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Crítica | Jon Batiste: American Symphony

Uma sinfonia de amor.

por Kevin Rick
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Eu me deparei com o trabalho de Jon Batiste inicialmente como o líder da banda do The Late Show with Stephen Colbert, mas virei fã do artista após escutar o ótimo WE ARE, obra que venceu o Grammy de Melhor Álbum do Ano em 2022. Quem imaginaria que no mesmo dia que o artista recebeu 11 indicações para o Grammy daquele ano, ele seria surpreendido com a notícia de que sua esposa, Suleika Jaouad, estava com leucemia. Que loucura, não é mesmo? O melhor e o pior dia da vida de Batiste ao mesmo tempo. Se não bastasse, o cantor-compositor ainda estava lidando com o estresse de criar uma sinfonia para um grande show no Carnegie Hall.

O diretor Matthew Heineman entende, portanto, que o documentário é sobre extremos, algo que a própria esposa de Batiste cita em algumas partes do filme. Fazendo uma dicotomia entre a felicidade profissional e a tristeza pessoal do casal, o cineasta encontra como essência da produção a história de amor entre Batiste e Suleika, transformando uma obra que, em sua superfície, é sobre o processo de criação da sinfonia, mas que é, de maneira geral, um romance singelo e tocante sobre adversidades e como a arte pode ser uma forma de expressar esse turbilhão de emoções.

É quase contraditório como os fatos do documentário vão ficando maiores e maiores com prêmios de Grammy, álbuns e grandes espetáculos, mas Heineman continua puxando a produção para algo mais íntimo e por trás das cenas à medida que a carreira de Batiste progride junto da doença de sua esposa. As sequências dos shows são substituídas por cenas de videoconferência do casal; os momentos de glória de Batiste são interrompidos com as notícias hospitalares de Suleika; e o processo de criação do artista é colocado de lado para assistirmos a linha do tempo do romance, de quando se conheceram até o casamento.

Em alguns momentos o desvio do lado artístico é frustrante, porque existe uma curiosidade muito grande com a mente criativa de Batiste, sua incorporação da música sulista com sinfonias clássicas e a criação de um projeto que desafia um mundo artístico conservador, mas acabamos vendo pouco disso. Por diversos pedaços da fita, me peguei questionando algumas escolhas de Heineman, inclusive pensando que o cineasta poderia ter equilibrado melhor os aspectos da vida de Batiste, mas é quando o artista, no meio de sua apresentação no Carnegie Hall, fica tenso, respira e começa a tocar uma composição para sua esposa que entendi a condução do diretor. Nesse momento, não sabemos o processo técnico e criativo por trás da música, mas sentimos a emoção porque sabemos de onde vem a inspiração.

Se tenho uma reclamação sobre o documentário, é de que às vezes algumas escolhas de Heineman me soam manipulativas. Com a intenção de criar um romance dramático, é possível perceber que muitas sequências do casal são calculadas, como se estivessem dando uma performance. Acaba deixando a produção menos genuína, por mais que alguns desses shots cinematográficos sejam lindos, como a cena de Jon Batiste no mar ou então as diversas sequências com uma câmera de mão trêmula no quarto do casal. Uma das cenas finais conta com uma edição que até entrecorta a performance de Batiste com uma lição de um mentor, dando um toque de conclusão de arco de personagem.

De qualquer forma, American Symphony não deixa de ser bonito e autêntico por conta dessas escolhas. O documentário cria um espaço íntimo na vida de Batiste e sua esposa em um momento de obstáculos impossíveis e realizações espetaculares, o que nos ensina sobre os extremos que é viver e nos emociona com um romance que realmente representa os votos do matrimônio. Mais do que isso, porém, American Symphony retrata o poder da arte como canalização da nossa existência. Amor, dor, triunfo e medo todos na ponta de uma nota musical, fluindo dos dedos de um artista incrível.

Jon Batiste: American Symphony (American Symphony) – EUA, 29 de novembro de 2023
Direção: Matthew Heineman
Com: Jon Batiste, Suleika Jaouad, Stephen Colbert, Lindsey Byrnes, Louis Cato
Duração: 104 min.

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