterano dinamarquês Jens Jørn Spottag, como dois lados de uma mesma moeda.

Andrée vive Karl, homem que acabou de perder sua esposa e está no necrotério prestes a abrir o caixão, mas que faz de tudo para evitar essa verdade, desde tentar consertar a lâmpada fluorescente da sala em que é deixado pelo médico legista, até esconder-se no banheiro atônito, sem saber o que exatamente fazer. E é no banheiro que, de maneira leve, cômica até, ele conhece Torben (Spottag), outro homem em situação semelhante a dele que lhe pede para abrir o caixão de sua esposa, o que leva a uma narrativa que flutua entre a leveza e a densidade, entre o humor e a tristeza, mas sem que nunca, em momento algum, o curta se perca em classificações fáceis.

Sim, há diversos momentos feitos para rir, mas toda a risada em Knight of Fortune carrega uma marca, um peso e quase que inevitavelmente nos faz lembrar de situações semelhantes que já tenhamos vivido ou que tememos viver de uma forma ou de outra. Na medida em que a minutagem avança, a narrativa consegue nos apresentar ao médico que, de tanto ver morte, parece já ter perdido a sensibilidade, seu estagiário que demonstra completo desinteresse por tudo ao seu redor, Karl, perdido em sua dor, Torben repleto de complexidade e ainda outros personagens que orbitam nessa temática funérea, mas muito bem escrita por Noer, que acerta na naturalidade dos diálogos mesmo quando eles são esdrúxulos e na forma como extrai as atuações da dupla central.

Por outro lado, sua direção é claudicante. Apesar de Noer saber deixar a câmera parada nos rostos de seus astros veteranos e de conseguir alguns ótimos enquadramentos como quando vemos Karl, de costas, segurando a lâmpada da sala, com o caixão de sua esposa em primeiro plano, o cineasta por vezes se perde nos espaços confinados que têm para trabalhar, com sua decupagem nem sempre funcionando tão fluidamente quanto seu texto exige, o que esvazia algumas sequências, mesmo as mais supostamente cômicas como quando Torben e Karl e recebem abraços quase surreais de tão estranhos. Além disso, desgosto de sua decisão de efetivamente mostrar o conteúdo de um dos caixões, por reputá-la como desnecessária para transmitir a mensagem.

Mesmo assim, Noer acerta muito mais do que erra em Knight of Fortune e consegue encapsular liricamente, em pouquíssimos minutos, sentimentos que fazemos de tudo para nos desviar e que por vezes não sabemos lidar. A conexão entre Karl e Torben é semelhante entre a que nós criamos com os dois, algo hesitante, nem lá, nem cá, mas estabelecida firmemente pela grande inevitabilidade humana que tentamos compreender, aceitar e nos resignar, mas que rara e verdadeiramente conseguimos.

Knight of Fortune (Ridder Lykke – Dinamarca, 2022)
Direção: Lasse Lyskjær Noer
Roteiro: Lasse Lyskjær Noer
Elenco: Leif Andrée, Jens Jørn Spottag, Jesper Lohmann, Dick Kaysø, Oliver Due, Bodil Lassen
Duração: 26 min.

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