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Crítica | Juventude (1951)

por Luiz Santiago
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Seguindo a cronologia das produções de Ingmar Bergman, Juventude foi rodado entre 3 de abril e 18 de junho de 1950, antes de Isto Não Aconteceria Aqui, mas a distribuidora que detinha os direitos para as duas obras inverteu a ordem de lançamento, primeiro colocando em cartaz a fita anti-comunista e só no ano seguinte, a reflexão do diretor sobre o primeiro amor. Os dois longas chegaram a se cruzar, na verdade. Enquanto filmava Juventude, Bergman pré-produzia Isto Não Aconteceria Aqui; e enquanto rodava este último (cujas filmagens começaram no início de julho de 1950), ele pós-produzia Juventude.

O período em torno de 1950 foi bastante complicado para Bergman. Um ano antes ele teve encerrado o seu contrato com o Teatro Municipal de Gothenburg. Tentou reviver, sem sucesso, a Companhia Intima Teatern. Um ano depois, terminou seu segundo casamento, que já ia no quarto filho; mas já a esta altura sabia que sua amante e futura esposa estava grávida. Sem contar que ele também tinha uma filha do primeiro casamento, para sustentar. Nas duas autobiografias que escreveu e nas entrevistas onde falava dos filmes deste período, o diretor ressaltava o quanto precisava de dinheiro, pois seu orçamento familiar era notável. Para piorar a situação, em 1951, devido a um impasse da indústria cinematográfica sueca com o governo, por conta da grande quantidade de impostos, não se produziram filmes no país, apenas foram finalizadas as poucas obras cujas produções se iniciaram no ano anterior.

É por isto que Juventude foi de grande importância para o cineasta. Como a única coisa que ele dirigiria em 1951 seriam 9 comerciais de sabonete para a empresa Bris, o sucesso internacional do filme faria a diferença, tanto naquele ano quanto na afirmação de sua carreira daquele ponto em diante. Embora a crítica na Suécia tenha se dividido, a opinião internacional foi mais receptiva e o filme chegou a ser nomeado ao Leão de Ouro, no Festival de Veneza. Não sem motivos. Juventude é mesmo um grande filme e, a despeito de um certo embaraço por parte da montagem, no momento em que o flashback começa, e pela perda do “momento certo” para a finalização, a obra tem uma direção sólida, com belos planos, brilhante fotografia de Gunnar Fischer e excelente interação da temática com o mundo artístico, neste caso, o balé, de onde podemos tirar a metáfora para a suavidade e ao mesmo tempo para os sacrifícios encontradas no decorrer da vida.

O roteiro, escrito por Bergman (baseado em um de seus primeiros contos, cuja versão mais antiga — porém, modificada — datava de 1945) e com supervisão do amigo e parceiro de escrita Herbert Grevenius, que já trabalhara com o diretor em Chove Sobre Nosso Amor e Sede de Paixões, nos conta a história de Marie (Maj-Britt Nilsson, em excelente interpretação, nas duas fases da vida da personagem), uma bailarina clássica que recebe um pacote com um antigo diário, cuja leitura a faz lembrar de um verão ao lado de Henrik (Birger Malmsten, em ótima performance) seu primeiro amor. O cerne do longa é esta lembrança, que explora as férias de verão do jovem universitário e da então iniciante bailarina, marcando o primeiro beijo, o sexo, os mergulhos no mar e as promessas de jovens apaixonados.

A princípio, não existe o esperado contraste entre o passado e o presente. Neste ponto, a obra se diferencia bastante de outra metáfora artística do diretor, Rumo à Alegria (1950), que transita entre dois pontos e mostra como o amadurecimento, as desavenças entre um casal e as mudanças de planos impostas pela vida podem ser traumáticas e ao mesmo tempo dar espaço para um novo tipo ou momento de felicidade (há uma belíssima obra de Agnès Varda chamada As Duas Faces da Felicidade que trabalha este tema de maneira inesquecível). Em Juventude, o passado toma a maior parte da fita, sendo o presente mostrado como um ponto de reflexão na parte final, onde a tristeza e a alegria da vida se misturam, fazendo a protagonista entender a traumática experiência vivida e perceber que é tempo de derrubar os muros que construiu ao redor de seu coração.

Pelo uso da estação do ano e pelo maravilhoso trabalho fotográfico de Gunnar Fischer, este filme pode ser classificado como o primeiro dos “filmes de verão” de Bergman. Esta época do ano já tinha aparecido em algumas suas obras antes, só que mais como ensaio, como um elemento simples em torno dos personagens. Aqui, a estação serve como símbolo de uma “Era” de felicidade na vida de uma pessoa, um momento onde tudo é muito iluminado e uma profusão de prazeres se sucedem. Claro que isto não impede que eventos mais sérios apareçam na obra, mas não há fuga de tema ou linhas narrativas incompletas. O filme só encontra tropeços na finalização estendida (a cena final do balé) e na primeira parte da montagem, que não organiza bem a dinâmica de passagem do tempo entre o ensaio do Lago dos Cisnes, de Tchaikovsky, a vida adulta de Marie e a ponte para o passado, que ela cruza após receber o misterioso diário.

Terno, cheio de vida (em muitos sentidos deste termo), lirismo, metáforas e estabelecimento ou renúncia de laços humanos e sentimentais, Juventude parece um álbum de fotografias em movimento, um olhar rápido para um momento de amor e felicidade no passado e a constatação de que, não importa o que aconteça, aquele momento sempre estará com quem o viveu. Não é à toa que este é considerado, por muitos, a primeira obra-prima de Bergman. Particularmente não acho que seja, mas este é, com certeza, seu primeiro filme mais sólido e verdadeiramente maduro. Um ode à juventude. Em qualquer idade.

Juventude (Sommarlek) — Suécia, 1951
Direção: Ingmar Bergman
Roteiro: Ingmar Bergman, Herbert Grevenius
Elenco: Maj-Britt Nilsson, Birger Malmsten, Alf Kjellin, Annalisa Ericson, Georg Funkquist, Stig Olin, Mimi Pollak, Renée Björling, Gunnar Olsson
Duração: 96 min.

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