Home QuadrinhosOne-Shot Crítica | Júlia Kendall – Especial #1: O Caso do Criminólogo Assassino (2015)

Crítica | Júlia Kendall – Especial #1: O Caso do Criminólogo Assassino (2015)

Entre o coração e a razão.

por Luiz Santiago
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Em 2005, Júlia Kendall transformou-se na protagonista da série Almanacco del Giallo, substituindo Nick Raider. Nestas aventuras, foram apresentadas histórias que se passavam antes da série regular, e esteve focada em Júlia quando ainda era uma jovem estudante de criminologia, lidando com suas primeiras investigações. Com o encerramento do título em seu décimo volume, no ano de 2014, a personagem ganhou uma outra publicação anual, agora em cores, chamada Speciale Julia, que até o momento em que escrevo esta crítica (janeiro de 2024) teve sua última edição (Il Caso del Rave Party) publicada em 2021. A presente crítica explora os acontecimentos da primeira história dessa Speciale Julia: O Caso do Criminólogo Assassino.

Similar à dinâmica do Almanaque do Crime, essa história dá o tom da nova série especial, que começa como uma continuação das aventuras da criminóloga em formação. Mesmo sendo estudante, ela já carregava uma fama marcante como profissional, tendo ajudado a resolver uma dezena de casos. No texto de Giancarlo Berardi e Maurizio Mantero, ela é convidada por um professor a um congresso dos pares, um local onde a nata estadunidense da criminologia estaria compartilhando pesquisas e teorias sobre a arte de entender, desvendar e controlar a criminalidade, bem como capturar os criminosos. É nesse espaço que um assassinato acontece, justamente o de um professor que tinha feito várias inferências, quase que “de brincadeira” sobre pequenos delitos cometidos por alguém (ou alguns) entre os palestrantes.

Embora eu não goste do teor romântico que recebe alguma atenção do roteiro do meio para o final do volume (prefiro quando esse aspecto é apenas sugerido e/ou levemente abordado nas histórias da personagem, justamente para não tomar espaço de coisas verdadeiramente importantes, como o crime e o seu processo de investigação/revelação), acredito que os autores conseguiram utilizá-lo para mostrar um lado mais íntimo da protagonista, um lado mais frágil e até mesmo socialmente visto como “feminino”. Essas facetas são normalmente colocadas de lado por ela mesma, em suas aventuras quando adulta — o que não significa que não hajam docilidades íntimas; mas não da forma como vemos aqui — e eis que, nessa história, vemos uma paixão nascer, seguida de uma declaração, uma entrega e um recuo, que é a melhor parte de todo o bloco emotivo.

A relação de Júlia com a policial responsável pelo caso cria uma excelente dinâmica, já que cada uma possui um modo de abordagem e uma maneira diferente de enxergar suspeitos e perfis de assassinos. Como o processo de investigação não cresce muito, mantendo-se nos interrogatórios básicos, sobra para o leitor tentar acompanhar o fio da meada e chegar ao assassino antes que ele faça mais vítimas. Com citações ao escritor Dashiell Hammet e ao personagem Hercule Poirot, o roteiro tensiona ao máximo a relação entre os criminólogos e a polícia e mostra como os homens tratam as mulheres que trabalham na mesma área, com muito desprezo, piadinhas machistas que tentam diminuir a capacidade de pensamento da profissional e inutilizando a avaliação das colegas. Os autores não esculpem bem o trajeto entre o último atentado e a explicação do crime, mas não há nada que se possa classificar como irremediável na trama. Entre o coração e a razão, Júlia se vê diante de alguém que está querendo cobrir seus rastros, e fará o que for preciso para que ninguém descubra o vergonhoso segredo.

Júlia Kendall – Especial Vol. 1: O Caso do Criminólogo Assassino (Speciale Julia #1: Il caso del convegno insanguinato) — Itália, julho de 2015
Roteiro: Giancarlo Berardi, Maurizio Mantero
Arte: Antonio Marinetti
Cores: Arianna Florean
Capa: Marco Soldi
No Brasil: Editora Mythos, agosto de 2020 (Júlia Graphic Novel n° 1)
Tradução: Júlio Schneider
140 páginas

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