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Crítica | Jonny Quest – 1X01: The Mystery of the Lizard Men

por Davi Lima
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Bem-vindos ao Plano Piloto, coluna dedicada a abordar exclusivamente os pilotos de séries de TV.

Número de temporadas: 1
Número de episódios: 26
Período de exibição: 18 de setembro de 1964 a 11 de março 1965.
Há reboot? Sim, chamado The New Adventures of Jonny Quest como parte do programa The Funtastic World of Hanna-Barbera em 1986. Ainda teve outro mais moderno, transmitido pelo Cartoon Network chamado The Real Adventures of Jonny Quest em 1996.


A grande matéria que torna esse piloto de
Jonny Quest ainda encantador e vivo como entretenimento, mesmo depois de quase 60 anos de datação, é sua ilustração, seu gráfico idealizado por Doug Wildey. Apesar de não ser creditado de primeira como criador principal, em vista que o estúdio Hanna-Barbera relatou inicialmente como uma animação televisiva baseada nos conceitos de Doug, não são os roteiros e estilo clássico dos diretores Joseph Barbera e William Hanna que estimulam, de maneira geral, o primeiro episódio como efeito de qualidade. Para uma trama aventuresca estilo 007, digna do cenário da corrida espacial, os sombreamentos e a carga visual realista a cada frame “quadrinesco” em tela, ao mesmo tempo que tornam ação mais estática, previsível em acompanhar, surpreende pela hipnose realista do desenho 2D.

Para efeito de memória, humor e entretenimento, o estúdio Hanna-Barbera misturava uma medida de intelectualidade caricata para construir suas animações de sucesso. Jetsons apresentando um futurismo de possibilidades pela caricatura da idealização, Scooby-Doo brincando com os mistérios mais exagerados das imaginações infantis com o desvendar ainda mais caricato e Corrida Maluca, junto com Zé Colmeia e os Flintstones, são animações que anseiam por onomatopeias traduzidas em movimento gráfico. Esse caráter definiu tanto um padrão de tramas episódicas como o lúdico memorável em meio ao som e movimento com um 2D “frágil” em transição figurativa, mas impactante na ação. 

Diferente de tudo isso, ao menos na concepção de cada quadro de banda-desenhada, Jonny Quest se apresenta com um 2D encorpado, como se o espectador estivesse sendo preparado para ver balões de quadrinhos em tela ao invés de dublagens em bocas monótonas. A impressão inicial é uma mistura de embelezamento, com uma profundidade intensa no campo de dimensões gráficas da animação, porém apresentando uma inóspita sensação de sequenciamento de quadros aglutinados em um cenário estático. Mas nisso também consta a grande surpresa. Ao longo do piloto esse estranhamento vai se tornando uma linguagem própria, que define a história como potencial de novos efeitos averiguados num senso de realismo tanto de construção de universo como de personagens. Não há a ideia de suspensão de descrença tão trabalhada, há na verdade, uma busca pelo crível que vai determinar constantemente a quebra de expectativa no engate da aventura, ou até mesmo no que esperar no próximo frame calculado na concepção de Doug Wildey. 

Se a sugestão do estúdio de propor a Doug algo mais inspirado em 007 coloca o episódio no olho do lançamento de um foguete estadunidense, em meio ao conflito em águas antigas do mar Sargaço, que Colombo navegou, como cita o personagem Roger Race Bannon para jovem desbravador Jonny Quest, o mistério dos homens-lagarto e a arma destruidora de navios no mar esverdeado de algas e cemitério de embarcações só é efetivo pelo traço forte da ilustração. É a própria imagem vagarosa do movimento desses homens borrachudos esverdeados e o cenário rico em detalhismo que torna o mistério verdadeiro, incentivando ainda mais a espera pela ação digna de James Bond do ato final do episódio.

No entanto, existe algo significativo para que Jonny Quest seja a nomeação da série, não Roger Bannon, ou o pai de Jonny, o Dr. Benton Quest. A ideia central não é criar novas histórias aventurescas com mais realismo, e sim dar possibilidade de identificação infantil com Jonny a aprender sobre o mundo adulto, de descobertas tecnológicas, como o laser destrutivo de longo alcance, de idealizações futuristas e aventuras de largo alcance geográfico, antes só imaginadas, agora experimentadas. Então diminui-se o caricato, partindo de um conceito mais carregado de imagens, ao mesmo tempo que investe-se na ação mais elaborada que trate com esse meio visual mais estático. Porque o senso de movimento é característico do estúdio, como os feixes riscados de aceleração, mas essa movimentação da ação física e de perseguição em plano lateral clássico se torna mais aventuresca e surpreendente com essa antítese artística que promove uma nova linguagem. 

Nisso, o protagonista Jonny junto com seu bulldog Bandit chega mais próximo, na verdade, de As Aventuras de Tintim e menos das criativas caricaturas de Hanna-Barbera. A sensibilidade quanto ao perigo da peripécia de Jonny dá ênfase à conclusão imaginativa do público, criando um efeito emotivo ainda maior no princípio da aventura que é a façanha, como a surpresa do movimento diante de um cenário belamente imóvel, mas recheado de história. Junto a isso, tanto o realismo visual quanto da verbalização, como pode-se captar ironia nos diálogos dos personagens, evidencia o funcionalismo do 2D menos sombreado, mais caricatural, com as faces dispostas a mais movimentação da boca e dos olhos, vão diluindo o progresso narrativo na estrutura hipnótica da animação. Tudo isso torna o piloto tão significativo como um marco televisivo do esmero da linguagem sequencial, a dos quadrinhos, trazidos para a animação 2D para diferenciar dos desenhos animados  do estúdio Hanna-Barbera na maneira de se inculcar na memória do espectador.

Jonny Quest (Jonny Quest) – 1X01: The Mystery of the Lizard Men – EUA, 18 de setembro de 1964
Criação: Doug Wildey
Direção: Joseph Barbera, William Hanna
Roteiro: Joseph Barbera, William Hanna, Doug Wildey, Alex Lovy
Elenco: Mike Road, Tim Matheson, John Stephenson, Nestor Paiva, Don Messick, Vic Perrin, Doug Young
Duração: 25 min.

 

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