Arnold Schwarzenegger vai ser para sempre um ícone do Cinema de ação, sem dúvida nenhuma. Mas é engraçado e curioso que o ator tenha passado grande parte da sua carreira desconstruindo sua própria imagem de protagonista durão. Seja como um gigante bonzinho em Irmãos Gêmeos; como um professor do jardim de infância; ou fazendo uma autoparódia em O Último Grande Herói, o nosso querido austríaco estava determinado a mostrar seu lado cômico e doce no final dos anos 80 e na década de 90.
Em Junior, terceira colaboração de Schwarzenegger com Ivan Reitman, temos outro exemplar da dupla criando uma produção em cima de uma premissa simples e absurda que brinca com contrastes da imagem do ator. Dessa vez, a estrela de ação interpreta um cientista que decide fazer um experimento em si mesmo com sua pesquisa de fertilidade, efetivamente ficando grávido. O protagonista faz isso com a ajuda do Dr. Larry Arbogast (Danny DeVito), e também o auxílio da pesquisa da Dra. Diana Reddin (Emma Thompson), sem ela saber.
A oportunidade criada pela produção é colocar a maior figura de masculinidade da época tendo uma experiência unicamente feminina. O roteiro de Kevin Wade e Chris Conrad não tenta fazer muito sentido científico ou médico (nem deveria), apenas dando contexto para que a situação de humor exista. É um texto bem eficiente, que não perde tempo com explicações, e que nos leva diretamente para uma narrativa que se desenvolve de acordo com a gravidez de nove meses de Schwarza.
Junior é meio que um filme de uma única piada, o que deixa uma sensação de repetição e de uma história pouca articulada para o que parece mais uma esquete do que um longa-metragem. Mas existem muitas gargalhadas com a comédia física, com Schwarzenegger passando por um turbilhão de hormônios, desejos de comida, emoções à flor da pele e as dores corporais de uma gravidez. As sequências dele correndo com um barrigão ou participando de um retiro de grávidas são fantásticas.
Também gosto de como o austríaco não traz uma interpretação caricata. Ele realmente interpreta um homem passando por uma gravidez, se emocionando, tendo dúvidas e nutrindo amor maternal pelo feto. Existe uma cena, por exemplo, que o personagem questiona para Diana se seu corpo é nojento, e Schwarzenegger diz a frase com uma honestidade hilária. O fato dele levar a situação a sério e não procurar apenas o humor, deixa tudo ainda mais divertido de acompanhar.
A dinâmica de Schwarzenegger com seus co-protagonistas é outro destaque da produção. Danny DeVito traz seu típico cinismo e irritabilidade com uma mescla de entusiasmo, que se mistura muito bem com a postura vulnerável do protagonista. E Emma Thompson está divertidíssima como uma pesquisadora desastrada e muito carismática, trazendo seu próprio humor físico para o filme.
Muitas piadas do longa são sobre estereótipos femininos, com algumas rendendo bons risos, e outras sendo clichês ruins (mulher que cozinha e coisas do tipo). Mas ver esses estereótipos saindo da boca de um bodybuilder gigantesco é ouro puro. Como disse antes, as coisas podem ficar narrativamente repetitivas, mas a produção é um passatempo de qualidade.
É incrível como Ivan Reitman pega essas ideias um tanto bobas e cria bons filmes de comédia. O cineasta entende que o foco é tanto na situação absurda quanto nos personagens, dedicando muito tempo para dramas simples e diálogos sinceros. Como sempre, seus filmes não têm profundidade, mas desfilam ternura. Aqui, Reitman transforma uma premissa ridícula em uma comédia familiar muito agradável sobre gravidez, humor físico, homens e mulheres, e estereótipos femininos. E, bem, assistir Arnold Schwarzenegger ficando grávido é realmente impagável.
Junior – EUA, 1994
Direção: Ivan Reitman
Roteiro: Kevin Wade, Chris Conrad
Elenco: Arnold Schwarzenegger, Danny DeVito, Emma Thompson, Frank Langella, Pamela Reed
Duração: 111 min.