Home QuadrinhosOne-Shot Crítica | Júlia Kendall – Vol. 15: Morte Segurada

Crítica | Júlia Kendall – Vol. 15: Morte Segurada

por Kevin Rick
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Neste décimo quinto capítulo da série Aventuras de uma Criminóloga, o roteiristas Giancarlo Berardi, Claudia SalvatoriMaurizio Mantero abordam o caso de uma mulher chamada Virgínia que sofre constantes ameaças por telefone de um homem que ela acredita ser seu ex-marido morto. Pessoas ao redor da milionária começam a sofrer acidentes estranhos e a morte parece perseguir Virgínia junto dos telefonemas de um fantasma do passado em busca de vingança. Para resolver este mistério, Leo Baxter, a serviço de uma seguradora com interesse no caso, pede a ajuda de Júlia Kendall para desvendar o cenário macabro.

É interessante como o roteiro da série tem assumido um caráter meio simbólico, metafórico e referencial com a ambientação e o pano de fundo da obra para a trama em si. Podemos ver isso em Poesia Mortal, tanto com o meio digital, como também as referências à Cyrano, e na edição anterior, O Caçador, a narrativa tem essa proposta artística da “presa e o predador” construída no seu entorno, desde menções a livros deste estilo, até a colocação da criminologia como caçadora. Esse processo de unir o crime e a investigação à atmosfera é muito bem feito em Morte Segurada com o sobrenatural.

Logo de início, vemos Virgínia confrontar um zumbi, e suas cenas atendendo o telefone são feitas de maneira a sustentar o fantasmagórico como possível assassino. Ao longo da edição, notamos que a história se passa durante o Halloween, e vemos sua filha assustá-la com dentes de vampiro, o gatinho de Júlia enfrentar uma abóbora do Dia das Bruxas, e também a sequência de descoberta dos esqueletos no mar, já conectando-se à capa de terror fantasioso, preenchem, entre outros detalhes, o sobrenatural como culpado.

Curiosamente, como eu e o Luiz dissemos em outras críticas, a série tem adotado uma abordagem do cercamento da justiça como meio de compor tensão, mas, aqui, substitui-se os erros e as pistas do criminoso para dar espaço ao fantástico como cercador das vítimas, e como a obra sempre teve um pezinho no absurdo, seja com os pesadelos de Júlia Kendall ou em uma edição mística como Se As Montanhas Morrem, a construção desta edição continua orgânica pensando no todo, apenas pegando pontuais inserções e colocando-as como foco narrativo em um grande pesadelo em torno da morte, do passado, remorso e culpa.

Isso torna a leitura singular, pois nós sabemos que o culpado não é um fantasma ou um zumbi, logo, a maneira como as pistas são intrincadas ao sobrenatural, colocam a gente em constante indagação do “por que a resposta da investigação não é o sobrenatural?”, ou, mais necessariamente, “como?”, que é a pergunta que todo autor de mistério policial quer deixar em mente no consumidor. E esse questionamento também acontece por outra qualidade da edição: o longo caminho que o roteiro faz para desenvolver o papel de vítima de Virgínia, tanto em sua caracterização maluquete, como nas formas que seus familiares sofrem seus acidentes.

Eu realmente amei a maneira como Berardi e Mantero construíram a investigação em torno do sobrenatural, puxando uma espécie de pesadelo completo à obra, e a própria arte escura, meio inacabada e surreal de Giancarlo Caracuzzo e Laura Zuccheri vai de encontro a esta proposta narrativa da atmosfera como cercamento da vítima e indagadora do nosso ponto de vista. E então… vem a resolução. O desfecho surpreende? Claro, e até faz algo inédito na série ao deixar o culpado livre da justiça por um erro de Júlia. É chocante? Obviamente, especialmente com o final da Virgínia. O problema para mim é como ele é feito de maneira súbita, e não reclamo da usual parada de explicação do ocorrido, mas sim de como esse momento acontece sem um desenvolvimento investigativo orgânico, caindo numa situação de “eureka”. Dito isso, mesmo sendo anticlimático, Morte Segurada é uma interessantíssima edição no cânone da série, e demonstra mais uma vertente narrativa e atmosférica interessante das aventuras da criminóloga.

Julia – Le avventure di una criminologa #15: Morte Assicurata | Itália, dezembro de 1999
Roteiro: Giancarlo Berardi, Maurizio Mantero
Arte: Laura Zuccheri, Giancarlo Caracuzzo
Capa: Marco Soldi
Editora original: Sergio Bonelli Editore
No Brasil:
Editora Mythos, 2006 e 2021
132 páginas

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