Home QuadrinhosOne-Shot Crítica | Júlia Kendall – Almanaque do Crime #1: Meu Primeiro Caso (2010)

Crítica | Júlia Kendall – Almanaque do Crime #1: Meu Primeiro Caso (2010)

Os primeiros passos de uma grande profissional.

por Luiz Santiago
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O Almanacco del Giallo foi uma série de edições anuais da Sergio Bonelli Editore dedicada a mostrar acontecimentos do início da carreira da criminóloga Júlia Kendall. De certa forma, pode ser vista como prequel da série regular, pois, através de um longo flashback, cada edição apresenta uma Júlia muito mais nova às voltas com as suas primeiras investigações. Depois de dez edições, publicadas entre 2005 e 2014, o Almanaque do Giallo com as histórias da jovem Kendall, foi encerrado. Na presente crítica, trago a análise para a história de abertura dessa série, muito oportunamente intitulada Meu Primeiro Caso.

Toda vez que me deparo com uma trama que mostra a origem ou os primeiros passos de um personagem, sou imediatamente tocado por um senso de atenção e capacidade de ligações que me espanta (isso quando já conheço esse personagem de outras histórias, claro). Com Júlia não foi diferente. Acredito, porém, que mesmo o mais distraído e esquecido dos leitores não terá dificuldade alguma de traçar paralelos e ver as raízes de todo o Universo que conhecemos em Os Olhos do Abismo, porque o roteiro de Giancarlo Berardi e Maurizio Mantero expõe essas comparações de forma direta, através do diário da protagonista, que notamos, parece existir desde a sua adolescência. O formato da série, como disse no parágrafo de introdução, é um meio caminho para esse tipo de ligação, pois ele mostra Júlia no momento em que a conhecemos (ou seja, em algum período após a primeira edição da série regular), lembrando-se de um fato do passado.

Aqui ela se lembra do momento em que recebeu o convite para o primeiro caso. Um convite despreocupado, quase um teste feito por um querido professor e orientador da personagem e que acaba colocando-a em contato com o primeiro assassinato em sua vida profissional (um caso de estrangulamento numa dinâmica de ganância que me lembrou um pouco Amor e Dinheiro). Como percebemos na estrutura da série regular a partir de Dilúvio de Fogo, existe um lado pessoal, sentimental, psicológico/íntimo em torno da protagonista, ou seja, a trama com o “problema da vez” é explorada em paralelo às inquietações, desejos e pensamentos de Júlia, tanto em relação à sua vida profissional, quanto em relação à sua própria existência, aos seus relacionamentos amorosos e familiares, destacando aí sua irmã e sua avó.

Na introdução, o autor explica o verdadeiro motivo de ter adotado essa linha como base para a série a partir do quarto volume. Foi um pedido do editor da casa, Sergio Bonelli, para que a verve mais violenta e sangrenta do arco de Myrna fosse um tantinho abrandada e não tomasse conta das histórias seguintes. Embora eu veja que Berardi só seguiu parcialmente esse conselho (com a ideia era “pensar um pouco nos leitores mais jovens“), porque de fato as três aventuras iniciais possuem uma densidade e um foco narrativo diferente do que teríamos depois, Júlia continuou explorando todo tipo de miséria e horror humanos, só que com uma costura que também destaca o lado bom da vida. Na presente aventura, Júlia vê o quão banal é a vida nas mãos de um psicopata, de um jogador, mas ao mesmo tempo conhece alguém tão fantástico quanto Irvin ou como seu próprio professor, pessoas que se importam com ela, que mostram que existe gente boa nesse mundo.

Lembrar-se de histórias que nos moldaram, que nos fizeram ser quem somos é um exercício nostálgico de grande peso. Nos coloca diante de pessoas que foram e talvez ainda sejam importantes para o nosso crescimento como pessoa ou como profissional. Em Meu Primeiro Caso, temos acesso a pelo menos duas dessas pessoas na vida de Júlia. É uma história que introduz o método da personagem, que estabelece as perguntas típicas da abordagem que ela faz diretamente com os suspeitos e até traz uma cena tensa de tribunal, narrada em andamento paralelo com a personagem descobrindo, de última hora, o que de fato estava por trás de tudo. É um pouco frustrante esse tipo de resolução às pressas, mas ainda assim funciona na trama, dado o seu excelente desenvolvimento. E ainda por cima, consegue nos fazer entender como a maioria das coisas começaram profissionalmente para a nossa querida criminóloga.

Júlia Kendall – Almanaque do Crime #1: Meu Primeiro Caso (Almanacco del Giallo: Il mio primo caso) — Itália, 2005
Roteiro: Giancarlo Berardi, Maurizio Mantero
Arte: Laura Zuccheri
Capa: Laura Zuccheri
No Brasil: Júlia – Aventuras de Uma Criminóloga Especial n° 1 (Editora Mythos, 2022)
Tradução: Júlio Schneider
130 páginas

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