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Crítica | Jovens, Loucos e Rebeldes

O último dia de aula.

por Kevin Rick
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O ano é 1976, em Austin, Texas, e estamos no último dia de escola. Jovens querem se divertir, usar drogas, escutar rock’n’roll e farrear na noite. Felizmente, o cineasta Richard Linklater não está interessado em muita coisa a não ser o espírito de liberdade e a experiência festiva da juventude, explorando com sutileza determinados conflitos de coming-of-age nas entrelinhas de diálogos entre os personagens e principalmente com o conhecido embate entre adolescentes e adultos, sempre a geração mais velha e cínica que, aos olhos da juventude, nunca parece compreendê-los. Mas estou me adiantando. Façamos antes uma digressão.

Jovens, Loucos e Rebeldes é uma extensão menos extremista do primeiro trabalho de Linklater: Slacker; uma obra que também explora diferentes figuras de uma geração ou estilo de vida que parecem à margem das normas sociais. No entanto, em seu segundo longa-metragem, o cineasta demonstra mais foco dramático. A estrutura nos dois filmes é similar, com uma narrativa estruturalmente solta seguindo diversos personagens sem muita linearidade de trama, mas aqui Linklater dá atenção para um grupo de personagens específicos que se esbarram e circulam a história uns dos outros em diferentes aventuras após o final do ano letivo.

O tom cotidiano e enganosamente arbitrário da obra é onde Linklater encontra o motor da sua direção, nos levando por uma jornada nostálgica pelo período, sua cultura pop e principalmente seus arquétipos. Do veterano que faz bullying (Ben Affleck) até o adulto que anda com a garotada (Matthew McConaughey), o elenco tem sua dose de clichês divertidos, mas também há algumas desconstruções, como o atleta-estrela (Jason London) que gosta de andar com os maconheiros e não se preocupa com o futuro no esporte. Aliás, existe uma sensação bem forte na obra de “viver o momento”, quase uma filosofia desta juventude setentista e seu legado hippie, vista tanto nos comportamentos irresponsáveis dos personagens quanto na direção espontânea e narrativa livre do longa.

De certa forma, a obra é embebida em inocência. Não existe muita ansiedade ou apreensão com o futuro, sendo que conseguir os ingressos do show do Aerosmith ou fugir dos rituais de passagem dos veteranos parecem ser as únicas preocupações da juventude. Linklater adora evidenciar a importância desses momentos, seja os trotes ou os flertes, seja o primeiro gole de cerveja e a primeira madrugada na rua, como situações que moldam o amadurecimento destes jovens e a nostalgia de quando se tornarem adultos. Interessante como o cineasta também brinca com diferentes idades da adolescência (alguns com 13, outros 17), e os vários grupos (dos intelectuais loucos para se divertirem, até os populares tendo seu último gostinho da juventude), explorando diferentes dinâmicas entre inúmeras personalidades.

Também é bacana como Linklater busca tantos elementos comuns de comédias adolescentes, em especial seus estereótipos de fácil identificação com o público, mas consegue misturá-los em uma narrativa incomum. Como eu disse antes, há um sensação muito gostosa de “viver o momento”, numa montagem que às vezes parece até uma colagem de divertidas esquetes (os calouros se vingando do veterano; o pai descobrindo a festa do filho; o introvertido entrando numa luta; os diferentes vilões da maioridade), e tudo acaba sendo bem dessemelhante de um arco batido de coming-of-age, para se tornar algo próximo de uma observação honesta e mágica do que era a juventude em 1976.

De muitas formas, Jovens, Loucos e Rebeldes é extremamente realista em sua falsa despretensão, e surpreendentemente profundo nas interações de um bando de jovens querendo diversão sincera, ainda dispondo de um desfecho praticamente catártico quando a juventude anda em direção ao nascer do sol para uma vida que está deixando de ser tão fácil. Mas no agora, nesse momento, tudo continua sendo um passeio alegre, continua sendo a juventude livre e inconsequente ao som de rock’n’roll enfrentando o mundo adulto. Linklater envolve o espectador nessa vibe, melhor descrita pelas palavras icônicas do personagem de McConaughey: “alright, alright, alright”. 

Jovens, Loucos e Rebeldes (Dazed and Confused) – EUA, 1993
Direção:
 Richard Linklater
Roteiro: Richard Linklater
Elenco: Jason London, Joey Lauren Adams, Milla Jovovich, Shawn Andrews, Rory Cochrane, Adam Goldberg, Anthony Rapp, Sasha Jenson Marissa Ribisi, Deena Martin, Michelle Burke, Cole Hauser, Christine Harnos, Wiley Wiggins, Mark Vandermeulen, Esteban Powell, Jeremy Fox, Ben Affleck, Jason O. Smith, Christin Hinojosa, Parker Posey, Matthew McConaughey, Catherine Avril Morris, Nicky Katt
Duração: 100 min.

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