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Crítica | Kamen Rider Ryuki (2002) – 1X01 e 02: A História Secreta do Nascimento / O Contra-Ataque da Aranha Gigante

Kamen Rider só no nome.

por Ritter Fan
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Bem-vindos ao Plano Piloto, coluna semanal dedicada a abordar exclusivamente os pilotos de séries de TV.

Número de temporadas: 1
Número de episódios: 50
Período de exibição: 03 de fevereiro de 2002 a 19 de janeiro de 2003.
Há continuação ou reboot?: Sim. Foi precedida por 11 outras séries e sucedida por mais de 30 séries, especiais televisivos e longas-metragens que continuam sendo lançados até hoje em dia.

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É muito raro encontrar efeitos especiais que não envelhecem, mas uma coisa para mim é absolutamente clara: efeitos práticos não só demoram mais a envelhecer, como envelhecem melhor, enquanto que efeitos digitais logo se tornam estranhos e perdem o vigor que um dia talvez tenha tido. E isso e particularmente verdadeiro para obras de baixo orçamento feitas para a televisão como é o caso da franquia Kamen Rider. Até o final da Era Showa, com Kamen Rider Black RX, aqueles valores de produção tipicamente “toscos” mantiveram seu charme, variando de série para série, evidentemente. Com o retorno da franquia na Era Heisei, a “obrigação” de se usar computação gráfica ou rudimento dela pelo menos, criou séries que já nasceram “velhas” nesse quesito, como foi o caso de Kuuga e Agito, com o mesmo acontecendo agora com Kamen Rider Ryuki. Não afirmo isso como um demérito necessariamente, pois é parte do DNA de tokusatsus, mas sim como mera constatação que se aplica também a uma infinidade de longas-metragens hollywoodianos milionários.

Ryuki, apesar de se valer mais ainda de CGI do que as duas séries que a antecederam, algo que, não tenho dúvida, será mais intenso a cada nova série, tem a vantagem de tentar fazer algo realmente diferente do que tudo o que veio antes. Trata-se de uma vantagem que, ironicamente, tem também desvantagens que são “iguais” às vantagens, mas deixe-me começar pelo que a série tem de bom. Para começo de conversa, pelo menos nos dois episódios iniciais, não há resquício algum da linha narrativa usada em todas as 11 séries anteriores, ou seja, a transformação de um humano em um ciborgue motociclista como fruto de planos malignos de uma corporação secreta. Não sei se algo assim surge mais para a frente, mas, aqui, nesse início, a origem do novo Kamen Rider é completamente diferente e relacionada com a magia (ou eu acho que é magia) de um deque de cartas que o aparvalhado estagiário de jornalista Kido Shinji (Suga Takamasa) acha no apartamento de uma das várias pessoas que desapareceram misteriosamente na cidade e que o permite transformar-se em uma espécie de cavaleiro medieval prateado e azul  inicialmente (mais uma diferença grande, que defenestra o visual clássico insectoide) para lutar na Dimensão Espelho, em que tudo é “ao contrário”, há diversos monstros e nenhum humano. Está mais para Yu-Gi-Oh e Magic: The Gathering com Star Trek

Pontos para a originalidade (ou completa viagem lisérgica) e para a coragem de reformular completamente a narrativa, com um upgrade na armadura medieval que ganha uma simbologia de dragão  a cor vermelho no lugar de azul já no segundo episódio, quando Shinji faz um pacto com um dragão vermelho digital da Dimensão Espelho com uma carta de pacto, seguindo a linha de jogos de fantasia que usam esses deques. Sem perder muito tempo, o primeiro episódio também introduz Yui Kanzaki (Ayano Sugiyama) e Ren Akiyama (Satoshi Matsuda) que já trafegam bem entre nosso mundo e a Dimensão Espelho, com um deles, Ren, também sendo um Kamen Rider, mais especificamente o Kamen Rider Knight, com indumentária medieval inspirada em morcegos que lhe dá a inevitável aparência de uma versão “radical” do Batman. Enquanto Yui parece compadecer-se de Shinji, oferecendo-lhe conselhos e alguma explicação sobre o que está acontecendo, Ren tem uma postura mais aguerrida, distante e egoísta, além de ter um interesse grande no dragão que persegue Shinji, algo explicado apenas de soslaio nesse começo como uma forma de competição entre os Kamen Riders criados por esses deques de cartas.

Mas, com isso, vêm as desvantagens que mencionei mais acima como se confundindo com as vantagens. Enquanto todas essas mudanças na mitologia de Kamen Rider trazem novidades e as sempre boas lufadas de ar fresco nessa 12ª série da franquia depois de décadas no ar desde o já longínquo ano de 1971, com Kamen Rider, fica a pergunta: o que vemos ainda é Kamen Rider? Claro que estou julgando apenas com base nos dois primeiros episódios de Ryuki, o que obviamente não é a melhor maneira de fazer isso, mas ao distanciar o visual do herói dos insetos em que se baseou, especialmente do gafanhoto (ok, teve um réptil também, aliás, muito interessante, em Kamen Rider Amazon, de 1974), e transformando-o em um cavaleiro medieval e ao trazer magia, universos paralelos e uma competição entre Kamen Riders, parece que a repaginação criou, na verdade, um outro personagem e uma outra mitologia tão distantes dos que serviram como sustentáculo para a franquia, que Kamen Rider Ryuki realmente não parece Kamen Rider para além do uso do nome Kamen Rider. Podemos dizer que pelo menos o espírito do material original foi mantido? Minha resposta a essa pergunta, também baseada nos dois episódios iniciais, é que não me pareceu o caso, já que o que restou é algo em comum a basicamente todos os super-heróis japoneses em tokusatsus, ou seja, a transformação de um humano em um herói com traje espalhafatoso que luta contra criaturas estranhas. Trata-se do primeiro Kamen Rider que parece ter “vergonha” de se relacionar com o passado de sua própria franquia.

Com isso, no afã de criar algo realmente novo, os dois primeiros episódios de Kamen Rider Ryuki contam uma história tão distante da mitologia clássica usada, de uma maneira ou de outra, até Agito que o que sobra é uma curiosidade apenas que merece louvor pela originalidade, mas que parece ter se esquecido em que franquia está inevitavelmente inserido. Não tenho muitas dúvidas de que o restante da temporada traz elementos que criam mais convergência com as séries anteriores, mas esse começo, apesar do traje vistoso e de sua premissa “fora da caixinha”, mesmo que com CGI de TK-85, não é exatamente Kamen Rider ainda.

Kamen Rider Ryuki (2002) – 1X01 e 02: A História Secreta do Nascimento / O Contra-Ataque da Aranha Gigante (仮面ライダー龍騎 / Kamen Raidā Ryūki – Japão, 03 e 10 de fevereiro de 2002)
Conceito original: Shotaro Ishinomori
Direção: Ryuta Tasaki
Roteiro: Yasuko Kobayashi
Elenco: Suga Takamasa, Matsuda Satoshi, Sugiyama Ayano, Kikuchi Kenzaburo, Ryōhei, Yuge Tomohisa, Hagino Takashi, Kimura Takeshi
Duração: 23min. (cada episódio)

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