Home QuadrinhosArco Crítica | Juramento de Vingança (Tex – Série Regular #103 a 106)

Crítica | Juramento de Vingança (Tex – Série Regular #103 a 106)

O peso da tragédia.

por Luiz Santiago
24 views

Lançada em 1969, Juramento de Vingança representa um marco nas aventuras de Tex Willer ao revisitar um dos momentos mais sombrios de sua história: a morte de sua esposa Lilyth. Com roteiro de Gianluigi Bonelli e arte de Aurelio Galleppini, a saga aborda não apenas a busca por justiça, mas também questões morais e sociais profundas, como o racismo contra os povos nativos e a desumanidade com que os indígenas de diversas regiões dos Estados Unidos eram (e são!) tratados. É uma narrativa que equilibra o drama pessoal com um enredo de vingança envolvente, ainda que apresente algumas limitações em seu desfecho.

O ponto central aqui é a descoberta de uma conspiração de bandidos vingativos que, em uma atitude vil, disseminam varíola entre os Navajos por meio de cobertores contaminados. Esse ato não apenas catalisa o ódio de Tex, mas também expõe a crueldade e o desprezo que os criminosos nutrem pelos nativos, um elemento que Bonelli utiliza para reforçar o caráter humanitário e protetor do protagonista – ao mesmo tempo que não relega os navajos à posição de vítimas: eles vão com tudo para cima dos criminosos e iniciam, mesmo a contragosto do Exército, a vingança contra os contaminadores de aldeias. A condução do enredo alterna muitíssimo bem os momentos de ação frenética no presente, com um longo flashback que revela a motivação por trás da tragédia que devastou a vida de Tex.

O autor exibe sua habilidade como contador de histórias ao estruturar a narrativa em blocos de tempos distintos. O presente serve como uma plataforma para a ação imediata e a caçada ao último bandido, enquanto o passado aprofunda o impacto emocional da história, detalhando os eventos que levaram à morte de Lilyth. Esse recurso não apenas enriquece o texto, mas também dá ao leitor a chance de se conectar com a dor e a fúria de Tex. Os cortes frequentes entre os dois períodos podem ser um pouco abruptos, prejudicando momentaneamente o ritmo da leitura, mas não é algo que dura por muito tempo.

Os bandidos não apenas atacam os navajos fisicamente, mas também expressam seu ódio em palavras e ações que evidenciam uma mentalidade desumanizadora. Bonelli usa esses elementos para contrastar com a postura de Tex, totalmente integrado à cultura navajo e agindo como seu defensor intransigente. Essa oposição reforça o caráter heroico do Águia da Noite e também traz à tona questões sociais relevantes, mesmo para os dias atuais. 

O ponto mais fraco de Juramento de Vingança está na parte final. A ideia de um barco-cassino operado pelo último bandido a ser capturado é intrigante à primeira vista, mas acaba destoando da densidade emocional e temática construída ao longo da história. Embora não seja ruim, esse segmento carece do mesmo impacto narrativo e dramático das sequências anteriores, deixando o desfecho com um sabor um tanto anticlimático (menos pela arte de Galleppini, que segue interessante). Ainda assim, a justiça final é satisfatória, completando o arco de vingança com coerência.

Juramento de Vingança é uma história emblemática na longa trajetória de Tex. Apesar de algumas imperfeições em sua conclusão, o arco entrega diversos momentos importantes, reforçando o compromisso do ranger com a justiça e sua conexão com os navajos. É uma obra que merece ser lembrada não apenas por seu valor histórico, mas também por sua capacidade de abordar temas universais de maneira envolvente, sendo relevante sem ter que apregoar de forma cansativa alguns valores sociais, morais e éticos que a convivência entre diferentes grupos exige.

Juramento de Vingança (Fort Defiance / Il giuramento / L’implacabile / La paga di Giuda) — Itália, maio – agosto de 1969
Contendo: Tex – Série Regular #103 a 106 (numeração original italiana)
Roteiro: Gianluigi Bonelli
Arte: Aurelio Galleppini
Capa: Aurelio Galleppini
Edição lida para esta crítica: As Grandes Aventuras de Tex #1 (Mythos, março de 2019)
314 páginas

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais